Por Sarah Viana e José Reinaldo*

Iniciada como Horto Florestal de Sobral, em 1947, a Floresta Nacional de Sobral foi transformada em Unidade de Conservação em 2001. Com uma área de 598,00 hectares, é administrada pelo ICMBio | Foto: Sarah Viana

Sobral – CE. Enquanto os olhos do mundo se voltam para a catástrofe ambiental que acontece na Amazônia e mais recentemente no Pantanal, outros biomas tão importantes do Brasil também precisam de atenção e cuidados. Aqui falamos da Caatinga, bioma muito rico e com um nível de endemismo muito alto, porém negligenciado.

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), a Caatinga sofre com alteração ou comprometimento de mais de 50% de área de vegetação nativa pela degradação, como o desmatamento, agropecuária, excessos na mineração e salinização do solo pelo uso de irrigação.

Tais investidas humanas datam desde o início da colonização. Entendemos que seja o momento de incrementar um plano de restauro, já que o bioma pode atingir um ponto de inflexão, ou seja, chegar a um limite irreversível em que não poderá mais se recuperar.

O reflorestamento e a ligação de remanescentes florestais desse domínio seriam um contraste a esses processos de desertificação, que hoje representa uma realidade de 13% do território, e essenciais para garantir relevantes serviços ambientais e ecossistêmicos, como a regulação do clima, a manutenção do ciclo hidrológico e do fluxo dos mananciais, além de assegurar a fertilidade do solo e prevenir erosão e manter a estrutura e estabilidade do solo.

O Brasil é considerado um dos 12 países dotados da chamada megadiversidade e um dos poucos no mundo que possuem tantas alternativas para manter uma economia pujante sem expandir a fronteira agrícola nem degradar seus biomas. A carnaúba, palmeira endêmica da Caatinga, é uma ótima referência do potencial de exploração econômica sustentável da biodiversidade.

Por outro lado, o fato de a Caatinga estar situada no “Polígono das Secas“, região do Nordeste que compreende ecossistemas frágeis e vulneráveis à desertificação, há uma associação errônea de que a natureza exige um preço alto aos que ficam.

Aqui queremos fugir deste o determinismo ambiental simplista. O que está posto em questão é a exploração inadequada dos recursos naturais e o superpastoreio aliados às condições climáticas e características dos solos.

O reflorestamento e a ligação de remanescentes florestais são essenciais para garantir relevantes serviços ambientais e ecossistêmicos, como a regulação do clima, a manutenção do ciclo hidrológico e do fluxo dos mananciais | Foto: Sarah Vianna

Os ganhos com a recomposição diversificada de espécies da flora permitiriam que áreas agrícolas se beneficiem dos serviços ambientais, como a interação flora-fauna com a polinização e controle biológico de pragas e doenças. A recuperação da cobertura vegetal seria capaz de diminuir a ação negativa do excesso de radiação solar e dos processos erosivos do solo, possibilitando também condições melhores do meio para um processo de recuperação. Isso tudo sem contar que a vegetação conservada sequestra e armazena carbono, que em excesso na atmosfera contribui para as mudanças climáticas globais.

Especialistas são categóricos ao afirmarem que esse seria um atalho para um novo desenvolvimento regional socioeconômico pós-pandemia. Então por que ainda encontramos tantos empecilhos dos governos locais do Semiárido? Por que é tão difícil de encontrar mudas nativas produzidas localmente para restauro florestal? E por que o desmonte de órgãos oficiais, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), criados justamente para gestar e ajudar a criar estratégias de restauro e uso sustentável nas Unidades de Conservação?

É uma pena que esse bioma ainda não seja reconhecido como patrimônio nacional. O ano de 2020 foi marcado pela demonstração de despreparo em nível global para principalmente questões de saúde evidenciadas pela pandemia, como também climáticas, evidências pelas queimadas. Isso posto em um contexto regional, o esforço de estados e municípios do Nordeste em recuperar esse bioma pode servir de lição ao resto do Brasil, já que a Caatinga permanece viva na identidade cultural do brasileiro e, acima de tudo, do nordestino.

Muito além de cactos e solo rachado, que persistem no imaginário coletivo, a Caatinga esconde riquezas naturais subestimadas que só conhece quem vive no Sertão do Semiárido brasileiro.

* Sarah Viana é engenheira florestal e José Reinaldo é engenheiro ambiental. Ambos trabalham na PlantVerd Serviços Florestais e estão atuando em projeto de recuperação na área da Floresta Nacional de Sobral, no Norte do Ceará 

Sem Comentários ainda

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Pular para o conteúdo