Vela pintada pelo artista cearense, Mano Alencar, na regata de abertura do 11º Encontro Povos do Mar. Foto Marília Camelo

Exposição de artes em velas de jangadas que abriu a programação, neste domingo (12), na Beira-Mar de Fortaleza e Webdoc inédito que mostra a cultura alimentar de Icapuí, com a participação da chef Van Régia e programação na foz do Rio Ceará são destaques.

Fortaleza – CE. Há mais de 10 anos, o Serviço Social do Comércio do Ceará (Sesc Ceará) realiza um projeto pioneiro. Ao olhar para toda a sua costa de mais de 500 km e ver as pessoas nos seus territórios de origem, suas danças, artesanatos e costumes ancestrais, a instituição promove um grande encontro, que reúne rendeiras, mestres da cultura, pescadores, artesãos e marisqueiras que vivem nas mais de 200 comunidades litorâneas do Ceará. Trata-se do Povos do Mar, que neste ano começou neste domingo (12) e vai até quarta-feira (16) de dezembro, em formato híbrido. Na programação, uma série de atividades com o objetivo de compartilhar e, principalmente, valorizar vivências, práticas, sabores e saberes tradicionais.

A 11ª edição do Encontro começou na Enseada do Mucuripe, com a tradicional regata de jangadas. E, pelo segundo ano seguido, o público presente pôde conferir a exposição Aquavelas, que levou cor e arte ao nosso litoral. Isso porque 11 artistas plásticos foram convidados a colorir as velas destas jangadas, que, primeiramente, ficaram expostas para, em seguida, passearem pela orla de Fortaleza, podendo ser vistas a cerca de 200 metros da margem, navegando em direção ao Rio Ceará.

O público presente pode conferir a exposição Aquavelas na praia do Mucuripe. Fotos Marília Camelo

“O grande objetivo deste evento é ajudar na preservação da cultura e, por meio dela, da natureza. Essa é a principal missão do Povos do Mar. Reunimos tradição cultural, engajamento social e memória, a preservação daquilo que nos representa e ainda há de nos representar por muito tempo ainda. A regata junta a arte, o mar e o engajamento das comunidades”, afirma Henrique Javi, diretor regional do Sesc.

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Além de Mano Alencar, Edmar Gonçalves, Zé Tarcísio, Totonho Laprovitera, Almeida Luz e Andrea Dall’Olio, Vando Farias e Julio Silveira, que participaram do Aquavelas em 2020, também estiveram na exposição deste ano. Somaram-se ao coletivo Hélio Rola, Ana Débora e Luiz Freire. A partir de referências artísticas e pessoais, neste ano, esses 11 nomes levaram às telas elementos que traduzem, entre formas, traços e texturas, a importância da defesa dos oceanos e da vida marinha.

“Transformadas obras de arte flutuantes, as velas pintadas por esses renomados artistas celebram toda a cultura dos povos do mar, além de simbolizar a importância da preservação do nosso litoral e de pensar ideias e soluções que dialoguem com o desenvolvimento sustentável. A exposição Aquavelas também não deixa de ser uma forma de celebrar a cultura e modos de vida existentes de comunidades costeiras do Estado”, explica Paulo Leitão, consultor do Sesc Ceará.

Edmar Gonçalves, artista plástico, pintou o tema das algas em sua vela. Foto Marília Camelo

“Uma sensação maravilhosa participar dessa galeria a céu aberto. Isso é uma coisa inovadora, sem contar que tem essa troca do artista com o jangadeiro que já tem um material totalmente artesanal que é a jangada e, junto com a criação do artista, faz um efeito sensacional. É uma honra. E eu estou muito feliz por trazer essa temática das algas marinhas”, declara o artista plástico Edmar Gonçalves.

“A gente passa o ano todo esperando que essa regata chegue, eu e mais dois irmãos. É um dia de lazer muito bom. Passamos o resto do dia no Sesc”, conta José Gaspar da Silva, que vai fazer palestra no Povos do Mar sobre fabricação de mini jangadas.

Jangadeiro José Gaspar, preparando sua jangada para a entrar no mar. Foto Marília Camelo

Ainda no primeiro dia do Povos do Mar, o público pôde conferir a livePoesia que Transforma“, com Bráulio Bessa, com transmissão pelo Youtube do Sesc Ceará. Na palestra-espetáculo, o poeta apresentou elementos como a poesia de cordel, causos da sabedoria popular, humor e, principalmente, a mais pura gaiatice cearense, tudo isso ligado à motivação, empreendedorismo e ao instinto batalhador e sonhador contido em cada um de nós.

Saberes e sabores

A programação do Encontro Sesc Povos do Mar também mostra ao público a riqueza da cultura alimentar de seis comunidades tradicionais de Icapuí no Webdoc “Saberes e Sabores dos Povos do Mar“, que vai ao ar a partir do dia 13, sempre às 19h, no Youtube do Sesc Ceará. Para essa série, o Sesc convidou a chef Van Régia, entusiasta e apaixonada pela gastronomia cearense, para conhecer de perto seis comunidades, para trocar ideias, experiências e buscar referências no campo da gastronomia no Ceará.

No episódio de estreia, por exemplo, Van vai aprender a fazer a galinhada no leite de coco, receita de Francineide Andrade, uma das líderes de Córrego do Sal. Em seguida, o público vai ter a chance de conhecer mais sobre Sandra Ranúsia, da comunidade de Olho D´água, e suas famosas petas, tapiocas e beijus. Em Requenguela, por sua vez, a chef cearense descobre os segredos das tradicionais moquecas de Zenaide, filha de marisqueira e pescador, cujo restaurante da família, a barraca do João Velho, é uma das mais visitadas da região.

