Estudo publicado em edição especial do Journal of the Geological Survey of Brazil aplicou um questionário aos mergulhadores do arquipélago

O local de mergulho Caieiras, em Fernando de Noronha, é composto por rochas piroclásticas | Foto: Jasmine Cardozo Moreira (2010)

Fernando de Noronha é um dos melhores locais para mergulho do Brasil, e ações focadas nos aspectos da geologia marinha agregam ainda mais valor à atividade. Um estudo publicado no Journal of the Geological Survey of Brazil (JGSB), periódico científico do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM), investigou a opinião de mergulhadores sobre a interpretação ambiental e aspectos da geologia marinha no arquipélago por meio de um questionário. No total, 98% dos entrevistados acreditam que tal interpretação é relevante, o que demonstra o potencial para um trabalho de sensibilização ambiental.

A interpretação ambiental busca provocar conexões pessoais entre o público e o patrimônio protegido. No caso específico do património geológico, determina e comunica o significado de um fenômeno, acontecimento ou local geológico e geomorfológico.

Pesquisas sobre a interpretação da geodiversidade marinha ainda são escassas. No estudo intitulado The opinion of divers on the interpretation of marine geology in the archipelago of Fernando de Noronha, Brazil, os pesquisadores Tatiane Ferrari do Vale, do Grupo Universitário de Pesquisa Espeleológica (Gupe); Rafael Altoe Albani, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); e Jasmine Cardozo Moreira, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) aplicaram um questionário on-line entre abril de 2018 e maio de 2019, para 100 indivíduos que praticaram mergulho autônomo no arquipélago pelo menos uma vez.

Entre aqueles que responderam o questionário, 83% afirmaram ter recebido informações sobre a flora e fauna marinhas, 30% sobre geologia marinha, 11% não receberam nenhuma informação e 5% não conseguiram lembrar se receberam. Em relação a esta questão, 85,7% dos que afirmaram ter recebido algum tipo de informação indicaram que foi facilmente identificada durante o mergulho, enquanto 14,3% afirmaram que não.

Os mergulhadores foram questionados se achavam que alguma informação estava faltando, e 26% indicaram fauna e flora marinha, 60% geologia marinha, enquanto 11% relataram não ter sentido falta de nenhuma informação específica. Em relação às informações disponibilizadas, 87,1% afirmaram que foram fornecidas por briefing antes do mergulho; 34,1%, em conversa após o mergulho, e as demais respostas corresponderam a 11%.

Arenito Caracas, perto da Ilha do Meio | Foto: Tatiane Ferrari do Vale (2016)

“Há diversos trabalhos que abordam a interpretação da biodiversidade, no entanto, ainda não é comum no Brasil o uso de meios interpretativos que valorizem a geodiversidade marinha”, afirma a pesquisadora Tatiane. Ela explica que os dados obtidos na pesquisa não podem ser generalizados, mas contribuem com a temática em questão, tanto no âmbito acadêmico quanto da gestão das Unidades de Conservação em Fernando de Noronha.

Para os pesquisadores, um dos pontos preponderantes da geoconservação é a possibilidade de conservar o patrimônio geológico e permitir que público leigo conheça e interprete lugares especiais do ponto de vista geológico, paleontológico, cultural. “Esses locais, denominados de geossítios, são verdadeiros laboratórios ao ar livre. O geoturismo, como uma modalidade de turismo sustentável, pode promover emprego e renda para as comunidades locais que passam a valorizar e contribuir com o uso sustentável”, afirmam.

A edição especial do JGSB reuniu trabalhos sobre a geoconservação no âmbito nacional e local, contribuindo para o conhecimento e divulgação geocientífica de temas como geoética, geoturismo e geo-interpretação. Além disso, há trabalhos que colaboram com o conhecimento empírico, dando oportunidade para que que o conhecimento acadêmico seja aplicado no âmbito da gestão, como por exemplo, de áreas protegidas.

Fonte: SGB-CPRM

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