O Brasil é uma das referências mundiais em Agroecologia, com o maior número de cursos, de organizações sociais e de produtores que trabalham com a proposta de uma Agricultura Sustentável | Foto: Maristela Crispim

O conhecimento em Agroecologia contribui para o desenvolvimento de alternativas sustentáveis para preservar os recursos naturais e favorecer a produtividade da terra. A partir de 2019, os estudos nessa área poderão ser aprofundados numa perspectiva interdisciplinar, no primeiro Doutorado Profissional do Brasil em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial. Com sede no Semiárido, o curso é fruto de uma parceria interinstitucional que elaborou a proposta, aprovada no dia 6 de dezembro pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

A ideia do doutorado surgiu a partir da discussão da necessidade de uma melhor formação para professores, profissionais da área e produtores que lidam com o tema. Um Grupo de Trabalho (GT) foi formado para debater os detalhes do projeto, envolvendo instituições de ensino e pesquisa, como universidades e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Organizações Não-Governamentais (ONGs) e associações da sociedade civil.

A proposta aprovada especifica que o doutorado será realizado pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), sede e coordenadora do curso. Já a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) funcionarão como polos em seus campi. Outras instituições de ensino do País poderão ser agregadas ao programa de pós-graduação, surgindo como novos polos do doutorado.

A seleção para ingressar no curso será divulgada por meio de editais, já em 2019, com especificações sobre o número de vagas disponíveis em cada universidade polo. Também serão disponibilizados os prazos e outros detalhes do processo seletivo nesses documentos.

Referência mundial

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Semiárido Paola Bianchini, o Brasil é uma das referências mundiais em Agroecologia, com o maior número de cursos, de organizações sociais e produtores que trabalham com a proposta de uma Agricultura Sustentável.

“Mesmo com todo esse contexto, nosso País não tinha um doutorado profissional e interdisciplinar na área. As pessoas que saíam do Brasil para se capacitar agora têm a oportunidade de ficar no Nordeste. Temos 50 núcleos de estudos em Agroecologia na região e por isso a importância de o curso estar localizado no Semiárido”, comenta.

Paola salienta a importância do apoio de representações da sociedade civil na consolidação do projeto e aprovação da proposta junto à Capes. “Escreveram cartas falando da necessidade da criação do doutorado aqui e as anexamos ao processo. Foi possível perceber que os produtores buscam na academia um suporte para toda a gama de práticas e conhecimentos que as organizações e os agricultores já possuem”.

Interdisciplinaridade

Além de abranger os sistemas de produção, a Agroecologia também envolve dimensões socioculturais dos lugares e pessoas envolvidas, com raízes nos modos de vida dos agricultores, indígenas e comunidades tradicionais ao redor do mundo. Tem como princípios, ainda, o direito aos recursos naturais, a economia solidária, a justiça ambiental, a soberania alimentar e envolve temas como igualdade de gênero, comunicação e cultura.

O professor Helder Freitas, da Univasf, acredita que, pela amplitude das áreas que estão inseridas nesse contexto, é importante a oferta de um curso na perspectiva da interdisciplinaridade, uma vez que essa proposta vai ao encontro das necessidades e realidades da Agroecologia.

“Com esse caráter interdisciplinar, o doutorado permite uma articulação maior de diferentes tipos de trabalho, entre várias áreas, e esse é o grande potencial do curso. A partir daí, a gente pode conseguir dar respostas para os vários desafios que a Agroecologia apresenta no Brasil e no Nordeste”, reforça.

O doutorado também permite o estabelecimento de um diálogo entre os saberes populares e científicos. “É uma característica da Agroecologia a troca de conhecimento, tanto no campo dos sistemas de produção como nos saberes tradicionais, na Agrobiodiversidade. Tudo isso se potencializa do ponto de vista de pesquisa, de conhecimento e de sistematização”, completa o professor.

Parceria Interinstitucional

Além da Univasf, Uneb e UFRPE, o doutorado profissional contará com o suporte de outras instituições de pesquisa e ensino, entre elas o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE) e a Embrapa Semiárido. A parceria visa contribuir com a orientação e co-orientação dos estudantes, assim como também busca auxiliar na realização de projetos em conjunto.

“Na Embrapa, por exemplo, os alunos poderão participar dos projetos de pesquisa da Empresa e desenvolver suas teses nesse doutorado. A Empresa também tem um papel de articuladora, uma vez que diferentes unidades possuem outros núcleos de Agroecologia. Então, é preciso mobilizar essa rede de pesquisadores para a participação no programa, tanto dando aula, orientando trabalhos, como construindo propostas”, explica Paola.

Mais informações: www.embrapa.br

Matéria editada do original

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