Distritos irrigados de Sousa sofrem com a estiagem prolongada

O Perímetro Irrigado Várzeas de Sousa estende-se por uma área de 6.335,74 hectares. FOTO: Maristela Crispim

 

A região de Sousa, no sertão paraibano, possui duas grandes estruturas de produção agrícola irrigada: os perímetros irrigados Várzeas de Sousa e o São Gonçalo. Ambos amargam sete anos de chuvas abaixo da média.

 

Maristela Crispim*

Sousa / Aparecida. Nesta quinta matéria da viagem à região de Sousa, contamos um pouco do que vimos no Distrito do Perímetro Irrigado Várzeas de Sousa (Dpivas), que  fica em terras dos municípios de Sousa e Aparecida, no Sertão da Paraíba, inserido na sub-bacia do Rio do Peixe e bacia do Rio Piranhas, com acesso pela rodovia BR-230, distante 440 quilômetros da capital, João Pessoa.

A infraestrutura de irrigação é composta pelo Canal da Redenção (37 quilômetros de extensão), com túneis, sifões e galerias, reservatório de compensação, estação de bombeamento, subestação elétrica, adutoras de recalque e distribuição, reservatório de distribuição, rede de distribuição de água para irrigação (adutoras), rede de drenagem, rede viária, reserva legal, centro gerencial e material de irrigação parcelar.

O projeto estende-se por uma área de 6.335,74 hectares (ha):

  • 178 lotes de pequenos irrigantes (992,53 ha)
  • 18 lotes empresariais (2.309,16 ha)
  • Lotes destinados a pesquisa, experimentação e extensão (81,80 ha)
  • 1.879,39 ha de áreas ambientais, de infraestrutura e corredores da fauna
  • Um lote destinado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para o assentamento de 141 famílias (1007,30 ha)

Entre 2013 e 2014 o Dpivas rendeu R$ 24 milhões com uma pequena produção de coco, banana e goiaba e uma grande produção de soja, milho e algodão. Depois de 2015, foi caindo, até chegar a R$ 14 milhões. FOTO: Maristela Crispim

Rogério Paganelli Junqueira, gerente executivo do Dpivas, relata que tem sido difícil manter a produção com a seca que afetou o Açude Coremas–Mãe d’Água, que abastece o Perímetro por meio do Canal da Redenção. “Em 2013 e 2014 estávamos a todo vapor. Com assistência técnica, rendeu R$ 24 milhões com uma pequena produção de coco, banana e goiaba e uma grande produção de soja, milho e algodão. Depois de 2015 foi caindo, até chegar a R$ 14 milhões”, explica. O pequeno irrigante José Cardoso da Silva, 52, confirma, destacando que o jeito foi cavar um poço para manter alguma produção.

Assentados do Pivas

Em março de 2010, o Incra recebeu a concessão da primeira área do Pivas, com 1.007 hectares. No local, foi criado o Assentamento Nova Vida I. As 141 famílias que residem na área de Reforma Agrária produzem milho, feijão, gergelim e algodão agroecológico, além de criarem bovinos e caprinos.

Mas, em fevereiro do ano passado, famílias de trabalhadores rurais acampadas no Pivas receberam a visita do chefe da Divisão de Obtenção de Terras e Implantação de Projetos de Assentamento do Incra no Estado, Leomax Bandeira. A reunião, realizada na sede do Distrito do Pivas (Dpivas), teve por objetivo informar os acampados sobre a criação de dois assentamentos da reforma agrária em duas áreas do Pivas que somam aproximadamente 837 hectares e têm capacidade para receber 200 famílias de trabalhadores rurais.

As portarias de criação dos assentamentos Emiliano Zapata, no imóvel rural Gleba IV, com área de 441,45 hectares e capacidade para 110 famílias de agricultores, e Imaculada, nos imóveis rural Gleba III e V, com área de 396,13 e capacidade para receber 90 famílias, foram publicadas no Diário Oficial da União de 9 de fevereiro de 2017.

A qualidade do solo no Pivas é reconhecida nacional e internacionalmente. Outro ponto positivo é a proximidade com o Aeroporto de Petrolina Senador Nilo Coelho, em Pernambuco, um dos principais do Nordeste, que cresce impulsionado pela produção do Vale do Rio São Francisco, maior exportador de frutas do Brasil. São cerca de 400 quilômetros até o local.

Perímetro de São Gonçalo

Situado às margens da BR-230, na bacia hidrográfica do Rio Piranhas, o distrito de São Gonçalo está localizado a 15,6 quilômetros da zona urbana de Sousa e a 449 quilômetros de João Pessoa. No distrito, se localizam o Perímetro Irrigado de São Gonçalo, implantado em 1972; a Escola Agrotécnica Federal de Sousa; e o Açude São Gonçalo, que abastece os municípios de Sousa e Marizópolis, construído em 1922 por engenheiros dos Estados Unidos, e inaugurado em 1936.

Uma minifábrica de polpas se destaca no Perímetro de São Gonçalo. FOTO: Maristela Crispim

No local, se destaca uma minifábrica de poupas que produz 12 sabores diferentes. Tudo estava indo muito bem, com escoamento garantido por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), até uma denunciada à Vigilância Sanitária . Atualmente trabalha na instalação do Selo de Inspeção Municipal (SIM).

Engenheiro agrônomo e de segurança do Trabalho, Fábio Fernandes assumiu a responsabilidade técnica da readequação às exigências da legislação. Enquanto a burocracia não termina, a produção é comercializadas apenas na Feira Agroecológica.

Isso reduziu a renda de R$ 4 mil por mês para R$ 1 mil mensais, segundo a presidente da Associação dos Produtores da Agricultura Familiar (Apafa), Claudete Maria da Silva Varelo. Ela conta que já gastou entre R$ 40 mil e R$ 45 mil neste processo de readequação. “Eu vendi terreno e fiz empréstimo para pagar. Agora estou morando em uma casa alugada em frente. A minha casa se transformou na fábrica”, detalha.

Claudete lamenta pela seca e pela burocracia para o fornecimento das polpas à merenda escolar. FOTO: Maristela Crispim

A embalagem fornecida às escolas, de um quilo, custa R$ 8, enquanto a comercializada na feira, de 250 gramas, custa R$ 2. Além disso, a produção de frutas caiu, com a seca, de uma média de 20 caixas para cinco. Mas a capacidade instalada é para produzir seis mil quilos de polpa por mês. “Nós adquirimos dos quintais da vizinhança. No primeiro ano, ninguém quis comprar. Depois conseguimos vender para todos os sete colégios do distrito”, relata Claudete.

Francisco Honorato Filho, conhecido como Zomi, é o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Sousa. “Antes, quando não havia seca, toda Sousa vivia do Perímetro Irrigado de São Gonçalo. Hoje são mais de três mil poços artesianos para manter 4.041 hectares irrigados. Nos bons tempos, os irrigantes empregavam de 3 a 4 mil trabalhadores, hoje não têm nem como manter os filhos. O Bolsa Família, o Garantia Safra e a Previdência ajudam a manter. A água é suficiente para as necessidades básicas, mas não para a irrigação”, lamenta.

* A jornalista viajou à Paraíba a convite da Inter Press Service – News Agency (IPS)

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