Eco Nordeste está na final, como Mídia Independente, do Prêmio Megafone de Ativismo

Fotografia aérea onde há céu azul com nuvens brancas, vegetação verde, uma estrada. Em sua margem direita estrutura industrial com chaminé de cor vermelha e branca mais ao fundo e, na base da imagem, uma grande quantidade de carvão acumulada

Usina Termelétrica do Porto de Itaqui, em São Luís (MA), utiliza capacidade instalada de 360 MW, o que representa cerca de 40% do consumo de todo Estado do Maranhão | Foto: Camila de Almeida

Uma notícia inesperada encheu os corações de todEs que fazem parte da Eco Nordeste de alegria e da certeza da escolha do caminho a trilhar. O Prêmio Megafone de Ativismo anunciou os finalistas e, na categoria Mídia Independente, a Eco Nordeste é uma das cinco finalistas indicadas pela série de reportagens “Termelétricas no Nordeste”, com apoio do Instituto ClimaInfo, textos de Alice Sales, fotos de Camila de Almeida, edição de Maristela Crispim e design por Flávia P. Gurgel. A indicação ao prêmio se deu por parte do Instituto Verdeluz, por meio do projeto Clima de Urgência.

Na categoria foram indicadas também: o guia “Amazônia Legal e o Futuro do Brasil”, por Sinal de Fumaça; a reportagem em HQ “Um Povo, Três Massacres”, da Revista Badaró; o episódio “Crianças indígenas defendem demarcação de terra e autonomia sobre territórios”, do Podcast Radinho Bdf (Brasil de Fato); e o episódio “Ganhamos, porra!” do Podcast Medo e Delírio em Brasília.

Com o intuito de divulgar mais informações sobre o cenário em que prosperam usinas termelétricas em cidades da região, a Eco Nordeste, por meio de parceria com o Instituto ClimaiInfo, produziu a série de reportagens “Termelétricas no Nordeste”, que aborda os impactos socioambientais causados por termelétricas nos estados do Ceará, Maranhão e Sergipe. Em narrativas construídas sob a perspectiva de comunidades tradicionais impactadas, autoridades, ativistas e pesquisadores que se dedicam ao tema, a série traz à tona o que há por trás do funcionamento de geradoras de energia movidas a combustíveis fósseis e o lado não contado do desenvolvimento prometido por esses empreendimentos.

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A segunda edição do Prêmio Megafone de Ativismo é uma realização da coalizão de organizações que inclui Pimp My Carroça, Instituto Socioambiental (ISA), WWF Brasil, Greenpeace Brasil, Engajamundo, Hivos e Vozes Pela Ação Climática Justa (VAC).

O Prêmio pretende contribuir para aumentar a visibilidade das ações ativistas, fomentar a prática do ativismo como catalisador de transformação social e o surgimento de novos agentes no ativismo, principalmente jovens e mulheres, no debate e na ação do combate à crise climática e causas relacionadas. A premiação dá legitimidade aos ativismos no contexto político atual, tanto nos centros urbanos como no espaço digital, com foco principal em ativismo socioambiental, mas sem restringir-se somente a ele. Ao todo 70 trabalhos foram indicados e 14 serão premiados, em 14 categorias.

Surpresa e emoção

Homem negro usa óculos de grau, veste camisa rosa e bermuda jeans azul, sentado enquanto conversa de frente a uma mulher de cabelos castanhos compridos que usa camisa vermelha com listras brancas. Há uma câmera fotográfica em um tripé gravando a imagem do homem

Alberto Cantanhede, pescador da comunidade do Taim, é entrevistado pela repórter da Eco Nordeste, Alice Sales, em São Luís (MA) | Foto: Camila de Almeida

“A indicação foi uma surpresa para toda a equipe. E é gratificante saber que a série de reportagens vem sendo fonte de referência para estudos e projetos desenvolvidos sobre o tema. E principalmente, que tem tanta gente boa unida pela mesma causa. Chegar a essas comunidades, conhecer a realidade dessas pessoas de perto, ouvir e depois dar voz às histórias dessas famílias afetadas, nos motiva ainda mais a produzir um material como esse”, celebra a repórter Alice Sales.

E acrescenta: “durante as idas a campo pelos estados do Maranhão, Sergipe e Ceará, me chamou atenção a situação de insalubridade invisível em que as famílias dessas comunidades se encontram. E, ao mesmo tempo, são pessoas que possuem muita garra para lutarem contra a injustiça socioambiental que enfrentam e pela qualidade de vida em seus territórios”.

