Por Alice Sales
Colaboradora

Fortaleza -CE. Após o lançamento do inventário de fauna de vertebrados do Ceará, em fevereiro, está em elaboração o inventário de flora, previsto para ser lançado nos próximos meses. O projeto será apresentado nesta quarta-feira (31), durante a programação da I Semana de Flora do Ceará, promovida pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema). Ambos os documentos têm como intuito reunir um compilado de informações sobre espécies de vegetais e animais existentes na natureza cearense e são resultados do Programa Cientista-chefe Meio Ambiente, liderado pela Sema e pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).

O projeto do inventário de flora será apresentado durante uma mesa redonda às 9h desta quarta-feira e que será transmitida por meio de uma live no YouTube (SemaSecretariadoMeioAmbiente). Na ocasião, serão destacados aspectos metodológicos a serem aplicados, além do debate sobre a importância da conservação da flora nativa e de pesquisas para subsidiar estratégias de conservação da natureza. A ideia é que a ferramenta auxilie na elaboração de políticas públicas para a conservação da biodiversidade, estudos de biotecnologia e avaliação de impactos ambientais para empreendimentos.

“Nós ainda não sabemos que vegetação temos em abundância no Ceará, quais são aquelas que estão ameaçadas de extinção e aquelas que já foram extintas. Esse trabalho tem o objetivo de mapear a flora cearense. Saber quais espécies estão ameaçadas é fundamental para a tomada de decisões que visam a conservação”, ressalta Artur Bruno, secretário do Meio Ambiente do Estado.

E completa: “Isso será importante também no âmbito dos licenciamentos ambientais. Nós vamos saber se naquela área do empreendimento há espécies ameaçadas de extinção e para isso nós vamos evitar que ocorra desmatamento naquele território”.

De acordo com Marcelo Soares, pesquisador da Universidade Federal do Ceará (UFC) que está à frente da iniciativa, os inventários têm um papel importante para a conservação da fauna e flora cearense, já que antes de estabelecer políticas de conservação, proteção e desenvolvimento sustentável, é necessário primeiro conhecer as espécies existentes. “Precisamos antes de tudo de um diagnóstico da nossa biodiversidade para intervir, de modo que a gente possa conservar essas espécies e colaborar com o desenvolvimento sustentável”, explica.

O pesquisador destaca ainda a relevância da conservação e da produção de conhecimento científico sobre as espécies, como aliadas à economia e ao desenvolvimento: “o Brasil tem um grande potencial de bioeconomia, por que é um dos países mais ricos do mundo em recursos naturais e nós podemos usá-los de maneira sustentável. Nossas universidades, em estudos, já descobriram, inclusive, vários fármacos e remédios até mesmo para o tratamento do câncer, nas espécies nativas que nós temos. O Estado do Ceará está sendo pioneiro neste trabalho e essa é uma política que outros estados podem adotar para conhecer melhor a biodiversidade de seus territórios”.

Inventário de fauna

No inventário de fauna de vertebrados é possível encontrar uma relação de 140 espécies de mamíferos (115 continentais e 25 marinhos), 443 espécies de aves, 133 de répteis, 57 de anfíbios e 502 de peixes (400 marinhos e 102 continentais), totalizando 1.287 espécies de animais no Ceará. O compilado é um trabalho conjunto entre pesquisadores da UFC, Universidade Estadual do Ceará (Uece) e Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis).

De acordo com Weber Girão, pesquisador da Aquasis e responsável pelo levantamento de espécies de aves do inventário, uma das principais contribuições dessa ferramenta será o subsídio à elaboração da Lista da Fauna Ameaçada do Ceará, que deverá trazer uma maior atenção para essas espécies por parte da sociedade e das autoridades ambientais, além de subsidiar estratégias de conservação desses animais e seu habitat.

