Começa o mês de março, que a cada ano significa mais luta das mulheres por respeito e equidade num mundo ainda tão centrado nos homens. Nesta data, vamos falar um pouco sobre a importância das mulheres no mundo da ciência.

A Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência é formada por Luisa Diele-Viegas e Luciana Leite (em pé); e Gabriela De La Rosa e Caren Queiroz de Souza (sentadas)

Por Andréia Vitório
Colaboradora

Salvador – BA. Questões de gênero e a importância da ciência são pautas do momento. O que muita gente pode não saber é que, se depender das mulheres, as pesquisas no Brasil não param. De acordo com o Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), elas representam 54% dos estudantes de doutorado no Brasil, número que subiu 10% nos últimos 20 anos. Quando o assunto é Ciências da Vida e da Saúde, as mulheres também lideram, ocupando 60% das vagas.

Não é só o número que surpreende. A dificuldade enfrentada também é grande: “ambientes hostis a mulheres fazem com que muitas desistam dos seus sonhos. Raramente ocupamos posições de poder nos centros de pesquisa e os recursos disponibilizados para iniciativas desenvolvidas por mulheres ainda são menores do que os alocados para projetos liderados por homens. Muitos espaços estigmatizam a maternidade e não oferecem apoio necessário para que pesquisadoras possam conciliar maternidade e ciência. Assédios sexuais e morais, entre tantos outros problemas que assolam o Brasil, também permeiam a área”, conta a cientista Luciana Leite.

Nascida em Salvador, ela é bióloga formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), mestra em Conservação pela Cambridge University e doutora em Ecossistemas Florestais e Sociedade pela Oregon State University. É também cofundadora da Rede Kunhã Asé de Mulheres na Ciência, grupo nascido na UFBA e que hoje reúne mais de 60 mulheres em todo o Brasil e algumas brasileiras que estão fora do País.

Nascida em Salvador, Luciana Leite é bióloga formada pela UFBA, mestra em conservação pela Cambridge University e doutora em Ecossistemas Florestais e Sociedade pela Oregon State University

Entre elas está a coordenadora do Museu de História Natural da Bahia, bióloga e professora da UFBA Priscila Camelier. Ela integra o Semear, braço da Kunhã focado em aproximar as meninas da ciência, e outro coletivo, o Ictiomulheres.

Sobre como enfrentar a disparidade de gênero na área, Priscila diz: “é preciso, primeiro, reconhecer que ela existe. Além disso, falar sobre o assunto, conscientizar. Mulheres em cargos de liderança são fundamentais para servirem de inspiração. Em um mundo misógino e machista, é muito difícil avançar sem apoio. Redes como a Kunhã e tantas outras ajudam nesse fortalecimento”.

Para o trabalho com crianças e jovens, ela conta que são desenvolvidos diversos projetos que buscam mostrar às meninas da Educação Básica ao Ensino Médio que elas podem sim ser cientistas. Ações pragmáticas que visam promover melhorias para que meninas não desistam do fazer científico e mulheres não abandonem a carreira também estão na pauta da Kunhã Asé de Mulheres na Ciência.

Biólogas Dani Fraça, Cecília Licarião e Luciana Leite em ação no Pantanal nas queimadas de 2020

Reforço em diferentes etapas

A Rede luta por uma ciência mais inclusa e diversa com base em três linhas de atuação: Semear (ciência para meninas); Germinar (apoio intelectual e emocional para mulheres que acabam de ingressar na ciência); e Florescer (dar visibilidade a mulheres cientistas mais seniores).

Esse tripé tem razão de ser: meninas são levadas a acreditar que não são inteligentes o suficiente para serem cientistas. “Livros, filmes e programas de TV ainda estereotipam a figura dos cientistas que normalmente são apresentados como homens, brancos, cis, que fazem ciência dentro de laboratórios” destaca Luciana.

Na área, os caminhos enfrentados são tão desafiadores que o processo de perda de meninas e mulheres ao longo da carreira tem até nome: “vazamento de duto”. É como um cano cheio de furos, com um fluxo ininterrupto de talentos e potenciais que vão se esvaindo com o tempo.

Livro incentiva meninas

Para que mais mulheres possam se encorajar e seguir o sonho na ciência, Luciana Leite se uniu à ilustradora Mara Oliveira para elaborar o livro infantil “Os sonhos de Ágatha”, lançado no Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, 11 de fevereiro passado.

A publicação conta a história de uma menina cativante que sonha ser cientista, passeando por diferentes campos do saber. São abordados temas como ancestralidade, biodiversidade e mudanças climáticas. Assuntos para inspirar longos bate-papos entre pais, filhos, professores e alunos.

“A inspiração veio de conversas informais com colegas cientistas que tiveram suas infâncias permeadas pela falta de incentivo a carreiras em ciência. Buscamos despertar a curiosidade de meninas sobre diferentes áreas do conhecimento e, ao mesmo tempo, reforçar a mensagem de que meninas e mulheres podem ser o que elas quiserem”, explica a autora.

Serviço

O livro “Os sonhos de Ágatha” pode ser adquirido pelo site www.lojabemteouvi.com.br

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