Animal grande de quatro patas, focinho alongado e orelhas curtas coberto por pelo cinza. O animal está saindo de dentro da água de um rio, rodeado por vegetação
A anta brasileira (Tapirus terrestris) é considerada extinta do bioma Caatinga há pelo menos 30 anos | Foto: Luiz Cláudio Marigo

Por Alice Sales
Colaboradora

Conhecida como a jardineira das florestas por possuir a capacidade de dispersar sementes e otimizar a germinação sob a ação de seu trato digestivo, a anta brasileira (Tapirus terrestris) é considerada extinta do bioma Caatinga há pelo menos 30 anos. Na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN),  a espécie é classificada como vulnerável à extinção. O mesmo vale para a lista de espécies ameaçadas brasileiras do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Contudo, ainda não se sabe as razões pelas quais a espécie foi extinta da Caatinga. Em busca dessas respostas, a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (Incab), um dos projetos do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), está promovendo a expedição “Em busca da Anta Perdida na Caatinga”. Durante a experiência, os pesquisadores buscarão indícios históricos da presença da espécie no Bioma. A iniciativa conta com apoio da sociedade por meio de doações para a campanha de crowdfunding Caatinga – Em busca da anta perdida.

Como precisam de grandes áreas para viver, ações para a conservação da anta beneficiam uma série de outros animais. A expedição ocorrerá durante todo o mês de março e deverá iniciar pelo norte de Minas Gerais e seguir pela Bahia e Piauí. A rota inclui áreas caracterizadas como de transição entre a CaatingaCerrado e Mata Atlântica, onde a ocorrência histórica das antas foi apontada por alguns gestores de Unidades de Conservação e pesquisadores que atuam na região.

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A equipe de pesquisadores passará por 16 Unidades de Conservação federais e estaduais localizadas em potenciais áreas de ocorrência histórica ou atual da anta brasileira. A expedição também passará por vilarejos como Queixo D’Anta (no Boqueirão da Onça) e Antas (nas proximidades do Raso da Catarina), na Bahia, em que os nomes das localidades são indícios da presença histórica da espécie.

Profissionais de diferentes áreas estarão à frente da expedição e do levantamento de dados. Além de biólogos e veterinários, a pesquisa contará também com comunicadores e especialistas na temática da coexistência humano-fauna. Serão realizadas entrevistas com membros das comunidades locais, principalmente com anciões, líderes comunitários, pessoas que caçavam, tratavam ou vendiam peles no passado, além de gestores e analistas de Unidades de Conservação. O intuito será entender onde as antas viviam e identificar os motivos de seu desaparecimento.

“Os relatos das comunidades locais são extremamente preciosos para a ciência. Vamos entrevistar pessoas que terão os relatos analisados sob duas perspectivas: codificação e narrativa. A codificação é um método que identifica quais temas aparecem mais nas falas das pessoas, enquanto a narrativa revela o contexto no qual as declarações são articuladas durante a entrevista”, explica a coordenadora da Incab-IPÊ, Patrícia Medici.

A anta perdida

Analisando por cada bioma brasileiro, de acordo com o ICMBIo, a anta encontra-se em estado de conservação “Menos Preocupante” na Amazônia; “Em Perigo”, na Mata Atlântica; “Quase ameaçada”, no Pantanal; “Em Perigo”, no Cerrado; e “Regionalmente Extinta”, na Caatinga.

Segundo Patrícia Medici, há pouquíssima informação sobre a anta na Caatinga e esse fator é mais um desafio: “Existe um déficit de informações sobre a ocorrência histórica da anta brasileira no bioma, bem como sobre os fatores que levaram ao seu desaparecimento”.

A pesquisadora considera, que, de maneira geral, essa deficiência de dados se deve à falta de estudos sobre a espécie no bioma e à ausência de compilações sistemáticas de informações por parte das organizações: “Como se trata de uma espécie que não ocorre mais na Caatinga, acaba ficando essa lacuna”.

Apesar de aproximadamente metade da Caatinga ainda ser representada por habitat nativo, a maioria destas áreas remanescentes está potencialmente exposta às ações humanas. Apenas 9% da Caatinga está sob alguma forma de proteção legal. “É provável que a anta brasileira ocorresse mais pelo interior da Caatinga há cerca de 30 anos, em baixíssimas densidades, e que tenha sido extinta por perda de habitat e caça”.

Há também a hipótese de a espécie ter sempre ocorrido somente nas áreas mais úmidas nas bordas da Caatinga. “In loco, será possível compilar informações essenciais para os processos de avaliação da categoria de ameaça da espécie no bioma e no Brasil, bem como para o planejamento de ações conservacionistas que contribuam com futuras ações de manejo, conservação e proteção”, completa a pesquisadora.

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