Por Isabelli Fernandes
Colaboradora
A Ilha de Krakatoa, na Indonésia, já foi palco de uma erupção devastadora, no ano de 1883. Relatos afirmam que o som da explosão pôde ser ouvido a 5 Km de distância do ponto de origem. O responsável por esse fato histórico é o Vulcão Krakatoa, e sua demonstração de força foi tão devastadora que ocasionou uma série de tsunamis, atingindo regiões no entorno. Os territórios de Java e Sumatra foram alcançados.
Após a explosão submarina do vulcão original, formou-se o Anak Krakatau (também podendo ser chamado Anak Krakatoa), que em tradução livre significa “Filho de Krakatoa”. As erupções deste vulcão acontecem desde 1927, dessa forma foi possível aumentar o nível em que se encontrava o antigo Krakatoa. Segundo Sérgio de Castro Valente, doutor em Geoquímica e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Modelagem e Evolução Geológica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), atualmente, a altura dele é de 300 metros acima do nível do mar, aproximadamente.
Ao longo dos anos, o Anak Krakatoa não fez um grande “barulho” em suas aparições e não causou estragos até a maior parte de 2018. Contudo, antes de o ano terminar, um colapso submarino foi o causador de uma tsunami que atingiu a Ilha de Java. Esse episódio provocou a morte de 430 pessoas e deixou inúmeros desabrigados.
Em 2020 foi possível testemunhar uma grande erupção do filho de Krakatoa, que lançou a mais de 500 metros de altura uma cortina de fumaça e cinzas. Cidadãos da cidade de Jacarta, capital da Indonésia, afirmam que foi possível ouvir o som das explosões, informação que não foi confirmada pelas autoridades locais. A cidade é localizada a cerca de 150 Km do ponto de origem do vulcão. Até o momento não há mortes registradas.
Ao todo foram duas explosões: a primeira durou cerca de 1 minuto e a segunda, 37. Apesar de a nova erupção não ter causado danos ou vitimado pessoas, uma das grandes preocupações é o que esta atividade poderá ocasionar. “Em 2020, uma das maiores complicações devido à erupção do Anak Krakatau sem dúvidas é o colapso de parte do vulcão, que pode desencadear uma (ou várias) tsunamis novamente”, explica Sérgio Valente.
Erupções vulcânicas existem há milênios e fazem parte da história de muitos países, mas será que todos sabem o que causa tamanha violência? Primeiro se faz necessário explicar porque esse evento ocorre. Segundo Priscila Brito, mestranda em geoquímica pela UFRRJ, a causa das erupções se dá, na maioria das vezes, ao movimento das placas tectônicas no perímetro onde encontra-se o vulcão.
“Erupções vulcânicas podem ser desencadeadas por vários fatores, desde um terremoto nas proximidades de um vulcão até mudanças na composição química do magma na câmara magmática. Mas a principal dinâmica envolvida é de fato a convergência das placas tectônicas”, afirma.
Placas tectônicas e a formação de magma
“As placas, por sua vez: (…) são a ‘casca’ do planeta Terra. Nós vivemos sobre estas placas e elas não são somente os continentes: toda a superfície da Terra, inclusive o fundo dos oceanos, é dividida como um grande ‘quebra-cabeças’”, explica a geóloga.
Essa “casca” não é responsável apenas pela explosão, ela também participa do surgimento do magma. Entre duas placas tectônicas existe um limite conhecido como “convergente”: que é quando essas duas placas se chocam e a porção mais densa afunda indo em direção ao interior da terra. Dessa forma a pressão e a temperatura sofrem mudanças que geram a fusão das rochas envolvidas nessa situação.
É necessário pontuar que “magma” e “lava” não são, necessariamente, a mesma coisa, mesmo tendo a sua origem no interior dos vulcões e ficando alojadas nas câmaras magmáticas. A lava, na realidade, é o magma expelido durante a erupção. Esse material fica alocado no interior do vulcão até que exista uma combinação de pressão e densidade para que forme-se uma rota de escape.
