Por Alice Sales
Colaboradora
Fortaleza – CE. Pesquisadores retornam, nesta quinta-feira (29), das margens do Rio Poti, entre a divisa dos estados do Piauí e Ceará, onde participaram da II Expedição Tatu-Bola. A jornada é uma iniciativa da Associação Caatinga, em parceria com a Fundação Grupo Boticário, e conta com o apoio técnico da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do Piauí (Semar).
A expedição faz parte do Programa de Conservação do Tatu-bola, cujo objetivo é identificar e preservar áreas de ocorrência do animal, com o intuito de garantir ambientes seguros para desenvolvimento e reprodução da espécie, além de verificar se o Rio Poti pode ser ou não uma barreira natural.
A busca por exemplares de Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) pela região dos Cânions do Poti contou com a participação de sete pesquisadores, dentre eles Rodrigo Fonseca, fotógrafo do National Geographic Channel, e Flávia Miranda, veterinária de animais silvestres responsável pelo Programa de Conservação do Tatu-bola. “Nessa edição, percorremos uma área nova para compararmos dados biológicos e aumentar o número amostral de espécies”, explicou.
Durante a expedição, que teve início no município piauiense de Buriti dos Montes e seguiu para o povoado de Conceição dos Marreiros, os pesquisadores entrevistaram moradores locais para identificar possíveis áreas para localização do Tatu-bola. Além disso, a equipe aproveitou a oportunidade para realizar ações de Educação Ambiental nas escolas das comunidades da região com o intuito de informar sobre a importância da preservação da espécie.
Espécie ameaçada
O Tatu-bola, espécie encontrada na Caatinga, único bioma genuinamente brasileiro, segue na luta para sobreviver. A espécie perdeu 50% da sua população, nos últimos 27 anos, em decorrência do desmatamento, caça predatória e perda de habitat.
Por causa disso, o animal passou do estado de conservação “vulnerável” para “em perigo” na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), o que indica extinção em curto prazo. Atualmente, a maioria dos indivíduos sobrevive apenas em Unidades de Conservação (UCs), com baixa densidade humana.
Por esse motivo, as iniciativas de preservação e conservação da espécie são tão importantes. A Associação Caatinga faz parte da coordenação executiva do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação do Tatu-bola.
O PAN Tatu-bola foi elaborado em 2014 e é voltado para a conservação de duas espécies de tatus-bola: o tatu-bola-do-nordeste, que vive predominantemente na Caatinga e em algumas áreas de Cerrado, e tatu-bola-do Centro-Oeste (Tolypeutes matacus), que tem maior incidência na região do Pantanal e em algumas áreas de Cerrado.
A Primeira Expedição
Em 2016, a Associação Caatinga realizou, com parceiros, uma primeira expedição ao Cânion do Poti, com o objetivo de mapear áreas de ocorrência do Tatu-bola. Durante dez dias de pesquisas em campo nas matas dos municípios de Buriti dos Montes, Castelo do Piauí e São Miguel do Tapuio, foi possível encontrar cinco exemplares da espécie, dispersos em três localidades.
A aventura resultou em importantes dados para estudos sobre a espécie e que subsidiaram a criação do Parque Estadual do Cânion do Rio Poti, em 2017. A expedição também teve como fruto o curta metragem “Expedição Tatu-bola ao Cânion do Rio Poti”, disponível na plataforma YouTube, que conta toda a trajetória dos pesquisadores nessa primeira jornada.
O biólogo Samuel Portela, presente na equipe de pesquisadores, destaca que a primeira expedição foi uma experiência importante para a conservação do animal, pois nela foi possível confirmar a presença da espécie na área de abrangência do Programa Tatu-bola e conhecer mais sobre o ambiente em que ele vive, como, por exemplo, o tipo de vegetação, de solo e um pouco dos seus hábitos.
Proteção da Carnaúba
A Associação Caatinga foi criada em 1998, com o objetivo de constituir um território preservado para a proteção da Carnaúba. Esse espaço se tornou a Reserva Natural Serra das Almas, a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Ceará. São mais de 6.000 hectares de área protegida que resguardam três nascentes e espécies ameaçadas de extinção. A Associação também atua em 40 comunidades rurais onde promove ações visando o Desenvolvimento Sustentável para aproximadamente 3.600 famílias.