Tibau do Sul – RN. Em 17 de novembro de 2020, a queda de parte de uma falésia causou a morte de Stella Souza, 33; Hugo Pereira, 32; e do filho deles, Sol, de 7 meses, na Praia de Pipa, município de Tibau do Sul, litoral oriental do Rio Grande do Norte. A tragédia repercutiu muito e acendeu um sinal de alerta para o risco associado aos movimentos de massa em falésias ativas.
As falésias são formações belas, frágeis, perigosas e merecem atenção
Tragédia em praia do RN alerta para alto risco em falésias do Nordeste
Posteriormente, foi montada uma equipe de pesquisa para fazer o “Diagnóstico de risco de desmoronamento das falésias Pipa e Barra de Tabatinga – RN”, coordenada pelo professor Rodrigo de Freitas Amorim, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e Rubson Pinheiro Maia, do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), com financiamento da Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec) / Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
O trabalho conta também com a participação de pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB), do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e o apoio da Defesa Civil Estadual, Corpo de Bombeiros Militar do RN, Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), Secretaria de Estado da Segurança e Defesa Social (Sesed), Ministério Público Federal (MPF) e prefeituras de Tibau do Sul e de Nísia Floresta.
O trabalho – cujas atividades iniciaram em março de 2021 e vão ser finalizadas em março de 2022 – é uma forma de buscar respostas ao acidente que ocorreu em Pipa em 2020. A preocupação é maior com a segurança da população e turistas que frequentam as praias dos municípios de Parnamirim, Nísia Floresta, Tibau do Sul e Baía Formosa, cuja paisagem se caracteriza principalmente pelas falésias.
Segundo nota técnica preliminar, assinada pelos dois pesquisadores que coordenam o projeto, o desprendimento gravitacional de blocos rochosos e solos é recorrente no Brasil, especialmente nas regiões montanhosas e escarpadas, onde a queda de blocos causa prejuízos materiais e perdas de vidas, especialmente quando atingem áreas densamente habitadas, mas ainda é pouco investigada quando se trata de processos costeiros envolvendo a evolução geomorfológica de falésias litorâneas.
O documento ressalta que quanto mais altas, íngremes e ativas, mais valorizadas são as falésias no aspecto paisagístico e que tal característica faz com que praias com falésias sejam destinos turísticos bastante procurado na costa do Brasil.
“Na Praia de Pipa, as falésias constituem o principal atrativo turístico, recebendo diariamente milhares de pessoas. O intenso trânsito de banhistas na base das escarpas instáveis, pela ação consorciada de processos de escoamento hidráulico interno e ação das ondas na base criam colapsos constantes, criando uma situação de risco elevado, que culminou fatidicamente, na morte de uma família em novembro de 2020”, detalha a nota técnica.
“Nesse projeto, verificamos que o grau de fraturamento das rochas e as características de cada camada interferem no modo como a erosão ocorre. Falésias são interpretadas tradicionalmente como fruto da abrasão marinha. Para tanto, utilizamos diferentes tecnologias para a análise do comportamento físico das rochas que compõem as falésias. Também foi realizado mapeamento de uso e ocupação para averiguação e mensuração dos impactos ambientais derivados da ocupação da borda da falésia”, explica o professor Rubson Pinheiro.
Nos resultados dessa pesquisa preliminar, constatou-se que o movimento de massa por colapso de blocos “representa um risco aos frequentadores da praia, especialmente nos períodos de maré alta, quando as pessoas tendem a caminhar junto à base da escarpa, para escapar do ataque direto das ondas. Diante disso, torna-se urgente um trabalho de orientação e conscientização dos turistas para evitarem transitar ou permanecer na base de falésias ativas, em virtude de sua constante instabilidade natural. Sugere-se ainda um detalhado mapeamento dos pontos críticos e monitoramento, que podem ser de fundamental importância na determinação de trechos mais ou menos susceptíveis.”