Por Alice Sales
Colaboradora
Fortaleza – CE. Em tempos de isolamento social como medida de prevenção contra a Covid-19, uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), por meio do Laboratório de Conversão Energética e Emissões Atmosféricas (Laceema), vinculado aos Laboratórios Associados de Inovação e Sustentabilidade (Lais)/Uece, aponta que durante este período de quarentena, houve uma melhoria na qualidade do ar, em Fortaleza. Segundo o estudo, o fato se deve à redução de atividades sociais, industriais e comerciais, associada à redução da circulação de veículos automotores.
A pesquisa consiste no monitoramento da qualidade do ar durante o isolamento social, no qual o acompanhamento é feito sistematicamente na entrada do Campus do Itaperi. Um dos poluentes observados é o ozônio, um gás que, na camada atmosférica mais próxima da superfície terrestre, ou seja, na troposfera, se comporta de maneira diferente de quando localizado na estratosfera (acima de 40 km da superfície), onde forma a camada de ozônio, responsável por proteger a Terra da radiação ultravioleta. A presença de ozônio troposférico em contato com pessoas e animais pode ser prejudicial à saúde, diminuindo os mecanismos de defesa do sistema respiratório, podendo causar inflamações nos pulmões.
A coordenadora do Laceema e doutora em engenharia mecânica, professora Mona Lisa Moura, explica que o ozônio é emitido principalmente por carros, ônibus e outros veículos automotores. “O ozônio é um poluente secundário, ele não é emitido diretamente na atmosfera, e sim por meio de reações fotoquímicas. Os principais compostos que formarão ozônio na atmosfera vêm por meio do processo de combustão, por exemplo, de veículos automotores”.
Segundo a pesquisadora, é fato que foi observado uma melhoria na qualidade do ar em Fortaleza durante este período de isolamento social, mas ainda é necessário observar dados quantitativos.
“Estamos realizando esse monitoramento, agora remotamente, para que possamos comparar valores. Por exemplo: comparamos um dia específico durante o isolamento social com os anos de 2018 e 2019. Observamos mudanças significativas na redução da concentração do ozônio na atmosfera (aproximadamente 50%), nos horários entre 6h e 13h do mesmo dia”, explica.
7 milhões de mortes por ano
Mona Lisa Moura ressalta que a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem sempre destacando a necessidade de reduzir as emissões de poluentes como o carbono negro e o ozônio, dentre outros que não só contribuem para as mudanças climáticas, como também provocam mais de 7 milhões de mortes associadas à poluição do ar por ano.
“Além disso, os padrões de qualidade do ar, segundo publicação da OMS em 2005, variam de acordo com a abordagem adotada para balancear riscos à saúde, viabilidade técnica e econômica, assim vários outros fatores devem também ser considerados, como os políticos e sociais que, claro, dependem, por exemplo, do nível de desenvolvimento e da capacidade nacional de gerenciar a qualidade do ar”, destaca.
Pesquisas sobre a qualidade do ar em Fortaleza e Região Metropolitana vêm sendo realizadas pelo Lais/Uece, em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), desde 2013, integrando atividades conveniadas com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. No caso de estudos sobre ozônio, a Uece possui uma série histórica desde 2015.
O monitorando da qualidade do ar seguirá durante o período de isolamento social a fim de analisar o impacto do ozônio no comportamento respiratório humano, sobretudo, diante dos problemas causados pelo coronavírus, que atinge prioritariamente o sistema respiratório. A expectativa do Laboratório é de apresentar os dados da pesquisa em julho ou agosto, fazendo comparação com outros cenários, de Fortaleza e de Lisboa.