Desafios para desenvolvimento na APA do Delta do Parnaíba

Esta é a quinta de uma série de matérias produzidas pela Eco Nordeste a partir da participação na Brazil Energy Conference, em Teresina

A imagem mostra uma paisagem natural com dunas de areia clara em primeiro plano, um rio sinuoso ao centro e uma densa faixa de mata verde ao fundo, sob um céu azul com algumas nuvens brancas
Situado entre o Piauí e o Maranhão, Delta do Parnaíba abriga rica biodiversidade e comunidades tradicionais que vivem da pesca artesanal e da coleta de mariscos | Foto: Líliam Cunha

O Delta do Parnaíba, situado entre os estados do Piauí e do Maranhão, é uma das poucas formações em delta em mar aberto do mundo. Reconhecido como Área de Proteção Ambiental (APA), ele abriga uma biodiversidade singular, com presença de manguezais, dunas, campos alagados, recifes e estuários que são berço para centenas de espécies de peixes, crustáceos, aves migratórias e tartarugas marinhas. O local também é lar de comunidades tradicionais que vivem da pesca artesanal e da coleta de mariscos. Mas essa rica diversidade se vê ameaçada pela expansão da atividade portuária planejada para a região.

O projeto do Porto de Luís Correia, sob responsabilidade da Companhia Porto Piauí, pretende transformar a pequena costa do Estado em um hub logístico com integração rodoviária, ferroviária e hidroviária para conectar o interior do Estado a mercados internacionais. Segundo Igor Pontes, diretor de desenvolvimento de negócios da companhia, “a intenção é construir o primeiro porto verde do Brasil, com diretrizes sustentáveis desde a identidade visual até as ações de engenharia”.

Pontes afirmou que a Companhia Porto Piauí possui uma vice-presidência específica para sustentabilidade e que o projeto está sendo construído em diálogo com as comunidades e exigências rigorosas do licenciamento ambiental. “Seria leviandade dizer que não haverá impactos. Toda infraestrutura gera externalidades. Mas queremos minimizá-las. Hoje temos condição de fazer algo bem feito porque estamos partindo do zero. Não há outro porto verde sendo construído no Brasil”, assegurou.

Porém, a visão de pesquisadores é outra. O professor Francisco Soares, da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA/UFPI), acredita que o projeto traz riscos graves. “Não acredito que o porto será finalizado. Ele foi construído ignorando as correntes marinhas. Isso causa assoreamento contínuo e necessidade de dragagens constantes. Mas se um dia operar, certamente afetará os ciclos de tartarugas, a flora de algas e a turbidez da água, comprometendo toda a cadeia alimentar”.

Soares alerta ainda para a possibilidade de vazamentos de combustíveis e bioinvasões provocadas por organismos trazidos nos cascos dos navios: “o litoral do Piauí é pequeno. Um acidente de grande proporção pode causar danos irreversíveis em poucas horas. A gestão de riscos precisa ser impecável”.

Em nota enviada à Eco Nordeste, o diretor de sustentabilidade da Companhia Porto Piauí, Daniel Guimarães, informou que os estudos de impacto ambiental estão em andamento, com coleta de dados do ambiente aquático e simulação de cenários. A empresa afirma estar em diálogo com comunidades locais, incluindo colônias de pescadores e entidades como o Instituto Tartarugas do Delta e o próprio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Segundo Guimarães, o Terminal Pesqueiro, primeira etapa do empreendimento, já gerou benefícios como a retirada de mais de 5 toneladas de lixo do leito do Rio Igarassu e a recuperação da atividade pesqueira local. “Mais do que infraestrutura, buscamos um modelo de desenvolvimento que concilie competitividade logística com responsabilidade socioambiental”, afirmou.

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* A repórter acompanhou a Brazil Energy Conference a convite dos organizadores do evento

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