Barrinha é o torrador oficial de café do Sítio São Roque | Foto: Eduardo Queiroz

Mulungu – CE. Participar da Festa da Colheita do Sítio São Roque, no município serrano de Mulungu, a aproximadamente 120 quilômetros de Fortaleza, é uma experiência única. É possível sentir uma atmosfera permeada por um passado que fez da tradição da produção e consumo do café um caminho para a convivência sustentável com a natureza.

O cultivo foi iniciado pelo casal Alfredo e Amélia Farias, passou pela admirável dedicação do filho mais novo, Gerardo Farias, falecido em 2018, e hoje está nas mãos dos herdeiros, com destaque para as filhas Mônica e Tereza.

Isabelly Giffony, nora de Mônica, é nutricionista e conta que Alfredo e Amélia fundaram o sítio em 1913 e a primeira colheita foi em 1918, quando começou a Festa da Colheita, com os moradores, para encerrar o momento da colheita juntos. Em 2015, quando o sítio passou a integrar a Rota Verde do Café, os herdeiros decidiram resgatar este momento e abriram, pela primeira vez, para terceiros.

A acolhida aos visitantes é cercada de muito carinho por parte da família e dos moradores do Sítio São Roque | Foto: Eduardo Queiroz

Em 2016, foram lançados os cafés Alfredo e Amélia; em 2018, chegou ao público o café Gerardo e o clube de assinaturas. “A festa tem o intuito de celebrar o momento de colheita e lançar alguma novidade. Neste ano está sendo inaugurada a loja, Pedacinho do Sítio, para aproximar mais do consumidor”, explica Isabelly.

Tereza Farias, por sua vez, destaca que seu pai sempre preservou a biodiversidade e que vibrou com a criação da Área de Proteção Ambiental (APA), em 1992, pois sempre abriu o sítio para pesquisadores, sendo este um dos locais onde a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) instalou câmeras para observação do periquito-cara-suja (Pyrrhura griseipectus).

Mônica Farias destacou a importância da união da família, amigos e dos moradores do Sítio. Fez questão de chamar Barrinha, 61, morador desde os oito anos, para falar sobre as suas experiências e também para torrar café artesanalmente, um dos pontos altos da celebração da colheita.

Vera Couto, falou sobre os costumes das apanhadoras de café, ao lado das primas, Mônica e Tereza Farias, acompanhadas pelo morador do sítio, Barrinha, e seus amigos fieis | Foto: Eduardo Queiroz

Também convidou a prima, Vera Couto, para contar um pouco sobre as roupas, costumes e canções que as apanhadeiras de café entoavam na ida e na volta da colheita, fazendo mais um resgate histórico da atividade.

Como contou Isabelly, o Sítio São Roque iniciou suas atividades em 1913, quando Alfredo Farias e Amélia Queiroz Farias passaram a cultivar o café arábica typica sombreado em meio à Mata Atlântica preservada do Maciço de Baturité.

Posteriormente, a administração passou para o filho mais novo, Gerardo Farias, que fez questão de manter a tradição da família no cultivo do café artesanal e centenário e continuar o legado dos seus pais, passando para as gerações seguintes.

No Sítio São Roque, o visitante é convidado a conhecer a história da família juntamente com a do café da região por meio da trilha ecológica pelo cafezal; o casarão centenário, cercado de jardins; pela singela capela onde a família e a comunidade local costumam se reunir para comemorar os festejos religiosos; a fábrica de café e a torrefação artesanal, finalizando na lojinha com produtos orgânicos, receitas de família e souvenires.

O lugar é um recanto ecológico centenário que totaliza 24 hectares, onde o visitante é recebido num ambiente familiar e convidado a ouvir histórias sobre as memórias de vidas e vasto conhecimento sobre o café sombreado cultivado na região.

Referência no cultivo do café arábica sombreado, propicia aos visitantes o contato direto com todo o processo de beneficiamento do grão, desde o plantio até a torragem e degustação.

Visitar o Sítio São Roque é como mergulhar nos costumes de uma época em que a vida era bem mais simples e acolhedora | Foto: Eduardo Queiroz

Rota Verde do Café

O Maciço de Baturité é uma região do Estado do Ceará que abriga uma APA abrangendo 32.690 hectares. Um verdadeiro cinturão verde que encobre a Serra de Baturité, de fauna e flora exuberantes, sempre na rota de pesquisadores e amantes da natureza e morada nobre do café sombreado que há décadas contribui para preservação ambiental.

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE) vem construindo, desde 2013, práticas para o Desenvolvimento Sustentável da região do Maciço de Baturité, interligando Turismo, Agronegócio e Economia Criativa, na Rota Verde do Café, impulsionadora do desenvolvimento territorial sustentável.

O café sombreado é cultivado literalmente à sombra da mata, protegido dos raios intensos do Sol e fazendo com que o solo permaneça rico em nutrientes, adubado com a própria palha do café e umedecido pelas folhas das árvores, principalmente das ingazeiras.

Essa forma de cultivo vem tornando os cafezais produtivos e livres de produtos químicos. É um café puro, 100% arábica, colhido pelo pequeno agricultor, de forma tradicional e artesanal, dentro de um sistema sustentável capaz de gerar, ao mesmo tempo, preservação ambiental, emprego e renda, manter às tradições e o patrimônio cultural vivos na narrativa dos antigos proprietários, nas casas igualmente centenárias, no café coado, no jeito das pessoas do Interior.

A área geográfica da Rota localiza-se dentro da APA da Serra de Baturité, no Estado do Ceará, incluindo os Municípios de Mulungu, Guaramiranga, Pacoti e Baturité a uma distância média da Capital (Fortaleza) de 100 Km, com acessos pela BR-020 com CE-253, CE-065 ou ainda CE-060.

Serviço

Horários: sexta, sábado e feriados das 9h às 16h – domingo das 9h às 15h
Agendamento de visitas: (85 ) 9 9414-0652 / (85) 9 9658-0010 / (85) 9 9671-8083 / (85) 9 9994-44.71 / sitiosaoroquece@gmail.com
Facebook: sitiosaoroqueoficial

3 Comentários
  1. Parabéns pela iniciativa de manter, conversar e zelar com amor e afeto uma atividade tão bela e tão chão da nossa gente.!!!!

  2. Bom dia gosto muita desta regiao ai da serra ja etive ai em outras ocasioes .Moro aqui no Rio de Janeiro,gostaria de participar da colheita do cafe,e tambem adquirindo tambem algumas sacas de cafe pois vendo cafe aqui no Rio
    Preciso saber o periodo da colheita.
    Grato Leonel

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