Mossoró. O desaparecimento das abelhas vem preocupando criadores e pesquisadores em apicultura em todo o mundo. Estudos recentes revelam que o Brasil lidera a lista global de perdas de colônias de abelhas. Uma dessas pesquisas, feita na Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), cujo campus fica no município de Mossoró, no Rio Grande do Norte, com abelhas africanizadas (Apis melífera), reforça a tese de que as abelhas estão morrendo por envenenamento provocado pelo uso de agrotóxicos na produção agrícola.
O estudo revelou uma quantidade muito elevada de pesticidas nas abelhas mortas. Ao todo, a pesquisa detectou, por meio de amostras, 13 tipos de defensivos agrícolas. A tese “Desaparecimento e morte de abelhas no Brasil, registrado no aplicativo Bee Alert”, defendida por Dayson Castilhos, no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal da Ufersa, objetivou determinar as concentrações dos agrotóxicos em abelhas africanizadas mortas com suspeita de envenenamento.
Das amostras coletadas, 100% apresentaram contaminação por pesticidas. Para a coleta delas, 38 no total, o critério utilizado foi a morte maciça de abelhas no interior das colmeias, no chão da entrada dos apiários ou abelhas agonizando perto desses locais. A tese teve a orientação do professor Lionel Gonçalves, um dos maiores pesquisadores de abelhas na América Latina.
A pesquisa teve abrangência nacional e contemplou os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina. “Após a coleta das colmeias, as amostram foram trazidas para o laboratório da Ufersa que dispõe de equipamento espectrometria de massa que quantifica a contaminação nas abelhas”, explicou Dayson Castilhos.
Nas amostras, a maior frequência de resíduo de agrotóxicos encontrado foi fipronil, com 68,4%. Essa substância é apontada pelos pesquisadores como a principal causa de envenenamento das abelhas. Também foram encontrados resíduos de tiametoxam (42,1%), imidaclopride (28,9%), acetamipride (5,3%), nitenpiram (5,3%) e, tiaclopride (2,6%), dentre outros.
“Os resultados das análises das 38 amostras foram surpreendentes e apresentaram altos índices de frequência de detecção dos agrotóxicos fipronil e neonicotinóides”, revelou o pesquisador. Outra constatação é que a carga de agroquímicos suportada pelas abelhas analisadas é alarmante. “As contaminações por resíduos de agrotóxicos nas abelhas têm uma dimensão muito maior do que estimamos”, acrescentou.
“Confirmar a presença de agrotóxicos nos polinizadores é o melhor bioindicador da saúde do ecossistema. A análise nas abelhas vem comprovar essa contaminação do meio ambiente”, concluiu Dayson. As análises foram realizadas no Laboratório de Eco-fisiologia Vegetal do Departamento de Ciências Vegetais da Ufersa e no Laboratório EdiLab, em São Paulo.
Para o professor Jeferson Dombroski, do Departamento de Ciências Vegetais da Ufersa, o trabalho tem a sua importância ao comprovar uma informação que já faz parte do imaginário de grande parte da população de que o ser humano está contaminando o meio ambiente com agrotóxico. “A pesquisa traz o problema para a realidade ao provar cientificamente as denúncias de que colônias de abelhas estão sendo mortas por agrotóxicos”, pontua.
O pesquisador Dayson Castilhos ao lado do professor da Ufersa, Jeferson Dombroski | Foto: Yuri Rodrigues (Assecom)
O professor acrescenta que esse problema é generalizado no País, independentemente da região. “Se existe esse descuido, está havendo um problema que temos que pensar com cuidado que é o envenenamento do Planeta”, alerta.
Ainda segundo Dombroski, os resultados apresentados da pesquisa de Dayson representam uma evidência palpável, analisada em laboratório, do que está acontecendo atualmente com o uso errado e/ou indiscriminado de agrotóxicos culminando na morte das abelhas.
“São resultados científicos que comprovam que o homem está dizimando a biodiversidade”, considerou. Para o professor, o apicultor é o lado fraco dessa história uma vez que, normalmente, é ele que leva as abelhas para polinização das flores. “Se o apicultor perder a colmeia, não afeta o fruticultor, nem os grandes produtores de frutas. O prejuízo fica com o apicultor”, afirmou. O professor ressalta que na fruticultura de exportação o controle na aplicação dos agrotóxicos é mais rígido.
Matéria editada a partir de original no Portal da Ufersa