O excesso de cores reduz a liquidez do material no mercado que independe de subsídios para que sua recuperação siga crescendo
André Vilhena foi diretor executivo do Compromisso Empresarial com a Reciclagem (Cempre) de fevereiro de 1998 a  2020

Por André Vilhena
Conselheiro do Cosema-Fiesp e consultor na área de resíduos sólidos

Responsabilidade social”, “responsabilidade corporativa”, “compromisso socioambiental” e chegamos ao ESG (Environmental, Social and Governance). Conceitos norteadores para os negócios, em todas as áreas, na busca incessante pelo desenvolvimento sustentável através das últimas décadas. Nessa jornada, engajar os clientes, sejam eles consumidores intermediários ou finais, é tarefa fundamental. A mudança só vem com amplo envolvimento da sociedade. Mas como anda a calibragem entre
ação/comunicação no âmbito empresarial?

Com cada vez mais frequência, observamos reações de clientes questionando a precisão da comunicação em relação às práticas e/ou produtos das empresas com apelos relacionados ao tripé do ESG, levando marcas a serem acusadas de “greenwashing”. Tal fato pode ocorrer em várias frentes. Vamos tratar aqui do tema da “economia circular”, com um exemplo concreto da importância do design de embalagens visando maximizar a coleta e reciclagem pós-consumo de garrafas PET (Politereftalato de Etileno).

O último Censo da Reciclagem realizado pela indústria em 2019 indicou que o Brasil recicla 55% de todas as embalagens PET descartadas pelos consumidores, o que corresponde a mais de 300 mil toneladas do material. Esse resultado é possível porque a indústria realizou grandes investimentos em tecnologia e desenvolvimento de novos produtos, garantindo a demanda e a qualidade necessárias para o material reciclado. Assim, todo o volume de PET pós-consumo que se consegue coletar é utilizado e retorna à sociedade na forma de itens de alto valor agregado. Aproximadamente um terço do faturamento de toda a indústria brasileira do PET provém da reciclagem,
montante que em 2019 chegou a R$ 3,5 bilhões.

Porém, como podemos ver na tabela de preços para compra de materiais recicláveis de uma empresa do ramo de sucatas, o excesso de cores reduz a liquidez do material no mercado, que neste caso independe de subsídios para que sua recuperação siga crescendo. A disputa para se destacar na gôndola contrasta com o compromisso de agregar valor ao material reciclável no pós-consumo. Esse fenômeno se dá pela redução de possibilidades de aplicação do PET reciclado em novas embalagens, fibras têxteis, filmes, entre outras aplicações.

Não se deve alardear ESG sem no mínimo integrar as áreas de marketing, desenvolvimento de embalagens e sustentabilidade no dia a dia. É necessário primeiro cuidar da prática para em seguida explorar a comunicação. Caso contrário, a marca corre o risco de ir para a vala comum do greenwashing de onde geralmente é difícil escapar com ferimentos leves.

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