O incêndio teve grandes proporções e foi combatido por bombeiros, brigadistas e voluntários. Árvores e animais foram consumidos pelas chamas | Fotos: Davi Pinheiro / Hugo Fernandes

Por Maristela Crispim *
Editora-chefe

Fortaleza – CE. O dia amanheceu diferente em Fortaleza. Parecia que ia chover, parecia névoa, mas o calor logo cedo e o forte cheiro de queimado denunciavam algo diferente. Primeiro veio a sensação de náuseas; depois, sufocamento; e pouco antes de a garganta começar a arder, a notícia: o Parque Estadual do Cocó estava pegando fogo. Daí todo o mal estar físico deu lugar a um misto de ansiedade e de tristeza: parte da maior área verde de Fortaleza sendo consumida pelo fogo, assim como animais que habitam aquele ambiente.

“É desesperador a gente ver a nossa biodiversidade sendo carbonizada por todos os lados, toda hora a gente tem uma notícia nova e até então tudo parecia ser tão longe, na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado. E de repente agora está no nosso quintal e hoje eu recebo várias mensagens das pessoas me perguntando o que tá acontecendo, a cidade toda com cheiro de queimado, tudo com cheiro de fumaça. E isso me trouxe memórias emocionais da situação que eu vivi em 2020 no Pantanal, de presenciar toda essa tragédia, toda essa desgraça”, desabafou a bióloga Cecília Licarião que participou dos combates aos incêndios e dos resgates de fauna no Pantanal, quando em 2020 as queimadas destruíram cerca de 4 milhões de hectares.

“Em relação ao Parque do Cocó, eu realmente optei por não ir, por não ver com meus próprios olhos, por não participar disso presencialmente, porque em 2020 para mim foi muito traumatizante, muito desesperador estar diante de tantos animais tão importantes para o equilíbrio de tudo isso e a gente ver tudo queimado, tudo carbonizado, alguns ainda com vida, mas que acabam tendo que ser eutanasiados porque não têm como voltar para a natureza. É uma redoma de sofrimento muito grande. É difícil a gente trabalhar com conservação neste País. Eu trabalhei dois anos no Parque Estadual do Cocó”, lamentou.

Ainda pela manhã, consegui falar com o professor do curso de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Hugo Fernandes, esposo de Cecília, que estava no local atuando como brigadista voluntário. Segundo o biólogo, o fogo começou ontem (17) por volta das 18 horas. “Os bombeiros estão aqui a noite inteira. Estava até agora com o secretário de Meio Ambiente, Artur Bruno. Ele falou que foi o maior fogo que ele viu nesses sete anos de Secretaria. Isso é confirmado aqui pelo pessoal. Estão aqui os bombeiros militares, o pessoal do Previna, que são brigadistas civis e mais alguns brigadistas civis voluntários, como é o meu caso”, relatou.

“Agora, o fogo está entre a Murilo Borges e a Raul Barbosa, nessa região mais aberta do Parque do Cocó, o que é um problema porque tem muito material combustível para queimar ainda. Está muito seco, a gente olha pra cima e não tem nenhum sinal de umidade, chuva. E tem um vento forte, o que torna a situação mais difícil, mais perigosa”, continuou.

Sobre fauna e flora, ele disse que é muito cedo ainda para falar sobre qualquer tipo de impacto: “A gente já vê alguns animais mortos aqui, eu estou segurando um neste momento. Mas é cedo. O objetivo agora é apagar o fogo e depois calcular impacto e, óbvio, a gente tem aqui biólogo também, se tiver necessidade de fazer um resgate de fauna, faremos, mas agora está todo mundo concentrado em apagar as chamas”.

Ainda pela manhã, o titular da Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema), Artur Bruno disse: “Nós estamos aqui no bairro Salinas, na fronteira com o bairro Tancredo Neves, onde está ocorrendo o incêndio. Desde ontem à noite o Corpo de Bombeiros está fazendo o combate. Hoje pela manhã, a nossa brigada florestal de 18 brigadistas também está trabalhando, fazendo aceiro para evitar que o fogo se espalhe para outras áreas”.

E explicou: “É um combate muito difícil porque aqui é uma área próxima ao Rio Cocó. No primeiro semestre, fica alagada e, no segundo semestre, vira um grande capinzal seco. E com esse capinzal seco, com os ventos fortes, com alta temperatura, baixa umidade, esse fogo se espalha muito rapidamente. Hoje, o Corpo de Bombeiros está com três viaturas, um helicóptero do Ciopaer jogando água por cima porque é uma área que os caminhões não conseguem entrar, o que também dificulta o combate. Houve perdas de algumas árvores, não muitas, felizmente. Quando concluirmos o combate ao fogo vamos fazer a avaliação, tentar entender as causas e também quais foram as perdas em termos de fauna e de flora.”

Também consegui conversar com o biólogo e vereador Gabriel Aguiar, que esteve a manhã inteira atuando como brigadista voluntário ao lado do professor Hugo. Gabriel afirmou que este “é provavelmente o maior incêndio em uma UC (Unidade de Conservação) que a gente tem registro no passado recente aqui em Fortaleza. E como foi dito pelo próprio Corpo de Bombeiros, a gente não está falando de um incêndio, mas de 12. Foram 12 focos distintos, em diversos lugares, em uma área de proteção integral que é o Parque Estadual do Cocó, o que indica que foi uma ação orquestrada, um incêndio criminoso, com vários focos, vários pontos de ignição. O que nos preocupa bastante porque nós não sabemos exatamente a causa disso. Estamos agora aguardando as autoridades. O pessoal da inteligência, da Sema, vai fazer agora uma simulação para a gente entender melhor”.

“Eu acabei de sair do incêndio. A gente tem mobilizado agora o Ciopaer, bombeiros militares, bombeiros civis, o Previna que é o grupo de brigadistas florestais da Sema e alguns brigadistas voluntários também. O Prevfogo e Ibama acredito que estejam se somando a essa luta para conseguir debelar o fogo e controlar. O fogo segue ainda em algumas áreas. O ponto em que eu estava teve uma redução bem grande e essas áreas que foram controladas seguem agora com uma equipe monitorando, a do Corpo de Bombeiros, evitando que o incêndio retome nesses locais”, completou.

Sobre o impacto da fumaça na cidade, o vereador disse: “A gente não sabe até onde foi. A fumaça percorreu digamos que a cidade inteira. Ela pode ter até saído da cidade. Foi uma área muito grande. Eu sei que foi muito sentido da Aldeota, Dionísio Torres, Meireles, Fátima. Esses foram os bairros dos quais eu recebi muito contato, mas teve outros locais onde a fumaça chegou.”

* Colaborou Camila Aguiar

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