Outra comunidade em destaque no Webdoc é Barrinha de Mutamba, onde Van Régia descobre as delícias feitas à base de algas, como pizzas, gelatinas e panquecas, além de cosméticos. Já em Redonda, o bate-papo foi com Sidnéia Lusia da Silva, pescadora, cineasta, esportista, dentre outras habilidades, que mostrou para Van que o segredo do preparo do galo do alto, peixe tradicionalmente usado na cultura alimentar de Icapuí, está justamente na simplicidade. O último episódio é em Ponta Grossa, comunidade pesqueira conhecida mundialmente por suas lagostas.

“A cozinha sempre foi meu laboratório de sentidos, de expressão e de vida. E foi movida por essa paixão pela gastronomia do Ceará que eu aceitei o convite para participar do ‘Saberes e Sabores dos Povos do Mar’. Conhecer essas comunidades de perto, muitas, inclusive, lideradas por mulheres, ver de perto seus modos de vida e cultura, para além da gastronomia em si, foi um verdadeiro aprendizado. A ideia do webdoc é também uma forma de valorizar e, principalmente, difundir a riqueza da cultura alimentar do nosso litoral”, afirma Van.

No tempo do rio

O mar, o rio e o seu encontro, além dos encantos do mangue, fazem da Barra do Ceará um dos cenários mais bonitos de Fortaleza. O local é o nosso bairro mais antigo, inclusive, mais antigo até do que a criação de Fortaleza. E é lá onde será desenvolvidas algumas das atividades do Encontro Sesc Povos do Mar, a exemplo da Corrida de Canoa de Zinga, que será realizada no dia 14, a partir das 8h30. Já às 9h30, será a abertura da exposiçãoRio Ceará e o Barqueiro: a resistência continua“, no Restaurante Albertu’s.

A mostra traz 20 imagens dos fotógrafos Luiz Carlos Freire Lima, Sávio Sampaio e Francisca Maria da Silva, que retratam o ofício daqueles que, diariamente, transportam as pessoas na travessia do rio ou nos passeios rio adentro. Os três artistas, que possuem uma relação profunda com o Rio Ceará, mostram, ainda, por meio de suas fotografias, as belezas naturais da Barra do Ceará, além do cotidiano de seus moradores e outros momentos que resgatam a história do bairro.

E é também na Barra do Ceará que será realizado o Projeto Sesc Conversas Flutuantes. Nessa vivência náutica, é possível contemplar um dos ambientes naturais mais admiráveis do Ceará, com destaque para as belezas do Rio Ceará, o manguezal, a exuberância da fauna e flora local, além dos labirintos e canais naturais do rio que possui importância histórica. No Povos do Mar deste ano, a ação será também no dia 14, às 10h, logo após a abertura da exposição “Rio Ceará e o Barqueiro”, a partir da realização da Fragata Viva o Mangue Vivo.

Além disso, o Encontro vai contar ainda com o Festival Calungas, Cassimiros e Mamulengos, com a participação dos Mestres Gilberto Calugueiro, Marquinhos Calugueiro, Chico Bento, Cleomir e Tatiana Alencar, Vanderlei das Laranjeiras e Bio, entre outros, Trilhas Ecológicas, Rodas de Saberes e Vivências, dentre outras ações. A programação online pode ser conferida AQUI.

“O Encontro Sesc Povos do Mar é uma rede social que busca construir sociabilidade a partir das tradições que mantêm as formas de vida de marisqueiras, pescadores, povos indígenas, quilombolas, comunidades ciganas; um encontro em prol das diversidades, mas, acima de tudo, para criar conexões entre essas diversidades, diálogos, interculturalidades, com atividades plurais que juntam saberes que vão desde as cozinhas até os terreiros das casas”, ressalta Paulo Leitão.

História

A Rede Sesc Povos do Mar foi fundada com a participação de três grupos específicos: os moradores do entorno do Sesc Iparana Hotel Ecológico, pessoas conhecedoras da fitoterapia popular, que ensinaram a produção de lambedores, do óleo de coco, infusões com raízes, colorau, entre outros produtos naturais. Também faziam parte os grupos da dança do Coco no Pecém e Iguape, pioneiros de uma rede específica no Povos do Mar da qual participam hoje 15 coletivos. Além destes, os barqueiros estavam presentes marcando a relevância histórica da região da Barra do Ceará.

Atualmente, cerca de 400 representantes das comunidades tradicionais de 25 municípios integram a rede, composta por cinco eixos:

  • Meio Ambiente e Sustentabilidade
  • Cantos, Danças e Brincadeiras
  • Dragões do Mar
  • Feito à Mão
  • Saberes, Sabores e Saúde

“Acreditamos e temos atuado no trabalho em rede, contribuindo para o fortalecimento de vínculos comunitários. Em 2021, mais do que nunca, buscamos traduzir como essa grande rede que integra o projeto Sesc Povos do Mar se articula e se comunica, a partir do compartilhamento de histórias, memórias e experiências”, destaca Talitta Albuquerque, gerente do Programa Assistência do Sesc.

Com informações do Sesc Ceará

Serviço

O quê: XI Encontro Sesc Povos do Mar
Quando: Até 16 de dezembro
Programação e mais informações: https://www.sesc-ce.com.br/povos-do-mar-heranca-nativa/

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