Por Priscilla Costa
Colaboradora

Recife. Até 2020, os jardins botânicos deverão ter 75% das espécies de plantas em risco de extinção conservadas em coleções científicas e, pelo menos, 20% disponíveis para programas de recuperação florestal. Em Pernambuco, o compromisso em atender uma das metas da Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC), da Organização das Nações Unidas (ONU), vem sendo levado a sério pelos pesquisadores do Jardim Botânico do Recife (JBR), situado às margens da BR-232, no bairro do Curado, Zona Oeste da capital pernambucana. A equipe iniciou um cronograma permanente de coleta de sementes da flora ameaçada da Caatinga e Mata Atlântica, biomas predominantes no Estado. A ida a campo será uma vez ao mês, em locais distintos.

Na lista dos lugares a serem visitados, a expedição começou pelo município de Serra Branca, na Paraíba, onde cerca de 24 espécies foram colhidas, dentre as quais a jurubeba-braba (Solanum jabrense) e a Harpochilus neesianus, espécie endêmica da Caatinga.

Outro local a ser explorado pelos pesquisadores será o Parque Nacional do Catimbau, a menos de 300 Km do Recife, e que abrange os municípios de Buíque, Ibimirim, Sertânia e Tupanatinga, entre o Agreste e o Sertão pernambucano. Território protegido por lei, essa Unidade de Conservação (UC) se destaca por salvaguardar uma vasta Biodiversidade e colecionar um leque de descobertas científicas – um dos porquês de ser um dos lugares mais explorados por pesquisadores da área.

Todo o material coletado será reintroduzido nas coleções do JBR. Lá, os exemplares ficarão à disposição dos pesquisadores para que as particularidades biológicas de cada espécie sejam analisadas por meses à frente. Essa etapa é primordial para garantir a multiplicação delas, seja no Botânico ou em meio à natureza (veja quadro).

Esse minucioso estudo justifica o porquê de a planta levar um longo período para ser, de fato, exposta para visitação pública nos jardins temáticos do JBR ou reintroduzida em floresta aberta. “Mas, geralmente, optamos por expor ao público, já que a Educação Ambiental é um dos braços para alcançar a conservação. Como sensibilizar as pessoas sobre os riscos que determinada espécie corre de desaparecer da natureza sem mostrá-la?”, explica o analista de Desenvolvimento Ambiental do JBR, Jefferson Maciel.

Já para os exemplares escolhidos para reintrodução na natureza, ressalta o analista, e revista uma série de critérios antes do plantio em campo. “Por isso que é tão importante estudar as características, particularidades, morfologia e as condições ambientais de cada espécie. Ao entender o comportamento de cada uma na natureza, que são definidas as áreas-chaves que iremos inserir as populações”, reforça Maciel, que tem doutorado em Biologia Vegetal. Ele adiantou que uma das espécies coletadas na Paraíba, listada no livro vermelho nacional, está o jacarandá rugosa (Bignoniaceae). Antes com registro apenas no Vale do Catimbau, os analistas ambientais do Botânico atualmente estudam o exemplar para plantá-lo em campo futuramente.

Segundo Jefferson Maciel, o programa de coleta não só tem o objetivo de enriquecer o acervo botânico do JBR, mas contribuir com iniciativas futuras, como projetos de pesquisa científica, paisagísticos e de Educação Ambiental. “No decorrer de pesquisas, pode-se descobrir um potencial remédio para combater um câncer por meio da propriedade de uma planta, uma nova forma de alimento ou até mesmo a descoberta de elementos que melhorem geneticamente uma outra planta que já é utilizada por produtores agrícolas”, destaca o pesquisador.

Centro de Endemismo Pernambuco

Porção de Mata Atlântica que abrange os estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, o Centro de Endemismo Pernambuco (CEP) tem importante significado biológico e, neste contexto, o Jardim Botânico do Recife tem protagonismo como uma área relevante no Norte-Nordeste por contribuir com a conservação do ecossistema por estar no coração do CEP.

“O Centro (de Endemismo Pernambuco) apresenta um conjunto de espécies da flora ameaçado de extinção, em ambos os biomas (Mata Atlântica e Caatinga). Diante desta realidade, mais do que cumprir a Estratégia Global para a Conservação de Plantas, como pesquisadores, nos vemos na obrigação de salvaguardar essa Biodiversidade para que ela não desapareça”, conclui Jefferson Maciel.

Da coleta ao Jardim Botânico
São várias as etapas até a chegada do material coletado ao Botânico

  • São definidas as áreas prioritárias para coleta de sementes ou propágulos (estaquinhas da planta ou outras partes vivas da planta)
  • Definidas as áreas, os pesquisadores vão a campo fazer a identificação e coleta das populações de flora
  • Feita a coleta, todo o material segue para as coleções científicas do Jardim Botânico, onde são cultivadas. Em caso de sementes, elas são colocadas para germinação pelos analistas do JBR
  • Durante esse processo, estudos são feitos paralelamente ao desenvolvimento da planta. Morfologia e características biológicas, por exemplo, são uns dos itens estudados
  • Concluídas as pesquisas, alguns exemplares seguem para exposição pública por meio dos jardins temáticos do JBR e outros são escolhidos para plantio em campo

Fonte: Jardim Botânico do Recife

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