Essa é a terceira e última matéria de série sobre intercâmbio entre agricultores familiares do Semiárido brasileiro em países com condições climáticas semelhantes
Por Centro Feminista 8 de Março (CF8)
Intercâmbio das Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), possibilita aos povos da América Central a troca de experiências para enfrentar as dificuldades de acesso à água e produção de gás.
Depois das visitas guatemaltecas ao Brasil, na segunda visita da delegação brasileira à Guatemala, foram realizadas oficinas de construção de Tecnologias Sociais (TS) para a Convivência com o Semiárido. Desta última experiência, realizada entre 4 e 15 de novembro deste ano, destaca-se a participação e o engajamento das mulheres, seja na agricultura, na articulação ou na construção das tecnologias sociais. Neste mesmo período, outra delegação da ASA esteve em El Salvador para realizar as oficinas de implementação das mesmas tecnologias.
El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua estão dentro da região chamada de Corredor Seco, uma zona da eco região da floresta tropical seca da América Central. São mais de um milhão de famílias que vivem da agricultura de subsistência, com acesso limitado aos serviços básicos de água, saneamento, saúde, educação, e em altos níveis de pobreza.
Em meio a todas estas condições, pensar e construir tecnologias sociais que contribuam com a agricultura camponesa e possibilitem melhoria de vida para a população significa intervir diretamente na segurança alimentar e na autonomia de vida das pessoas, especialmente das mulheres.
“Nós, as mulheres, somos mais prejudicadas com as precariedades porque nós estamos dentro da cozinha e cuidamos das crianças”, é o que disse Glória Diaz, da Associação de Mulheres Progressistas da Guatemala.
Glória explicou que foi por meio da organização delas que a comunidade chegou a este intercâmbio: “Somos 162 mulheres organizadas nos empreendimentos de costura, artesanato e produção de hortaliças na luta para trazer desenvolvimento para a comunidade”, contou.
Na cidade de Chiquimula, a delegação brasileira composta por Naidison Baptista, Antônio Barbosa, Maria Aparecida, Lindinalva Martins e Ivi Aliana se dividiu nas construções de um biodigestor para transformação de detritos de bovinos em gás e adubo, na casa de Catalina, onde também funciona o Centro de Aprendizagem Rural, na comunidade de El Palmar; e uma cisterna de 16 mil litros, para guardar a água da chuva, na Escola Oficial Rural Mixta Plan del Jocote, em Plan del Jocote Maraxcó, onde estudam 86 crianças entre quatro e seis anos.
Foram 15 dias de muitos aprendizados em que Maria Aparecida (ASA-SE) foi responsável pela capacitação em Biodigestor e Lindinalva Martins, da ASA-RN, ministrou oficina de construção da cisterna, mudando a vida das mulheres e das comunidades.
Sobre a cisterna, Rousaura Dias revelou estar muito feliz: “Este trabalho que estão fazendo vai beneficiar as crianças e as mulheres que vão fazer a comida, a escola, mas também toda comunidade que aprende o novo conhecimento de guardar a água”.
Fátima Brandalise, oficial da FAO Panamá, destacou que essa cooperação com o Brasil, com a ASA leva novas tecnologias que não eram conhecidas na América Central e pode mostrar para essas pessoas que existem tecnologias sociais que podem mudar suas vidas.
Ela ressalta, ainda, a participação das mulheres: “Elas demandam, necessitam e também vão buscar. São parceiras nossas na luta por investimento para outras comunidades e outras famílias para não terem que ir buscar tão longe a água que trazem nas cabeças e nas costas para cozinhar. Agradecemos também às mulheres do Brasil que vieram capacitar os homens que apoiam os grupos de mulheres organizadas da Guatemala”.
Sobre as oficinas, Gustavo Garcia, técnico da FAO, explicou que os pedreiros que participaram da capacitação são de vários lugares da Guatemala a fim de que possam aplicar o que aprenderam nas diversas regiões do país e agradeceu à ASA Brasil pela oportunidade de trocar experiências, acreditando que as trocas devem seguir.
Para Lindinalva Martins, do Centro Feminista 8 de Março (CF8), a dificuldade da fala foi superada a cada dia de construção e que o melhor das oficinas é ver o interesse em aprender e saber que a cisterna vai contribuir para aquela e tantas outras comunidades guatemaltecas como contribui no Brasil.
Naidison Baptista, da coordenação executiva da ASA Brasil, pelo Estado da Bahia, ressaltou o marco da implementação da primeira cisterna e primeiro biodigestor na Guatemala: “São experiências importantíssimas. Nós estamos mexendo com o significado da vida deles quando as mulheres vão deixar de carregar água e buscar lenha”.
“Para nós do CF8, que fazemos parte da ASA, também foi uma aprendizagem conhecer as mulheres agricultoras e suas condições de vida, trabalho e luta por um mundo mais justo para mulheres e homens. Acreditamos que este intercâmbio FAO – ASA seja semente para multiplicar as experiências e adaptações que cada lugar exige”, finalizou Ivi Aliana.
Matéria editada a partir de original publicado pela Asacom