Na exposição, o fotógrafo Marcos Vieira faz a sua leitura sobre o cotidiano desse povo ancestral que habita terras do Litoral Oeste do Ceará

O povo Tremembé da Barra do Mundaú e o Centro de Estudos do Trabalho e Assessoria ao Trabalhador (Cetra) abrem, nesta terça-feira (23), às 10h, na Assembleia Legislativa do Ceará (ALCE), a Exposição Fotográfica Iandé Á’Tã Joaju Juntos Somos Fortes, de Marcos Vieira, que ficará aberta a visitação até o dia 17 de maio.

“Para nós Tremembé da Barra do Mundaú, esta exposição de fotografias tem um significado importante para a luta que fazemos em defesa de nosso território, pois a mesma retrata elementos que mantém viva a nossa esperança de um dia ter nossa terra demarcada”, afirma o jovem indígena Mateus Tremembé. E continua: “estamos super felizes por ver a nossa cultura e tradição sendo apreciada e exposta dentro da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, onde deveria ser um espaço de fácil acesso e que infelizmente é restrito. Sentimos que estamos conseguindo enquanto povo quebrar o paradigma da exclusão”.

Povo étnico indígena que habita atualmente a área indígena Tremembé de Almofala (Itarema) e as terras indígenas São José e Buriti (Itapipoca), Córrego do João Pereira (Itarema e Acaraú) e Tremembé de Queimadas (Acaraú), no litoral do Estado do Ceará, era originalmente nômade não tupi e vivia num território que estendia-se do sul do Maranhão até o Rio Acaraú, no atual Estado do Ceará.

Realizaram, por dois séculos, trocas comerciais com muitos europeus que atracavam na costa brasileira a fim de manter controle sob o seu território. No século XVIII, foram aldeados pelos Jesuítas nas missões de Tutoya (Tutóia-Maranhão), Aldeia do Cajueiro (Almofala) e Soure (Caucaia).

Antropologia do olhar

“A fotografia de Marcos Vieira é essencialmente uma reafirmação do lugar do olhar imerso em matizes culturalistas, aproximando o que está dentro com o que está fora da imagem. O caráter sintático visual do seu trabalho permite novas visibilidades dos referentes muitas vezes sustentados por formas ocultas da existência”, escreve o jornalista Flávio Paiva, na apresentação da exposição.

E continua: “Cada imagem captada por ele não é apenas um gesto de corte do real, mas uma religação de histórias, de memórias e de imaginários. Em suas incursões pela cosmogonia indígena pressentida, o devir revela-se em rostos-paisagens, reordenando intensidades da nossa geografia humana, como um convite à dedução”.

Ação Tremembé

A exposição é uma iniciativa do Cetra, por meio do projeto Ação Tremembé, em parceria com o Povo Tremembé da Barra do Mundaú e apoiada pela União Europeia, Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) e ALCE.

O Projeto Ação Tremembé realizou, entre 2016-2019, juntamente com o Povo Tremembé da Barra do Mundaú ações com o intuito de potencializar a defesa dos direitos humanos dos povos indígenas cearenses e, em especial, do Povo Tremembé da Barra do Mundaú. Foram três anos de muito aprendizado, troca de conhecimento, fortalecimento das articulações e ampliação da visibilidade da luta pela terra – a partir da campanha Iandé Á’tã Joaju – Juntos Somos Fortes! Pela demarcação imediata da terra indígena Tremembé da Barra do Mundaú, que também dá nome à exposição.

“O Projeto Ação Tremembé, trouxe a mensagem de que eu poderia ir muito além das cercas da comunidade, que o Ceará ou Brasil não são o meu limite, que meus sonhos podem sim ser realizados, e que eu sou o responsável por lutar por eles. Mostrou-me também que eu poderia produzir minha própria comunicação, e é isso que faço. Suas formações despertaram em mim o interesse em fazer fotografia, vídeos, danças e acima de tudo, possibilitou o meu desenvolvimento como jovem indígena que produz comunicação indígena”, declara Luan de Castro, jovem Tremembé.

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