Quando acontece a erupção, o vulcão não expele apenas lava pela chaminé. Nesse processo existe muito vapor de água e gases. E além desses materiais voláteis, também é possível que o magma torne-se sólido rapidamente quando entra em contato com a atmosfera. “Todo esse material forma o que chamamos de ‘coluna de erupção’, que, dependendo do tipo de vulcão e da composição do magma (entre outros fatores), pode chegar a ter mais de 55 Km de altura”, comenta Priscila Brito.
Felizmente é possível dizer que na atualidade existem meios para prever uma atividade desse porte. Esse monitoramento é feito por meio de medição de temperatura, sismos e emissão de gases.
Benefícios x malefícios
Os gases que são lançados no momento da erupção são tóxicos. “Quando a erupção ocorre debaixo d’água, por exemplo, os gases se dissolvem parcial ou totalmente, o que provoca a acidificação da água”, explica Priscila. Dessa forma altera o pH da água, desequilibrando a sua composição química e tornando difícil a sobrevivência de animais nesse ambiente.
Esse processo foi o responsável por uma das maiores extinções de animais marinhos. De acordo com um estudo publicado na revista Science, em 2015, há aproximadamente 250 milhões de anos, a atividade vulcânica foi responsável por matar quase a totalidade da vida marinha, cerca de 90% das espécies. Além disso, a lava, as formações rochosas e as cinzas lançadas por meio da erupção podem atingir animais terrestres e dizimar plantações.
Os vulcões, no entanto, não proporcionam apenas destruição, como diz Sérgio de Castro Valente, “após alguns anos, as cinzas vulcânicas tornam os solos nos arredores de vulcões regiões extremamente férteis”.
O Krakatoa
O vulcão localizado na Indonésia não era notícia mundial desde 1883, quando teve uma violenta erupção, matando cerca de 36 mil pessoas. Existem relatos que afirmam este como sendo causador da perda de audição de alguns que estavam a quilômetros do local, sendo considerado o barulho mais alto que se tem notícia.
A explosão pôde ser ouvida a 5.000 Km de distância. Em entrevista concedida à BBC, em 1946, Sidney Baker, que fazia parte dos tripulantes de uma embarcação, comentou “As reverberações das explosões foram inacreditáveis, é difícil descrever o barulho e o caos que eu presenciei”.
Em entrevista à rede BBC, o autor do livro “The Day the World Exploded”, Simon Winchester, comenta que depois da erupção foi possível notar diferença no céu. “[…]Teve um pôr do sol tão intenso em Poughkeepsie, uma cidade à beira do Rio Hudson, no Estado de Nova York, que os bombeiros enviaram carruagens com água achando que havia um incêndio na beira do rio. Chegando ali, viram que não havia fogo algum, apenas esse pôr do sol extraordinário. E hoje, muitos especialistas estão convencidos de que o famoso quadro “O Grito”, de Edvard Munch retrata um céu de intenso laranja e roxo, que teria sido inspirado nesse céu”
Anel de fogo do Pacífico, o lar dos vulcões
A indonésia faz parte do conjunto de países (Estados Unidos, Filipinas, Japão, entre outros) que integram a área com a maior taxa de atividade sísmica do mundo. Onde estão localizados três dos vulcões classificados como mais ativos do mundo, o Anel de Fogo possui de 40 quilômetros de extensão. Essa região é responsável por volta de 90% dos terremotos do Planeta, ao todo a região abriga 450 vulcões.
