Mais de 50 estudos estão listados no site da Associação Caatinga (AC), incluindo trabalhos de graduação, mestrado, doutorado, publicações em periódicos científicos e livros

Dois macacos apoiados em finos galhos de uma árvore com verde por todos os lado. O maior está mais abaixo para o lado direito da imagem e tem um tom marrou escuro. O menor está mais acima, à esquerda, e tem uma pelagem mais avermelhada
O Projeto Guariba já monitora o primata há alguns anos na Reserva Natural Serra das Almas | Foto: Robério Freire Filho

“A Serra das Almas é uma das poucas áreas de Caatinga preservada do Ceará. O restabelecimento natural de sua fauna, como resultado de sua conservação, se manifesta com o retorno espontâneo de guaribas, pacas, tatus-bolas, e constantes novos registros de aves, como dos recentes encontros com o papa-lagarta-de-euler (Coccyzus euleri) e o tuju (Lurocalis semitorquatus), por biólogos da Aquasis. Isso reforça ainda mais a importância desta reserva perante o estado geral de defaunação que assola a Caatinga como um todo, fazendo desta reserva não só um refúgio para fauna, mas também um laboratório vivo essencial para a pesquisa”.

A declaração é do biólogo Fábio Nunes, mestre em Ecologia e Recursos Naturais e coordenador do Projeto Periquito-Cara-Suja, da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis). Para concluir, ele reforça: “cada vez mais, a Reserva Natural Serra das Almas (RNSA) torna-se uma referência para se compreender a importância e a riqueza da Caatinga preservada, e deverá orientar a conservação deste bioma para o futuro, incluindo sua refaunação”.

Fábio Nunes e o biólogo Weber Girão, também da Aquasis, participaram da execução do Guia de Aves da Reserva Natural Serra das Almas, publicação lançada em 2021. Mas, como Fábio destacou, as descobertas de novas espécies não param na Reserva.

Pássaro cinza com o pescoço e peito mais claros pousado num fino galho com uma lagarta no bico
O papa-lagarta-de-Euler foi a mais recente descoberta da Aquasis, na Reserva | Foto: Fábio Nunes

Entre os estudos destacados pela Associação Caatinga, no lugar, está o monitoramento da mastofauna com foco em felinos e primatas, do Projeto Guariba, que é apoiado pelo projeto No Clima da Caatinga, realizado pela Associação Caatinga e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

O estudo consiste na captura de imagens da fauna local, por meio de armadilhas fotográficas, com o teste de novas metodologias em diferentes tipos de ambientes, para melhor compreensão da distribuição das espécies na RNSA e a proposição de ações mais efetivas de conservação.

O monitoramento é focado nos felinos, animais topo de cadeia, para descrever os ambientes utilizados por eles; e nos primatas, devido à confirmação da existência da espécie guariba (Alouatta ululata). A presença de predadores de topo é um indicativo de integridade ambiental, e essas informações são estratégicas no desenho de corredores ecológicos para conectar fragmentos florestais e contribuir para a conservação de áreas prioritárias.

O biólogo Robério Freire Filho, primatólogo, mestre em Biologia da Conservação, PhD em Biologia Animal e coordenador ambiental do Projeto Guariba, vem desenvolvendo pesquisas no território da RNSA desde 2020. Ele orientou o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) “Inventário de Fauna Arborícola da Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra das Almas: potencial do armadilhamento fotográfico arbóreo na Caatinga”, de Tatiana Isabel Braga Lopes, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e já levou alguns trabalhos desenvolvidos no local para congressos.

Atualmente compara as populações de mamíferos terrestres na reserva com uma área de fazenda de gado em termos de abundância, diversidade e atividade dos animais. O trabalho com mamíferos de médio porte começou neste ano e precisa de pelo menos um ano para começar a avaliação dos dados. “Fazemos o monitoramento de primatas e percebemos que a população de guaribas vem crescendo lentamente, o que é esperado”, ressalta.

Foto da metade da cara de uma onça-parda desfocada no lado esquerdo da imagem. Do lado direito é possível ver a terra e ao fundo vegetação
A onça-parda é um dos animais monitorados pelas armadilhas fotográficas espalhadas pela área da reserva

Menos Estudado

A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro, predominante no Nordeste, e abriga aproximadamente 4.974 espécies de plantas e animais únicos, como o tatu-bola, o mocó e o soldadinho-do-araripe.

O bioma Caatinga é o menos pesquisado do Brasil e a Associação Caatinga (AC) tem se dedicado a promover e incentivar estudos acadêmicos com o objetivo de aumentar o conhecimento científico sobre a região. Ao longo dos anos, a AC contribuiu significativamente para a realização de diversas pesquisas científicas e fomentou descobertas importantes sobre a Caatinga.

Segundo Gilson Miranda, Gestor da Reserva, a Associação Caatinga incentiva pesquisadores de todo o Brasil e do mundo a desenvolverem estudos na Unidade de Conservação (UC). “Já realizamos inúmeras parcerias de sucesso”, afirma, com o destaque de que as propostas de pesquisa passam por análise e autorização da equipe técnica da Associação.

As pesquisas realizadas na Serra das Almas, sejam pela equipe da AC ou por parceiros, estão listadas no site da Organização Não Governamental (ONG). São mais de 50 estudos, como Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs), dissertações de mestrado, teses de doutorado, publicações em periódicos científicos e livros.

Principais pesquisas

  • Monitoramento de felinos na RPPN Serra das Almas
  • Identificação de áreas prioritárias para conservação do tatu-bola (Tolypeutes tricinctus)
  • Identificar um agente biológico para combater a invasão da unha-do-diabo (Cryptostegia madagascariensis) nos carnaubais
  • Estudo desenvolvido pela BR Carbon para aferição de quanto CO2 equivalente está sendo mantido e protegido e quanto pode ser sequestrado da atmosfera pela floresta. Até o momento já foi comprovado que a Serra das Almas estoca 1.647.239,37 ton de CO2

Reserva Natural Serra das Almas

A RNSA, localizada entre os municípios de Crateús (CE) e Buriti dos Montes (PI), se destaca como um importante espaço para a realização dessas pesquisas. Gerida pela Associação Caatinga, a RNSA cobre, atualmente, 6.285 hectares, protege quatro nascentes, estoca 1.647.245 toneladas de CO², evita o escoamento de 4,8 bilhões de litros de água por ano, além de oferecer sete trilhas ecológicas, réplicas de animais em tamanho real e infraestrutura completa para visitantes e pesquisadores, incluindo alojamento, laboratório, auditório e viveiros de mudas nativas.

Serviço

A RNSA está aberta para visitação todos os dias da semana, mas é necessário agendar a visita com pelo menos quatro dias de antecedência pelo telefone (88) 99955-6570 ou pelo e-mail caatinga@acaatinga.org.br

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