O que as decisões da Meta têm a ver com ESG?

A imagem apresenta diversos algodões-doces em tons pastéis de azul, rosa, amarelo e laranja. Eles estão montados em palitos de madeira e exibem uma textura macia e volumosa, típica do doce. O fundo é colorido e etéreo, com uma combinação de tons azulados e rosados, além de pequenos pontos brilhantes.
Neste janeiro, a Meta alterou termos ligados à comunidade LGBTQIA+. Orgulho LGBTQIA+ passou a “Arco-íris”; transgênero, “algodão doce”; e não-binário, “pôr do sol dourado”. Mas diante da repercussão, o termo “Orgulho LGBTQIA+” voltou e os outros dois foram excluídos | Imagem: Freepik

Imagine o seguinte: a partir de hoje a empresa para a qual você trabalha permitirá que qualquer consumidor (ou até mesmo outro colaborador da mesma empresa) possa ofender um funcionário por conta de sua orientação sexual, sem que haja punição por causa disso, porque isso é o “melhor para os negócios”.

Para quem ainda não entendeu, essa é a tradução mais didática que eu poderia fazer para que possamos entender o significado das decisões divulgadas pela Meta nos últimos dias.

Mas, caso você não entenda tanto sobre o universo das redes sociais e/ou sobre ESG, vamos a uma sequência de fatos/informações em duas etapas:

Etapa 01 – Entendendo o universo das redes sociais e a pauta da diversidade como “produto”:

  1. A Meta ganha dinheiro em cima do conteúdo que é produzido pelos chamados criadores de conteúdo
  2. Logo, podemos entender que criadores de conteúdo são colaboradores (para não dizer produto) da Meta
  3. No universo das redes sociais, “consumidor” é aquele que passa horas rolando a tela vendo a vida dos outros, que no caso são os criadores de conteúdo (colaboradores da Meta);
  4. Ocorre que representantes da comunidade LGBTQIA+ são hoje um dos principais produtos, ou melhor, colaboradores da Meta, e posso trazer dois exemplos icônicos: Bomtalvão, (com mais de 4 milhões de seguidores e que ficou famoso por convidar subcelebridades e artistas para provar comidas) e Theodoro (que é o queridíssimo das marcas a mostrar seu lifestyle e suas conquistas em uma trajetória na qual começou como vendedor e hoje tem mais de 5 milhões de seguidores)

Então o que vemos aqui é: a Meta (embora lucre sobre essas pessoas) permitirá que qualquer um os ofenda por puro preconceito. E, honestamente, eu já poderia parar por aqui mesmo, porém, vamos para a segunda etapa onde trago fatos sobre a agenda ESG:

Etapa 02 – Entendendo um pouco sobre a agenda ESG e a pauta da diversidade como “métrica”:

  1. Há pouco anos tivemos um boom da agenda ESG no ambiente corporativo, a qual em tradução simples significa que as empresas deveriam se preocupar e investir em Governança Social e Ambiental para garantir sustentabilidade, considerando os riscos trazidos pelas mudanças climáticas e pautas sociais urgentes
  2. Essa agenda foi amplamente incentivada por Larry Fink, CEO da BlackRock, líder mundial em fundos ESG, ou seja, uma gigante dos investimentos e que também detém participações em bigtechs como Google, Apple, Meta e Amazo
  3. Dentro da agenda ESG, destacado o “S” de Social, a pauta da diversidade tem sido uma das mais urgentes e relevantes métricas, o que certamente tem feito com que diversas grandes marcas procurem criadores de conteúdo que representem o público LGBTQIA+ para divulgarem seus produtos, numa abordagem de comunicação identitária, e cujo foco verdadeiro nós sabemos que é manter a sustentabilidade econômica do negócio. Um exemplo icônico foi no caso do Theodoro que foi selecionado como o primeiro homem a modelar e aparecer em uma caixa de coloração unissex da Maxton, algo absolutamente inédito.

Agora que temos o nexo entre os fatos, podemos perceber o paradoxo (para não dizer a incoerência) que sempre permeou o universo ESG e cuja culminância se traduz em notícias recentes como:

Publicada em 10 de janeiro de 2025

Publicada em 10 de janeiro de 2025

Publicada em 19 de setembro de 2024

Ou seja, aparentemente todo mundo continua se importando apenas com os próprios interesses:

  • Sejam os gigantes políticos ou de mercado que continuam com suas ideologias negacionistas
  • Sejam os profissionais que continuam apostando em “ESG” (entre aspas porque me refiro a esse ESG que andam fazendo sem link com o mercado financeiro, e que a gente sabe que é só responsabilidade socioambiental com outro nome) à despeito do que está acontecendo mundialmente, acreditando verdadeiramente no que estão fazendo
  • Sejam os inocentes criadores de conteúdo que até seguem melhorando suas vidas financeiras e servindo aos interesses do mercado, das marcas e da Meta, pelo menos até começarem a ser massacrados pelo preconceito alheio e suas redes deixarem de ser assim “tão interessantes” para as marcas

Ou será que isso trará mais engajamento? (porque no Brasil já sabemos que a desgraça do outro é sempre um grande entretenimento).

Mas, e se por algum lampejo de lucidez, esses grandes criadores de conteúdo resolverem abandonar as redes da Meta? Quais serão os próximos “produtos”?

Mas que grande aventura distópica estamos vivendo não é mesmo?

Em tempo:

Na condição de professora e mentora de estrategistas em Sustentabilidade 4.0, sempre enfatizei para os meus alunos: continuem focando em Sustentabilidade e não em ESG.

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