Os 10 vulcões mais perigosos da América Latina
- Popocatépetl – México
Com 5.452 metros de altura, é um dos vulcões mais ativos e, portanto, um dos mais monitorados do México. Também conhecido com “Popo” ou “Don Goyo”, fica a 70 Km da Cidade do México e uma erupção maior é capaz de afetar aproximadamente 25 milhões de pessoas. Desde 1994, entrou numa fase de atividade com emissões de lava e explosões de cinzas. Em 2016, uma nuvem de cinza de 3 Km de altura colocou em alerta o Estado de Puebla. - Colima – México
É considerado o vulcão mais ativo do México. Nos últimos anos, expeliu fumaça e material incandescente várias vezes. Com 3.280 metros de altura, fica entre os Estados de Jalisco e Colima. Entre 2015 e 2016, sua atividade provocou uma intensa nuvem de cinzas que forçou a retirada de comunidades vizinhas. - Turrialba – Costa Rica
Cravado no centro do país, Turrialba fica a 60 Km de San José, a capital costa-riquenha. Em setembro de 2016, registrou sua maior erupção em décadas, espalhando uma nuvem de cinzas por aldeias locais. Desde então, tem expelido, com frequência, cinzas, gases e material incandescente. - Galeras – Colômbia
Na Colômbia, o Galeras é um dos vulcões mais ativos do país. Em 1993, entrou em erupção e matou um grupo de cientistas e turistas que estava dentro dele. Durante os últimos anos, tem se mantido em atividade constante, mas com erupções pequenas, expelindo cinzas e fumaça ocasionalmente. - El Nevado del Ruiz – Colômbia
Segundo o Serviço Geológico da Colômbia, ele apresenta uma atividade sísmica regular e também expele cinzas com frequência. El Nevado del Ruiz, de 5.364 metros e localizado na zona cafeteira do país, provocou uma das piores tragédias naturais da história colombiana em 1985. Ele entrou em erupção e matou mais de 25 mil pessoas em Armero. - Cotopaxi – Equador
O vulcão Cotopaxi tem 5.897 de altura e está localizado a 50 Km ao sul de Quito, a capital equatoriana. Apesar de a última grande erupção do Cotopaxi ter ocorrido em 1887, em 2015 ele lançou grandes nuvens de cinzas e colocou o país em alerta. Desde então, passou a ser um dos vulcões mais monitorados da região. - Tungurahua – Equador
O Tungurahua tem 5.019 metros de altura e está a 180 Km ao sul de Quito. Ele se mantém ativo desde 1999, alterando períodos de relativa calma com outros de maior intensidade. - Ubinas – Peru
O vulcão mais ativo do Peru fica no Departamento (Estado) de Moquegua, ao sul do país, e é vigiado constantemente pelo Instituto Geológico (Ingemmet). Entre 2006 e 2009, registrou seu último período de alta atividade, com explosões moderadas e expulsão de cinzas e fumaça. Os gases tóxicos liberados nas erupções causaram danos significativos em plantações próximas ao vulcão. A cidade de Arequipa, com cerca de 1 milhão de habitantes, fica a 70 Km do vulcão. - Villarrica – Chile
No Chile, estima-se que existam cerca de 95 vulcões ativos. O Villarrica, de 1.847 metros de altura, está localizado numa área turística ao sul do país. Ele é considerado um dos mais ativos do Chile. Depois de 15 anos sem registrar atividades importantes, ele entrou em erupção em março de 2015, espalhando cinza e lava a mais de 1 mil metros de altura. - Calbuco – Chile
Depois de quatro décadas de calmaria, o vulcão Calbuco, no sul do Chile, entrou em erupção de forma inesperada em 2015. A coluna de cinzas expelida pelo vulcão obrigou as autoridades locais a declarar alerta vermelho e a retirar mais de 4 mil pessoas dos arredores.
Fonte: BBC Brasil
Bibliografia
https://www.bbc.com/portuguese/geral-50308295
https://www.bbc.com/portuguese/internacional-44367592
https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/04/vulcao-na-ilha-de-krakatoa-na-indonesia-entra-em-erupcao.shtml
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/04/11/vulcao-krakatoa-entra-em-erupcao-na-indonesia.ghtml
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/07/29/terremoto-na-indonesia-pais-esta-no-circulo-de-fogo-do-pacifico-area-com-maiores-tremores-do-mundo.ghtml
https://www.dn.pt/mundo/indonesiatsunami-vulcao-filho-do-mitico-krakatau-provoca-nova-tragedia-10359947.html
https://exame.abril.com.br/tecnologia/estudo-culpa-acidificacao-dos-oceanos-pela-maior-extincao-em-massa-da-terra/
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/ja-existiram-vulcoes-no-brasil/