Em plena pandemia, notícia de nuvem de poeira ‘Godzilla’ assusta Nordeste do Brasil

Apesar do impacto da notícia, o presidente da Funceme, Eduardo Sávio, explica que o fenômeno é recorrente e que a intensidade maior deve ficar no Oceano Atlântico.

Nuvem se formou no continente africano, atravessou o oceano e é considerada a mais densa já registrada em meio século | Imagem: NOAA

Fortaleza – CE. Há alguns dias, as tradicionais imagens com tons de azul e branco captadas por satélite ganharam um ‘filtro’ marrom em parte do Oceano Atlântico, da África até o Caribe. Trata-se de uma massa de ar muito seco e com poeira do deserto africano do Saara que se move em direção às Américas, podendo alcançar o Nordeste do Brasil, denominada por especialistas de nuvem de poeira “Godzilla“. Na verdade, trata-se de um fenômeno recorrente a cada ano, mas que parece ter se intensificado em 2020.

No Caribe, os efeitos já são sentidos. Em diversos países existe a recomendação para que os cidadãos usem máscaras e evitem atividades ao ar livre, dada a alta concentração de partículas no ar. Também há advertência sobre a baixa visibilidade para navegação.

“A intensidade maior deve ficar no Oceano Atlântico, mas vamos observar com cuidado as previsões de correntes de ventos em altos níveis. A camada geralmente tem entre três e cinco quilômetros de espessura e encontra-se a uma altura de um a dois quilômetros na atmosfera”, explica Eduardo Sávio Martins, presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).

“Os ventos alíseos de sudeste estão mais fortes e a nuvem deve ficar mais ao norte. Mas estamos na periferia da pluma. O maior impacto deve ser na coloração do amanhecer / pôr do sol. As cores serão diferentes por conta da poeira”, informa.

O titular da Secretaria de Meio Ambiente do Ceará (Sema), Artur Bruno, afirmou à Agência Eco Nordeste que iria formalizar pedido de informações à Funceme e ao Instituto de Ciências do Mar (Labomar) / Universidade Federal do Ceará (UFC) e, a partir daí, planejar o que pode ser feito para monitorar.

Caminho traçado

O fenômeno começou a ser observado em uma área do oeste da África há uma semana e já percorreu mais de 5 mil quilômetros pelo mar até o Caribe, passando por terra em partes dos continentes americanos, como a Venezuela.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) prevê que a coluna de poeira do Saara continuará se movendo em direção ao oeste pelo Mar do Caribe, alcançando áreas do norte da América do Sul, América Central e da Costa do Golfo dos Estados Unidos, o que inclui o Nordeste do Brasil, nos próximos dias.

Diversos países registraram a presença da poeira do Saara e usuários das redes sociais compartilharam imagens de paisagens alteradas pela nuvem, algumas com intensas cores diferentes no amanhecer e no entardecer, conforme destacou o presidente da Funceme.

Sobre o fenômeno

A atividade da camada de ar do Saara, quando ocorre, costuma ter curta duração, não superior a uma semana. A presença de ventos suaves em certas épocas do ano, porém, a torna mais propensa a cruzar o Atlântico e percorrer mais de dez mil quilômetros.

A chegada dessa massa de ar seco e carregada de partículas de areia à América não é incomum e ocorre diversas vezes ao ano. Se forma sobre o Deserto do Saara no fim da primavera, no verão e no começo do outono no Hemisfério Norte, e geralmente se desloca em direção ao oeste sobre o Oceano Atlântico. No entanto, segundo os meteorologistas, a nuvem atual é uma das mais densas em meio século.

Implicações para saúde

Por onde a nuvem passa, a qualidade do ar é afetada e isso pode ter impacto sobre a saúde humana. O ar seco e empoeirado tem aproximadamente 50% menos umidade do que a atmosfera tropical típica. O alto teor de partículas pode ser nocivo para pessoas com problemas respiratórios.

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