Povo Tremembé do litoral cearense é celebrado em coleção de moda

Casal de modelos indígenas sentado numa mesa sob uma palhoça. Ela veste roupas de cor vermelha com detalhes pretos. Ele veste roupas pretas. Ambos usam chapéu de palha e possuem pinturas étnicas pelo corpo

A coleção expõe peças de vestuário com traços étnicos do povo Tremembé que reforçam a necessidade de tornar a cultura indígena presente na moda | Foto:  Stefany Tremembé e Iraê Tremembé

Por Alice Sales
Colaboradora 

Itarema – CE. O Povo Originário Tremembé que vive no Litoral Oeste do Ceará, celebra o sucesso de mais uma manifestação artística e cultural nativa. Isso graças a Rodrigo Tremembé, jovem da etnia, que lançou para o mundo a coleção de moda “O Vestir é Ancestral”. O editorial foi todo idealizado pelo designer que reside na Aldeia Córrego João Pereira, município litorâneo de Itarema, à convite da Revista Inspiração Teen. A coleção expõe peças de vestuário com traços étnicos Tremembé que reforça a necessidade de tornar a cultura indígena presente na moda.

O trabalho que homenageia a etnia se contrapõe à colonização que veio para nos vestir ao modo eurocêntrico, sistema que colabora para o consumismo desenfreado por meio de  produções e tendências feitas para não durarem e fazem com que a indústria da moda seja a segunda maior consumidora de água do Planeta. Além disso, essa mesma indústria, em muitos casos, explora a mão de obra infantil e o trabalho análogo ao escravo, com longas jornadas e condições precárias.

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A relação de Rodrigo com a moda teve início em 2020, quando ele passou por uma situação de discriminação racial em uma rede social. Algumas pessoas, indígenas e não indígenas, questionaram seus traços físicos e a razão de sua “pele branca”. Isso o fez refletir o quanto o discurso colonial perpetua estereótipos e ignora violências cometidas ao longo da história.

“Não temos culpa de sermos frutos de uma miscigenação étnico e cultural forçada. Eu sempre desenhei e sempre gostei de moda, então decidi ingressar neste caminho como forma de resistência, para mostrar que o indígena não cabe dentro do discurso colonial. Minhas roupas, meus desenhos, minhas ideias sempre estão alinhadas à diversidade e especificidade que há no meio Indígena. Acredito que a moda indígena é uma ferramenta poderosa de descolonização”, reflete.

Modelo indígena em pé sob uma palhoça usando vestido vermelho com detalhes pretos. Ela usa chapéu de palha e tem pinturas étnicas pelo corpo.

O vestido ‘Jabuti’ é uma das peças femininas da coleção de Rodrigo Tremembé | Foto: Stefany Tremembé e Iraê Tremembé

No editorial, Rodrigo Tremembé apresenta o vestido “Jabuti”, que leva dois grafismos. O primeiro, presente na parte superior da peça, representa o Jabuti, que simboliza longevidade, saúde e metas alcançadas. Já o segundo, na barra do vestido, o grafismo îepïtak que significa “firme, resistente” . A peça masculina macacão “Poçanô” leva o grafismo também intitulado Poçanô, que na língua Tremembé significa “curar, sanar” e representa a cobra coral, símbolo de poder de cura, regeneração e vitalidade.

Modelo indígena sentado, encostado em um jarro de barro com pintura étnica preta, com um ziguezague amarelo e bolinhas vermelhas. Ele usa um macacão curto preto, cocar de palha preto, laranja e cru com um penacho azul ao centro, e tem pinturas étnicas pelo corpo

O macacão ‘Poçanô’ é uma das peças masculinas da coleção de Rodrigo Tremembé | Foto: Stefany Tremembé e Iraê Tremembé

Ambas as peças levam um acessório feito com sementes de pau-brasil e argola de bilros, que o designer denominou Mboîa pirang, que significa, em Poromongûetá (língua do povo Tremembé), “cobra vermelha” em alusão à cobra coral.

Sobre os grafismos, o artista explica que se tratam de símbolos e representações que fazem parte da cultura de praticamente todos os povos indígenas do Brasil. Os traços feitos na pele com tinta de jenipapo trazem consigo simbologias sagradas que conectam o ser humano com o mundo espiritual. “Trazer isso para a moda é resinificar esse ato ancestral de se ‘vestir’ de grafismos, onde a roupa tem o papel de expressar cultura e sabedoria ancestral”, ressalta.

As fotos oficiais da coleção estarão disponíveis com detalhes em breve na Revista Inspiração Teen (de mídia indígena e negra), idealizada pelo professor de arte e editor-chefe, Rúbens Santa Brígida. A prévia da coleção estará disponível na Tremembé (Marca de vestuário Indígena idealizada pelo diretor criativo Rodrigo Tremembé) por meio do Instagram : @tremembe_ .

O editorial contou com a direção criativa de Rodrigo Tremembé,  fotos de Stefany Tremembé e Iraê Tremembé, produção de beleza de Sthefany Tremembé e
modelos Verônica Tremembé, Iraê Tremembé e Rodrigo Tremembé.

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