A lista compila informações provenientes de trabalhos de campo, coleções e publicações científicas. “Nossas metodologias contam com o apoio das universidades e ONGs a fim de reunir conhecimento científico. Para a construção do inventário de fauna, consultamos informações de coleções, museus, de trabalhos acadêmicos feitos ao longo das últimas décadas, além de relatórios de pesquisas, bases de dados públicos que nos serviram como apoio para a construção desse documento”, ressalta Marcelo Soares.

Como contribuições para a elaboração desse trabalho, Marcelo Soares destaca um esforço de anos atrás por parte de cientistas do passado e cita o naturalista Dias da Rocha como exemplo: “A influência de Dias da Rocha foi fundamental, por se tratar de um dos nossos primeiros grandes naturalistas cearenses. A ciência é uma das coisas mais lindas da humanidade, por que a gente sobe nos ombros de gigantes, ou seja, nós usamos o conhecimento do passado para poder enxergar mais longe e avançar”.

Os dados reunidos no inventário estarão disponíveis no site da Sema (www.sema.ce.gov.br/fauna-do-ceara) com livre acesso e serão atualizados, online, pelos pesquisadores, à medida que ocorram novos registros de espécies. De acordo com o pesquisador, um inventário de fauna invertebrada também deverá ser elaborado em breve, como produto do Programa Cientista-Chefe.

Semana da Flora no Ceará

A I Semana da Flora do Ceará teve início na última segunda-feira (29), e terá seu encerramento nesta quarta-feira (31) com o lançamento do projeto de inventário de flora. O evento veio para substituir a Festa Anual das Árvores, como explica Artur Bruno: “a última semana de março seria a data onde as regiões Norte e o Nordeste deveriam comemorar o Dia da Árvore, por isso há alguns anos, no Ceará, realizamos a Festa Anual das Árvores. Neste ano, entendemos que não é um momento de festa e mudamos o nome do evento, que deu origem à I Semana da Flora no Ceará”.

O secretário de Meio Ambiente destaca que “o momento não é de festas, mas é de reflexão, de debate e de ação”. Em uma programação on-line, o evento conta com uma série de atividades ecológicas incluindo mesa redonda sobre viveiro e plantio de mudas, exposição das unidades de conservação em trilhas e passeio de barco virtuais, transmitidas por meio de lives, além do lançamento do projeto de inventário de flora.

Como uma das atividades, o evento ofereceu ao público a oportunidade de acompanhar uma trilha virtual pela Área de Relevante Interesse (Arie) do Sítio Curió. Transmitida pelo canal da Sema, no YouTube e pelo Facebook, a trilha foi orientada pela Gestora da Arie, Izaura Lila. “Popularmente, conhecida como Floresta do Curió, a Unidade de Conservação (UC) abriga 92 espécies da fauna, apresenta rica biodiversidade e uma flora representada principalmente, pelo jatobá, timbaúba, cedro, visgueiros e catanduva”, explicou.

Segundo Leonardo Borralho, articulador de Unidades de Conservação (UCs) da Sema, o momento é oportuno para o aprendizado, a partir da imersão na trilha e no passeio de barco pelo Rio Cocó. Borralho apresentou a navegação virtual sobre o estratégico recurso hídrico. “Este é um rio muito importante não só para a Capital, mas para toda a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), pois a sua Bacia Hidrográfica cobre dois terços dessa área, além do que dá nome ao Parque Estadual do Cocó“, explicou.

E completou: “O Rio Cocó nasce em uma UC estadual, na Serra da Aratanha, percorre 48 km até chegar à foz, nos limites das praias do Caça e Pesca e da Sabiaguaba”.
Em seguida, os internautas puderam apreciar a partir da proa do barco do Tenente Araújo, uma viagem silenciosa, de observação da natureza.

Cientista- Chefe

O Cientista-Chefe é um programa do Governo do Estado do Ceará, criado na atual gestão da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), com o desejo de aliar a produção científica acadêmica com as necessidades do setor público, e, desta forma, proporcionar mais qualidade de vida para a população cearense, desenvolvendo políticas públicas em áreas estratégicas.

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