“Foi com muita emoção que recebemos esta notícia. O Jornalismo mudou muito. São imensos os desafios, principalmente de segurança financeira, jurídica e até física. As parcerias têm sido fundamentais, nesse sentido, para mídias digitais independentes como a nossa, ainda mais fora do Sudeste, que concentra as melhores oportunidades e redes de apoio. A Associação de Jornalismo Digital (Ajor), da qual a Eco Nordeste é co-fundadora, tem sido fundamental para a criação de possibilidades de crescimento e fortalecimento das nossas organizações, principalmente ao considerar as diferenças, inclusive regionais”, afirma Maristela Crispim, editora-chefe da Eco Nordeste e diretora-executiva do Instituto Eco Nordeste.

Parcerias

“Sem a parceria com o Instituto ClimaInfo não teríamos conseguido mostrar que no Nordeste, destacado pelo potencial para a produção de energias renováveis, há investimento em usinas termelétricas com todas as implicações socioambientais deste tipo de operação que, se considerarmos a situação do Planeta, deveriam seguir o caminho contrário, da extinção, para dar a chance de as gerações futuras poderem desfrutar de uma qualidade de vida melhor do que as previsões do IPCC nos mostram”, acrescenta.

“A indicação nos enche de alegria e de responsabilidade para continuar perseguindo nosso propósito de contribuir, por meio do jornalismo independente, para a construção de um mundo melhor para todEs”, finaliza.

“As mídias independentes são essenciais para o pleno exercício do controle social, fundamental para garantia dos espaços democráticos e para construção de uma sociedade mais justa e sustentável. A série de reportagens “Termelétricas No Nordeste” trouxe um pouco da realidade das comunidades locais impactadas pela expansão da indústria fóssil em nosso país, que acarretam uma série de impactos sociais e nos colocam na contramão dos esforços globais para combate das mudanças climáticas. Ficamos felizes com a indicação e esperamos que essa mensagem possa ganhar mais força e ser disseminada para toda sociedade”, afirma Carol Marçal, coordenadora de projetos do Instituto ClimaInfo.

Referência

“O Instituto Verdeluz tem um projeto chamado ‘Clima de Urgência: sem tempo para termelétricas’, que visa combater as atividades que agravam a crise climática no Ceará a partir de medidas de direito climático. No decorrer da nossa atuação, que já completou um ano, estamos constantemente estudando, pesquisando e nos informando sobre as termelétricas que existem no Ceará, seja por meio de artigos científicos, de matérias em jornais ou da sabedoria ancestral das comunidades tradicionais que vivem aqui. Nesse percurso, encontramos a série ‘Termelétricas no Nordeste’, da Agência Eco Nordeste e ficamos surpresas com a qualidade do material”, declara Sarah Lima, bióloga, mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFC) e ativista climática no Instituto Verdeluz.

E prossegue: “desde então, sempre consultamos o material, que traz informações extremamente importantes não só sobre as termelétricas no Nordeste, mas também sobre injustiça climática, racismo ambiental e transição energética, ou seja, conceitos fundamentais para entender a situação delicada do Nordeste com relação ao debate energético”.

E, para a nossa surpresa, conta que a iniciativa de indicar a série ao Prêmio Megafone Ativista foi inspirada por vários motivos: “Nós no Verdeluz temos uma enorme admiração pelo trabalho da Agência Eco Nordeste que sempre produz matérias incríveis e de alta qualidade sobre as problemáticas socioambientais da região, então a indicação é só mais uma maneira de reconhecer este trabalho essencial. Além disso, o conhecimento sobre os impactos das termelétricas na região Nordeste não deve se limitar somente às pessoas que moram na região, mas deve chegar ao Brasil inteiro, porque são terras tradicionais invadidas, intensificação da crise hídrica, emissão de quantidades exorbitantes de gases de efeito estufa, comunidades adoecidas pela poluição… Ou seja, uma série de crimes socioambientais que ocorrem e são financiados pelos diferentes níveis de governo”.

Indicação

“Acompanhamos muito essas pautas, reportagens, lideranças. Temos contato muito próximo com todas as lideranças entrevistadas para essa reportagem. Ela tem sido uma fonte de referência para nós desde o começo. Quando surgiu o prêmio e vimos as indicações, as categorias, essa de mídia independente pensamos que aquela reportagem da Eco Nordeste era perfeita para o prêmio. Ficamos felizes e estamos aqui na torcida. A Eco Nordeste tem perfil para ganhar esse prêmio e outros. Essa reportagem é muito boa e o trabalho de vocês como um todo é muito muito admirável. Estamos muito felizes por esse alinhamento de pautas, entre o nosso trabalho e o de vocês”, afirma Thayná Caiafo, coordenadora de Ativismo do Instituto Verdeluz e assistente de advocacy do projeto Clima de Urgência.

