Por Alice Sales
Colaboradora
Itarema – CE. O Povo Originário Tremembé que vive no Litoral Oeste do Ceará, celebra o sucesso de mais uma manifestação artística e cultural nativa. Isso graças a Rodrigo Tremembé, jovem da etnia, que lançou para o mundo a coleção de moda “O Vestir é Ancestral”. O editorial foi todo idealizado pelo designer que reside na Aldeia Córrego João Pereira, município litorâneo de Itarema, à convite da Revista Inspiração Teen. A coleção expõe peças de vestuário com traços étnicos Tremembé que reforça a necessidade de tornar a cultura indígena presente na moda.
O trabalho que homenageia a etnia se contrapõe à colonização que veio para nos vestir ao modo eurocêntrico, sistema que colabora para o consumismo desenfreado por meio de produções e tendências feitas para não durarem e fazem com que a indústria da moda seja a segunda maior consumidora de água do Planeta. Além disso, essa mesma indústria, em muitos casos, explora a mão de obra infantil e o trabalho análogo ao escravo, com longas jornadas e condições precárias.
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A relação de Rodrigo com a moda teve início em 2020, quando ele passou por uma situação de discriminação racial em uma rede social. Algumas pessoas, indígenas e não indígenas, questionaram seus traços físicos e a razão de sua “pele branca”. Isso o fez refletir o quanto o discurso colonial perpetua estereótipos e ignora violências cometidas ao longo da história.
“Não temos culpa de sermos frutos de uma miscigenação étnico e cultural forçada. Eu sempre desenhei e sempre gostei de moda, então decidi ingressar neste caminho como forma de resistência, para mostrar que o indígena não cabe dentro do discurso colonial. Minhas roupas, meus desenhos, minhas ideias sempre estão alinhadas à diversidade e especificidade que há no meio Indígena. Acredito que a moda indígena é uma ferramenta poderosa de descolonização”, reflete.
No editorial, Rodrigo Tremembé apresenta o vestido “Jabuti”, que leva dois grafismos. O primeiro, presente na parte superior da peça, representa o Jabuti, que simboliza longevidade, saúde e metas alcançadas. Já o segundo, na barra do vestido, o grafismo îepïtak que significa “firme, resistente” . A peça masculina macacão “Poçanô” leva o grafismo também intitulado Poçanô, que na língua Tremembé significa “curar, sanar” e representa a cobra coral, símbolo de poder de cura, regeneração e vitalidade.
Ambas as peças levam um acessório feito com sementes de pau-brasil e argola de bilros, que o designer denominou Mboîa pirang, que significa, em Poromongûetá (língua do povo Tremembé), “cobra vermelha” em alusão à cobra coral.
Sobre os grafismos, o artista explica que se tratam de símbolos e representações que fazem parte da cultura de praticamente todos os povos indígenas do Brasil. Os traços feitos na pele com tinta de jenipapo trazem consigo simbologias sagradas que conectam o ser humano com o mundo espiritual. “Trazer isso para a moda é resinificar esse ato ancestral de se ‘vestir’ de grafismos, onde a roupa tem o papel de expressar cultura e sabedoria ancestral”, ressalta.
As fotos oficiais da coleção estarão disponíveis com detalhes em breve na Revista Inspiração Teen (de mídia indígena e negra), idealizada pelo professor de arte e editor-chefe, Rúbens Santa Brígida. A prévia da coleção estará disponível na Tremembé (Marca de vestuário Indígena idealizada pelo diretor criativo Rodrigo Tremembé) por meio do Instagram : @tremembe_ .
O editorial contou com a direção criativa de Rodrigo Tremembé, fotos de Stefany Tremembé e Iraê Tremembé, produção de beleza de Sthefany Tremembé e
modelos Verônica Tremembé, Iraê Tremembé e Rodrigo Tremembé.