A obra ‘Esperançar’ teve vida curta e pouca gente pôde apreciar

Por Maristela Crispim
Editora geral

Fortaleza – CE. No dia 11 de março de 2020, a doença causada pelo novo coronavírus (Covid-19) foi caracterizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia. Desse dia em diante, todos no Planeta vimos a nossa vida mudar, de uma forma ou de outra. A principal recomendação, naquele momento e nos meses que seguiram, era que ficássemos em casa para contermos o alastramento da doença, a sobrecarga nos serviços de saúde e o aumento das mortes.

Cada pessoa, cada cabeça reagiu de uma forma. Cabeça de artista pensa diferente. Precisa criar a partir do sentimento. Foi o que fez Narcelio Grud. O idealizador e produtor do Festival Concreto, mostra internacional de arte urbana realizada desde 2013 em Fortaleza, construiu uma instalação impactante.

“Essa instalação surgiu durante esse momento de pandemia, de quarentena, do isolamento social. A casa tem a função de abrigo, de acolhida e segurança. Nesse período, a imagem da casa reverberou mais forte em todos nós. Fique em casa, não saia de casa, se for sair, só pro necessário… Apelos que encheram os meios de comunicação…
É uma das principais estratégias de enfrentamento a pandemia”, destaca.

E continua: “Foi natural, dentro deste contexto, o surgimento da casa como símbolo de resistência no meu imaginário artístico, fazendo parte do processo de criação desta obra. ‘Esperançar‘ é como uma ponta de iceberg, de algo profundo em nós que diz respeito a não desistir, a não perder a fé, mesmo diante de algo tão forte como aquele vírus… Esperança aqui vira verbo, hora sendo suspiro e hora sendo erupção, resistindo a toda onda”.

Nas dunas entre a Cidade 2000 e a Praia do Futuro, essas casas emergiam ou submergiam, dependendo do ponto de vista do expectador, durante uma semana. Quem via, ficava em dúvida se eram casas de verdade, encobertas ou descobertas pelas areias que se movimentam ainda mais nesta época do ano pela ação enérgica dos ventos.

Essas pontas de iceberg, como Grud definiu, deixaram de existir uma semana após a conclusão da instalação, que levou dois dias para ficar pronta. Soube porque a quinta-feira recebeu fotos de amigos. Ele acredita que o desmanche foi feito por carroceiros pra retirar os materiais. “Arte urbana é isso, efêmera. Noutros tempos, ficaria puto, mas acho que de tanto acontecer, já não mexe tanto… É a natureza da obra… E acho que não mexeu tanto comigo por acreditar que alguém desmontou para pegar o material e vender para comer… Isso até me deixa feliz, quando penso que poderia ser a Prefeitura ou mesmo os donos do terreno. Mas o registro e o que as imagens significaram para quem viu é o que fica”, afirma o artista.

Grud conta que a ideia surgiu ainda no início da pandemia, no momento mais crítico, de medo. E adianta que a galeria que o representa fez a impressão de uma das fotos da instalação em metacrilato, numa tiragem de seis unidades, nas dimensões de 100cm x 70cm, limitada que será disposta na SP-Arte Viewing Room, de 24 a 30 agosto.

Fora isso, o artista está organizando o Festival Concreto #7, que será em novembro, e outros projetos paralelos. O próximo Festival Concreto será concentrado na periferia de Fortaleza. “Estamos inaugurando uma zona permanente de arte urbana no Jangurussu. É uma comunidade desassistida. Um monte de coisa está sendo pensada pra lá. Mas haverá algumas ações pontuais no Centro e outros bairros”, antecipa.

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