A desertificação é resultado da degradação do solo, ou seja, da perda nutrientes, fruto do manejo inadequado do solo, sobretudo o desmatamento | Foto: Celso Oliveira

A data de 17 de junho foi proclamada, pela Organização das Nações Unidas (ONU), a partir de 1995, como Dia Mundial do Combate à Seca e à Desertificação. O objetivo é promover a sensibilização pública relativa à cooperação internacional no combate à desertificação e aos efeitos da seca.

Não é um dia apenas para refletir sobre o desenvolvimento e seu impacto no meio ambiente, mas também para cobrar políticas públicas efetivas nessas áreas de degradação em todo o país. O Brasil faz parte da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD) desde 1997.

É consenso na comunidade científica que seca não se combate. Por falar nisso, por que o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) não muda de nome e, aproveitando a onda, não se moderniza e cumpre um papel mais relevante neste contexto?

Muitos, ao verem a vegetação da Caatinga seca podem se confundir. Mas é importante diferenciar estiagem, seca e desertificação. No Semiárido brasileiro, o período de estiagem é sazonal. Todo ano a vegetação perde as folhas e assume o visual esbranquiçado que é para evitar a perda de água. Com uma semana de chuva, tudo volta a ficar verdinho.

A seca é quando o período chuvoso fica aquém do normal, o que pode se repetir por anos, a exemplo do que ocorreu de 2012 a 2018 no Semiárido brasileiro. Aquela imagem de terra rachada recorrente geralmente é de locais com água, como açudes, que secam em períodos de seca prolongada. Não tem nada a ver com desertificação.

O processo de desertificação é resultado da degradação do solo, ou seja, da perda nutrientes que parte do manejo inadequado do solo, sobretudo o desmatamento. Mas a contaminação do solo por agrotóxicos também deve ser considerada.

A desertificação é um dos principais problemas do Semiárido brasileiro e atinge, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) de alguns anos atrás, quatro núcleos: Gilbués (PI), Irauçuba (CE), Seridó (RN) e Cabrobó (PE).

São pelo menos 200 mil quilômetros totalmente degradados. Se juntarmos aos 400 mil quilômetros onde esse processo é mais moderado, são 600 mil quilômetros de terras inadequadas para a agriculturas ou outras finalidades.

Esses núcleos se revelam como resultado do mau uso dos recursos naturais e o manejo inadequado da terra provocaram o problema. Em Gilbués, voçorocas gigantescas denunciam um processo adiantado de desertificação; em São José do Seridó, o pasto virou pedra; em Cabrobó, o solo está extremamente salinizado.

De acordo com último relatório do Projeto de Mapeamento Anual da Cobertura e Uso do Solo no Brasil (MapBiomas) divulgado em maio deste ano (2020) o Brasil teve uma perda de 1,2 milhão de hectares desmatados em 2019. A Caatinga, bioma predominante no Nordeste, teve pouco mais de 12 mil hectares devastados. O Estado da Bahia está entre os dez que mais desmataram sua vegetação no País.

O processo de desertificação é lento e silencioso. A recuperação de terras degradadas é demorada e o custo é altíssimo. Tendo em vista essa realidade, qualquer ação no sentido de promover usos mais sustentáveis dos solos é mais que bem-vinda.

O trabalho que a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) vem desenvolvendo na Região, garantindo água para o consumo básico e também para a produção, de uma forma sustentável, por meio da construção de cisternas associada à troca de experiências entre os agricultores familiares para a conservação do solo e da biodiversidade para garantir a manutenção dos serviços ambientais.

O Instituto do Semiárido (Insa) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Semiárido também desenvolvem técnicas para fazer face ao problema da desertificação com elementos da própria Caatinga, a baixo custo.

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