Por Alice Sales
Colaboradora
Itapipoca – CE. A pandemia de Covid-19, que já assola o mundo há mais de um ano, trouxe perdas irreparáveis de vidas humanas. Neste momento difícil, repleto de incertezas e medos, o Povo Tremembé da Barra do Mundaú, situado no município de Itapipoca, no litoral oeste cearense, acredita que este seja um período que requer a busca pela cura, proteção e fortalecimento espiritual. Pensando nisso, celebram, nesta semana, Rituais de Conexão transmitidos virtualmente por meio de lives no Instagram do Povo Tremembé da Barra do Mundaú (@tremembe_da_barra_). A iniciativa é também uma forma de fortalecer e compartilhar a cultura da etnia.
Os rituais foram realizados entre terça-feira (16) e quinta-feira (18), conduzidos por mulheres indígenas dotadas de saberes ancestrais que contam com elementos da natureza como aliados para a busca pela cura. Em parceria com a Teia das Cinco Curas, rede colaborativa de reeducação, extensão e pesquisa participativa que envolve comunidades indígenas, o evento teve como intuito estimular conexões espirituais do Povo Tremembé com o mundo, buscando oferecer conforto e proteção.
Segundo Luan de Castro Tremembé, jovem comunicador indígena que está à frente da organização do evento, “durante a programação, as guerreiras Tremembé realizam, por meio dos cantos e danças, rituais de cura e limpeza espiritual, onde os elementos que vêm da Mãe Terra organizam práticas sagradas repassadas por seus ancestrais e que podem curar e proteger”.
Mateus Tremembé, liderança indígena engajada no evento, ressalta que este grupo de mulheres, conhecido como Protegidas dos Orixás, tem forte ligação com a espiritualidade de rituais sagrados. “Os rituais da espiritualidade do povo Tremembé nos possibilitam a conexão com o sagrado, com a Mãe Terra, com as frutas da nossa mata, com os alimentos presentes no nosso território. São importantíssimos em tempos de pandemia, uma vez que precisamos alimentar o nosso corpo e nosso espírito, já que acreditamos sermos aquilo que comemos e aquilo que fazemos no nosso dia a dia. É essencial fortalecer a espiritualidade neste período e por isso esse grupo de mulheres vem praticando esses processos de cura”.
As protegidas dos orixás são mulheres que representam todas as outras, que passam por uma preparação espiritual antecipada para estar à frente dos rituais de cura. “Utilizamos ervas medicinais e defumador, que têm como finalidade afastar toda a negatividade daqueles que estão sendo curados. Também realizamos rituais nas águas, que para o nosso povo é um elemento igualmente sagrado. É preciso que a gente cuide do nosso lado espiritual que está abalado com tantas perdas e com tanta tristeza no mundo. Nossas energias ficam fragilizadas e é necessário que cuidemos do nosso espírito para enfrentar este momento”, destaca Cleidiane Tremembé, uma das mulheres que realiza os rituais.
O evento é fruto de uma parceria entre o jovem comunicador indígena Luan de Castro Tremembé, criador do perfil no Instagram @tremembe_da_barra_ ; e Mateus Tremembé, comunicador Indígena e colaborador da página, além de contar com o apoio do projeto “Aldeia conectada com a cultura de alimentar”, financiado pela Lei Aldir Blanc e pela Teia da Cinco Curas – Musagetes.
Parabéns pelo investimento na preservação desta cultura tão rica de rombos e práticas ancestrais e tão pouco reconhecida e cultuada através dos tempos.