Rio de Janeiro – RJ. Qual é a distribuição geográfica da Biodiversidade Marinha do Brasil? Quais são as lacunas de conhecimento? Essas e outras questões serão respondidas dentro de quatro anos pelo Programa BioGeoMar, apoiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Com uso de alta tecnologia e volume robusto de dados, serão realizadas análises biogeográficas para organismos marinhos da costa brasileira. Ele foi lançado no AquaRio, o maior aquário marinho da América do Sul, e os pesquisadores participaram de workshop para troca de conhecimentos entre suas diferentes especialidades, em auditório da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
“Será analisado esse big data de distribuição geográfica georreferenciada, tanto da fauna quanto da flora marinha, incluindo dados inéditos para a ciência”, destacou a bióloga Fernanda Azevedo, responsável técnica pelo Programa BioGeoMar. “Essas informações são essenciais para compreender e produzir a melhor informação científica para embasar ações de preservação e gerar soluções para os ambientes marinhos”, avaliou.
Para isso, está sendo utilizado um conjunto de ferramentas de análises biogeográficas disponíveis na plataforma de modelagem Dinâmica EGO, desenvolvida pelo Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Elas agilizam as análises, conferindo, por exemplo, equívocos de preenchimento de coordenadas e localidades informadas pelos pesquisadores, de milhões de ocorrências de organismos”, explicou o biólogo Ubirajara Oliveira, que desenvolveu o software e já aplicou para análises biogeográficas de organismos terrestres. Ele informou que, após todos os dados computados e as variáveis escolhidas pelos pesquisadores, a plataforma realiza uma série de checagens nos dados e entrega as planilhas com os resultados dentro de uma semana em média. Em seguida, os especialistas podem desenvolver suas análises.
Ubirajara desenvolveu para o Programa BioGeoMar uma “versão beta” para organismos marinhos. Os resultados preliminares com uma análise descritiva dos dados de georreferência foram apresentados no workshop na Unirio e debatidos para o aperfeiçoamento. Ao todo, na plataforma Ocean Biogeographic Information System (Obis) foram encontradas 2.985.801 ocorrências e, no Global Biodiversity Information Facility (GBIF), 7.228.476.
A maioria dos grupos de invertebrados e macroalgas marinhas está no GBIF, exceto os cnidários e os anelídeos marinhos que apresentam mais registros no Obis. Com os organismos exclusivamente marinhos, foram 946.900 ocorrências no GBIF e 232.295 no Obis. Cabe destacar que os dados estão defasados nas plataformas existentes ou inseridos com pequenos erros. Esses dados preliminares foram trabalhados pela mestranda Micaele Niobe da Pós-graduação em Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, tendo Ubirajara como orientador e Fernanda como co-orientadora.
Em sinergia com a Década do Oceano, declarada pela ONU para o período de 2021 a 2030, a Fundação Grupo Boticário tem o fortalecimento da conservação marinha como uma de suas prioridades. “O conhecimento é essencial para embasar ações efetivas para a proteção da natureza. Esperamos que o trabalho desenvolvido pelo Programa BioGeoMar traga para a sociedade informações que apontem oportunidades e desafios que possam ser abraçados pela academia, poder público, iniciativa privada e outros setores para proteger espécies, sensibilizar as pessoas sobre a importância dos mares e promover bem-estar e desenvolvimento econômico, prezando pela sustentabilidade do oceano”, afirma o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo Boticário, Robson Capretz.
Programa BioGeoMar
Com o apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, o Programa BioGeoMar irá analisar, ao longo de 4 anos, o estado de conhecimento da Biodiversidade Marinha do Brasil, viés de coleta, áreas de endemismo, hotspot e áreas prioritárias para inventários e conservação. Estão envolvidos 18 pesquisadores, de diversificadas especialidades, integrantes de 12 universidades públicas, e 11 bolsistas.
Tem como gestor a Fundação Educacional Ciência e Desenvolvimento (FECD), e fazem parte da rede colaborativa: UFRJ, UFMG, UFPR, Museu Nacional/UFRJ, UEL, UFAL, UFF, Unesp, Unirio, UFPE, UFSC e USP. Estão sendo utilizadas plataformas nacionais e internacionais de ocorrências e inseridos novos dados para a ciência a partir das coleções dos laboratórios dos pesquisadores.
Por fim, as informações estarão disponíveis em diferentes plataformas com os dados corrigidos e completos. Essas plataformas utilizadas são: Obis, GBIF e Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Entre as metas do BioGeoMar está também contribuir para a Década da Ciência Oceânica, que ocorrerá entre 2021 e 2030, conforme estabelecido pela ONU.
Fundação Grupo Boticário
Com 30 anos de história, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam com conservação do patrimônio natural brasileiro. A partir de uma agenda positiva e por seu protagonismo e reputação, a instituição trabalha em rede, mobilizando centenas de atores de diferentes setores da sociedade que voluntariamente contribuem para a conservação.
A Fundação Grupo Boticário apoia ações de conservação da natureza em todo o Brasil, com aproximadamente R$ 80 milhões destinados a cerca de 1.600 iniciativas em todos os estados e biomas do País. Protege duas áreas de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil –, somando 11 mil hectares em suas duas reservas naturais.
Atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e nas políticas públicas, além de contribuir para que a natureza sirva de inspiração ou seja parte da solução para diversos problemas da sociedade. Também promove ações de engajamento e sensibilização, que aproximam a natureza do cotidiano das pessoas.
A Fundação Grupo Boticário é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial.