Jornada esteve em Barcelona, onde cumpriu agenda intensa de reuniões com o Parlamento da Catalunya, Direção Geral de Cooperação ao Desenvolvimento, Prefeitura de Barcelona e palestra | Foto: Adriana Pimentel

Barcelona – ES. O que você está comendo? O que está vestindo? De onde vêm os produtos que está comprando? Esses foram alguns dos questionamentos que a comitiva do Jornada ‘Sangue indígena: nem uma gota a mais’ fizeram às autoridades e à sociedade civil na Europa para alertar que boa parte dos produtos que chega neste continente, vinda do Brasil, é regada com o sangue indígena. Uma forma de evitar essa cadeia nociva a todos é a rastreabilidade. Assim, todos teriam a informação correta da origem do produto.

Na segunda-feira (18), Sônia Guajajara, Elizeu Guarani Kaiowá e Kretã Kaingang, três representantes da delegação da jornada ‘Sangue indígena: nem uma gota a mais’, que visitou 12 países europeus em 35 dias, estiveram em Barcelona, onde cumpriram agenda intensa de reuniões com o Parlamento da Catalunya, Direção Geral de Cooperação ao Desenvolvimento, Prefeitura de Barcelona e encerraram a programação na cidade com uma palestra, que na realidade foi um chamado de união de forças, na sede da Organização pela Justiça Global (Fede.cat), com diversos coletivos, entre eles o Mulheres Brasileiras Contra o Fascismo em Barcelona, que apoia a luta dos povos originários.

Sônia Guajajara, Elizeu Guarani Kaiowá e Kretã Kaingang, três representantes da delegação da Jornada Sangue Indígena, Nem Uma Gota a Mais, que visitou 12 países europeus em 35 dias | Foto: Adriana Pimentel

Consumo Responsável

Para Sônia Guajajara, foi plantada uma semente na Europa alertando para essa urgência de defender e proteger o meio ambiente, que não é uma luta só indígena, “uma responsabilidade só nossa, nós já estamos sendo impactados, nossas lideranças já estão morrendo, nosso povo já está sofrendo com as mudanças climáticas, e é urgente fazer esse chamado, mas, a sociedade civil, os consumidores também precisam fazer essa pressão, cobrar de seus parlamentares e ter um consumo responsável”.

Povos indígenas X especulação imobiliária

A Delegação celebra uma conquista contra a especulação imobiliária nas terras indígenas da comunidade Tupinambá de Olivença, na Bahia, que foi o cancelamento do projeto de hotel de luxo da empresa Vila Galé, anunciado também nessa segunda (18). Guajajara destacou que a empresa, que é do setor imobiliário de Portugal, e que já tem muitos resorts no Nordeste do Brasil, agora estavam pressionando o governo Brasileiro para anular o processo de demarcação de terras indígenas para dar espaço para eles construírem dois resorts, o que impactaria diretamente o meio ambiente e a comunidade Tupinambá de Olivença.

Afirmou, ainda, que, com essa jornada, levaram um documento que foi protocolado no Ministério Público Federal (MPF). A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) entrou com essa ação na Procuradoria Geral da República no Brasil. A delegação entregou, em Portugal, nas cidades de Porto e em Lisboa, e também no Parlamento, fazendo essa denúncia e assim a população portuguesa pode cobrar a Villa Galé e exigir que eles não interferisse nos territórios e afetar a vida dos povos indígenas, então foi uma mobilização internacional onde muitos movimentos se manifestaram.

Os indígenas levaram às autoridades europeias preocupação os problemas na origem dos produtos que estão importando | Foto: Adriana Pimentel

Uma luta contra o ecocídio

Segundo Kretã Kaingang, o Governo Brasileiro se declarou inimigo dos povos indígenas e está desmontando toda a política dos últimos 30 anos. “Uma das questões que comprova essa afirmação é que saímos de 197 tipos de agrotóxico que estavam liberados no Brasil e agora são mais de 400 já liberados no País, é isso é um risco muito grande de contaminação dos rios e das águas, hoje temos várias crianças indígenas com problemas de pele entre outras enfermidades. Estamos chamando a comunidade europeia para prestar apoio, e se responsabilizar pela exigência de leis eficazes”, destaca.

São 350 povos indígenas diferentes, que falam 274 línguas diferentes, afirma a delegação, ressaltando que o reconhecimento destes povos e culturas está ameaçado pelas atuais políticas brasileiras. Para Elizeu Guarani Kaiowá, representante da segunda maior população indígena do Brasil, “a defesa da terra, que é a nossa ‘mãe’, é algo urgente, na nossa Região, em Mato Grosso do Sul, não existe mata, ela foi extinta pela plantação de soja, cana-de-açúcar e pasto para o gado e nossa missão aqui na Europa é trazer esse conhecimento e conscientizar que é uma luta de todos e a demarcação de nossos território é uma garantia de defesa da vida”.

‘Nossos Lideres são assassinados’

Sonia Guajajara destaca que o seu território indígena Araribóia, no Estado do Maranhão, é também um dos que está sendo duramente impactado por essa pressão, essa violência programada. “Tivemos o assassinato do Paulo Paulino Guajajara, por madeireiros, por conta da exploração ilegal da madeira. A morte do Paulino é um retrato do que está acontecendo em todo o Brasil. O chamado é para os territórios indígenas brasileiros, que precisam ser demarcados, ser protegidos e ter as condições para que a gente possa fazer a gestão sustentável, que é o que a gente já faz com o nosso modo de vida natural. É muito importante respeitar os modos de vida. O agronegócio vem pressionando, as mineradoras vêm pressionando, as madeireiras vêm pressionando, tudo está aí para que os povos indígenas percam a sua identidade e fazemos essa luta em defesa do território porque, sem esses territórios garantidos, não vamos conseguir viver e exercer os nossos modos de vida. A nossa luta é por nós e pelo bem do Planeta”, declarou.

Saldo positivo

Para a delegação, as respostas e o compromisso de autoridades, tanto em Barcelona como em outras cidades da Europa, em atuar de forma mais eficaz na luta em defesa dos povos originários é um saldo positivo e incentivador que levam de volta ao Brasil. E renova as forças para seguir lutando pela reforma agrária, demarcação dos territórios indígenas, regularização dos territórios de povos quilombolas, garantia das unidades de conservação, subsídio da Agricultura Familiar e a Agroecologia.

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