Os resíduos estrangeiros são cada vez mais comuns na costa do Ceará | Fotos: Juaci Araujo
Fortaleza – CE. Lixo marinho é todo detrito gerado por atividade humana que é jogado propositalmente ou cai por acidente nos mares e oceanos, contribuindo para o aumento da poluição marinha. São responsáveis por diversos problemas ambientais na atualidade. Grande parte dele é composta por materiais plásticos.
No Brasil, desde de 2001 o lixo ultramarino começou a ser monitorado, pela Associação Brasileira de Combate ao Lixo no Mar (ABLM), antiga Global Garbage Brasil. No Ceará, começou a ser catalogado em 2010. Os itens mais encontrados em praias brasileiras são os plásticos de várias origens, com destaque para as garrafas pets, embalagens, bitucas de cigarro e apetrechos de pesca.
No Ceará, nos últimos cinco anos, tem sido encontrado lixo ultramarino em todos os 573 Km do litoral. Os mais frequentes vêm da Coréia, França, EUA e Arábia Saudita.
O Projeto Limpando o Mundo Ceará tem como missão promover a Educação Ambiental para a proteção dos oceanos e espécies ameaçadas de extinção no combate ao “lixo marinho”, sob a coordenação geral de Juaci Araujo de Oliveira, biólogo, educador ambiental que há 16 anos vem trabalhando em promoção e organização de campanhas educativas de limpeza de praias em conjunto com uma rede de instituições e voluntários.
Segundo ele, os plásticos estão associados à perda de biodiversidade devido ao grande número de espécimes de peixes, aves, mamíferos e quelônios encontrados mortos por ingestão do material, desequilibrando populações que são importantes tanto do ponto de vista econômico como para a manutenção das cadeias tróficas que sustentam a biodiversidade das comunidades costeiras e oceânicas.
Além disso, os plásticos podem se degradar em microplástico, sendo esse um dos maiores problemas no momento, pois não existe ainda tecnologia para tratar esse contaminante. Poucos estudos foram realizados para que se possa entender a dimensão dos impactos negativos causados pelos microplásticos seja para os seres humanos ou para o equilíbrio das comunidades marinhas.
“Sabemos que já foram detectados em toda a cadeia trófica do Ártico à Antártica e também sabemos que as partículas plásticas podem se adsorver aos contaminantes químicos como partículas de agrotóxicos, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) derivados do petróleo – alguns carcinogênicos, que atravessam os tecidos vivos e se alojam nos organismos promovendo a bioacumulação nos indivíduos que estão em contato ou se alimentam de peixes e frutos do mar contaminados”, explica.
Acrescenta que, além disso, esses contaminantes podem modificar os ciclos endócrinos das populações marinhas interferindo com seus ciclos reprodutivos e consequentemente na manutenção de estoques pesqueiros e de frutos do mar. Vale também destacar que a poluição marinha, principalmente de plásticos e apetrechos de pesca causam grandes prejuízos à navegação pelos danos causados aos equipamentos dos barcos e navios.
O lixo marinho não afeta somente a fauna, mas também a economia das regiões costeiras, pois tem impacto direto no turismo e na atividade pesqueira da região. Entre os impactos na pesca estão à presença de resíduos flutuantes e a ocorrência de lixo nas redes e anzóis, que diminuem a produção e até impedem a própria atividade. A indústria do turismo pode sofrer restrições pelo impacto sobre o valor cênico e o potencial recreativo dos locais contaminados.
A cada ano, mais de 8 milhões de toneladas de plásticos chegam aos oceanos, causando estragos na vida selvagem marinha, indústria da pesca e turismo, e custando pelo menos 8 bilhões de dólares em danos aos ecossistemas marinhos. Ainda, cerca de 90% de todo o lixo flutuando em nossos oceanos é plástico.
Algumas estimativas apontam que, se continuarmos o ritmo com que descartamos itens como garrafas plásticas, sacolas e copos depois de um único uso, até 2050, os oceanos terão mais plásticos que peixes e estima-se que 99% das aves marinhas terão ingerido o material.
Outros impactos
- Quando chegam às praias, em grande quantidade, podem deixá-las impróprias para o uso dos banhistas
- Prejudica a vida nos ecossistemas marinhos, sendo responsável pela morte de peixes, crustáceos e outras espécies marinhas. O lixo marinho é o causador da morte anual de cerca de 100 mil mamíferos marinhos e 1 milhão de aves marinhas.
- Os detritos mais pesados ficam acumulados no fundo do mar, dificultando a sobrevivência dos animais marinhos que habitam estes ambientes.
- Acúmulo de detritos em regiões de mangues pode ameaçar diversas formas de vida, que habitam estes tipos e bioma aquático.
- Detritos podem enroscar em partes de embarcações, provocando acidentes ou inatividade.
Os mais encontrados
- Garrafas, tampas e lacres de plásticos
- Garrafas de vidro
- Sacolas e sacos plásticos
- Embalagens de produtos de higiene, alimentação, cosméticos, limpeza e lubrificantes derivados de petróleo
- Pedaços de ferro e outros metais
- Linhas, cordas, isopor, boias e redes de pesca descartadas
- Bitucas de cigarros
- Lâmpadas
- Canudos de plástico
Equipamentos usados em embarcações que são descartados nas águas.
Soluções e recomendações
- Aumento da fiscalização marinha para coibir o lançamento de lixo nos mares e oceanos.
- Conscientização e educação ambiental de trabalhadores de embarcações, turistas e moradores de áreas próximas aos mares e oceanos.
- Aplicação de multas elevadas e ou outras punições aos que forem pegos poluindo as águas dos mares e oceanos.
- Ações constantes voltadas para a limpeza de praias para que o lixo acumulado não seja levado para alto mar.
- Estabelecimento de sistemas eficientes de manejo correto do lixo marinho.
- Vale destacar a necessidade de centros de vigilância preparados para prevenir a contaminação dos ecossistemas costeiros como mangues e estuários – colocação de ecobarreiras em caso de derramamento de petróleo no mar.