Lutas evidenciadas

Homem indígena, usa colar feito em sementes pretas e um cocar na cabeça feito em penas azuis e pretas. Ele também possui pinturas étnicas em seu rosto e está em uma paisagem com um espelho d’água e carnaúbas ao fundo

Paulo França Anacé, liderança indígena da etnia que sofre pressões por parte de empreendimentos entre os municípios de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, no Ceará | Foto: Camila de Almeida

“A série de reportagens feita pela Eco Nordeste fala a respeito de nossas lutas dentro do nosso território contra os grandes empreendimentos que vêm aqui poluir o nosso meio ambiente, nossa mãe terra. É importante essa disposição de colocar para toda a sociedade a nossa luta, a nossa existência e a nossa resistência para que possamos continuar dentro desse território”, destaca um dos personagens da reportagem, Paulo França Anacé

“Eu acho da maior importância a série de matérias que a Eco Nordeste fez sobre as termelétricas do Nordeste. Essa fonte de energia, seja na modalidade usando como combustível carvão ou gás ou mesmo outras é altamente poluente, nós temos problemas graves de poluição do ar que tem desdobramento. Esses poluentes que são emitidos na atmosfera acabam contaminando o solo, as águas, os peixes, como acontece em São Luís, por exemplo”, revela o ativista ambiental e advogado Guilherme Zagallo, que se dedica a estudos e lutas a favor das comunidades impactadas e do meio ambiente em São Luís, também fonte da série de reportagens.

E acrescenta: “Em 2022 nós tivemos 10.891 ultrapassagens dos padrões de qualidade do ar, não só pela geração termelétrica, mas como uma contribuição importante da geração de energia elétrica com queima de carvão mineral. Dessas 10.891 ultrapassagens, 589 chegaram ao nível de emergência que é o pior nível de emissão de poluentes que nós temos previsto na nossa legislação. Essa mistura da poluição do ar com a contaminação das águas e dos peixes eleva a ocorrência de doenças também em alguns casos”.

“Nós tivemos remoções de comunidades por conta da implantação desses empreendimentos e menciono aqui o caso da termelétrica operada pela Eneva que removeu famílias que residiam nesses locais. É muito importante que esse assunto esteja sendo discutido, não só aqui no Estado do Maranhão, mas em Sergipe e no Ceará, nos outros casos todos que foram abordados pelo conjunto de reportagens que foi produzido pela Eco Nordeste”, detalha.

“Muito importante mesmo que a gente lide com essa questão. Precisamos de energia sim, mas a que custo? A que preço? A que custo social? Quanto que a população teve que sofrer e está sofrendo, além das questões mais gerais, de gases de aquecimento global que impactam o Planeta como um todo? Os vizinhos desses empreendimentos tem uma péssima vizinhança e têm uma piora muito grande na qualidade de vida por conta do tipo de operação e emissão de poluentes causados por essas indústrias. É importante a gente celebrar e que outras matérias como essas sejam produzidas sobre a questão das emissões de poluentes industriais causados, não só no Nordeste, mas em outras regiões do País, acho que seria importante ampliar esse olhar, ampliar essa visão”, conclui.

Para Lucilene Luz, que vive na comunidade do Rio dos Cachorros, na zona rural de São Luís (MA), a série traz a importância de ressaltar e dar voz a essas famílias de comunidades tradicionais afetadas.

“Existe uma voz da gente que clama por uma vida melhor, no lugar onde aprendemos a plantar e pescar. Clama também pela necessidade de a gente viver no nosso campo, no nosso lar, sem que tenha interferências de grandes empreendimentos na nossa comunidade, e de viver sem poluição nos nossos rios. Os nossos avós relembram um pouco como a nossa comunidade era farta de peixes, e sempre falam que era muito bonito. Estamos perdendo isso. E pra que essa situação chegue às outras comunidades e outras pessoas nós precisamos dessa mídia”.

Mais denúncias

“Quando a Eco Nordeste veio nos visitar e ver essa destruição que essa termelétrica vem fazendo em nosso território pesqueiro e também em diversas comunidades tradicionais, viram que nós já perdemos nosso território pesqueiro e que corremos o risco de supressão das comunidades que estão no entorno da Termelétrica. Já fomos informados que haverá uma outra tubulação de gás que deverá ter capacidade de uma média de 18 milhões de metros cúbicos por dia de gás, que passará pela termelétrica para o Sistema Nacional de Gás. Nós estamos agora cada vez mais apreensivos e é bom que se divulgue o que está acontecendo aqui para que a gente não seja mais atingido. Não podemos baixar a cabeça senão atropelam todos nós”, informa um outro personagem da série, Robério da Silva, pescador e líder comunitário da Comunidade Quilombola de Pontal da Barra, em Barra dos Coqueiros (SE).

Confira a série de reportagens: Termelétricas no Nordeste

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