Na Pracinha das Flores, todo sábado é dia de feira | Foto: Eduardo Queiroz

 

Com venda de produtos a preços justos, feiras agroecológicas trazem insumos de qualidade e livres de agrotóxicos

Por Camilla Lima
Colaboradora

O zum zum zum de vozes atravessa a pracinha na ensolarada manhã de sábado. A dona de casa escolhe a alface, o senhor de óculos analisa os tomates, a moça de vestido florido escolhe as ervas que irão temperar as panelas do almoço de logo mais. Nos caixotes de madeira, produtos de alta qualidade a preços de atrair qualquer especialista em economia doméstica. Não são nem 9h e muitos ali já estão de sacolas cheias, abarrotadas de insumos fresquinhos e livres de qualquer traço de agrotóxico.

As feirinhas agroecológicas estão dando um novo respiro a este hábito milenar das feiras livres. Segundo o “Mapa de feiras orgânicas” do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), no Ceará, são 188 iniciativas catalogadas. Elas começam cedinho e, além das frutas, verduras e hortaliças, dão espaço também para diversos insumos que são feitos sob a mesma perspectiva natural, como pães sem conservantes, comidinhas veganas, cafés e produtos de beleza.

Foi na Pracinha das Flores que batemos nosso ponto logo cedo. Lá, todo sábado é dia de feira. Realizada pela startup Muda Meu Mundo, o espaço se enche de cores e sabores vindos de diversos municípios cearenses. É a horta ao alcance do braço, a possibilidade de comprar direto de quem faz/planta. Das mãos de agricultores familiares direto para a mesa do consumidor. Sem atravessador e sem percorrer grandes distâncias, os produtos chegam fresquinhos e com um tempo de vida útil muito maior. A alface, que no dia da feira estava sendo vendida a R$ 1,50, tinha sido colhida às 4h da manhã da plantação de Vitor Vasconcelos, em São Gonçalo do Amarante. Às 8h30 já estava nas sacolas de diversos fregueses do dia.

Os benefícios de comprar produtos agroecológicos são inúmeros. Para Priscilla Veras, sócia-fundadora da Muda Meu Mundo, primeiro Negócio Social do Brasil que atua na cadeia produtiva da alimentação sustentável, “Comprar do pequeno agricultor faz algumas coisas muito importantes acontecerem localmente: eu trago o desenvolvimento ambiental porque se eu compro de um pequeno agricultor que trabalha de maneira sustentável, eu promovo reflorestamento; faço com que o dinheiro circule dentro de nosso Estado porque, se eu compro uma alface que vem de São Paulo, o dinheiro está indo para lá, então eu não gero riqueza local. E outra questão é a emissão de gás carbônico, pois quanto mais distante a comida está para chegar a você, temos mais emissão de gás carbônico. Além da perda nutritiva”.

“Nós somos a Fundação Cepema, que é um órgão de educação e assistência técnica. De ano pra cá montamos a rede Eco Ceará, com produtores e consumidores agroecológicos e estamos com algumas feiras em Fortaleza. Todo mundo faz parte do processo de certificação. A procura do público é crescente, mas nosso grande desafio é com a divulgação, mas quem vem uma vez, sempre volta”, explica Adalberto Alencar.

Dentro do orçamento

Na feirinha da Muda Meu Mundo, as folhagens, em geral, saem a R$ 2,80; a macaxeira a R$ 3 e as bananas custam R$ 4, o quilo | Foto: Eduardo Queiroz

Há quem acredite, ainda, que os produtos livres de venenos não cabem no orçamento, mas o agricultor familiar Vitor Vasconcelos, garante que essa realidade não se aplica à Agroecologia: “O que acontece é que o cara lá no campo produz, o atravessador compra a centavos e vende aqui por um absurdo. Nossa missão é: o produtor ganhar bem sem precisar que o consumidor pague um alto preço por isso”. Na feirinha da Muda Meu Mundo, as folhagens, em geral, saem a R$ 2,80; a macaxeira a R$ 3 e as bananas custam R$ 4, o quilo.

No Mercado dos Pinhões, toda terça-feira o dia começa cedinho. A partir das 5h, frutas, verduras, legumes, hortaliças e muitos outros insumos já estão disponíveis para venda. Vindos de oito municípios cearenses, como Eusébio, Mulungu, Redenção, Pacatuba, Aquiraz, Cascavel, Guaraciaba do Norte e Fortaleza, todos são recolhidos na segunda-feira. Organizados, chegam na madrugada de segunda para terça-feira, seguindo direto para o mercado, o que garante todo o frescor.

São oito expositores e cada um fica responsável por um produto, garantindo variedade para o consumidor e também entre os próprios agricultores: “Cada agricultor produz sua parte, folhagens, frutas, verduras, tubérculos, para não chocar e todos venderem bem”, explica Vagner Pedrosa Quintino, produtor orgânico vegetal e diretor financeiro da Associação para o Desenvolvimento da Agropecuária Orgânica (Adao), pioneira no Brasil em produção orgânica e promotora da feira. Além desses oito produtores, a feira conta ainda com dois parceiros, que contribuem com produtos que não são produzidos no Estado, como maçãs e outras frutas, que chegam de outras partes do país e da Europa.

Foi-se o tempo em que produtos orgânicos eram reconhecidos por seu tamanho menor ou pela falta de beleza. Na verdade, os produtos que vão para o supermercado são selecionados e assim, depois de uma espécie de curadoria, se determina se estão no padrão ou não para subirem às gôndolas. Mas você já se perguntou o que acontece com o que não entra nesse padrão? Vagner explica que com os orgânicos não há essa seleção: “Dizer que são mais caros ou feios é uma falácia. Ele pode ser bonito, grande ou pequeno, e com certeza é mais nutritivo. O tamanho vai variar. Não é padrão, o que a gente colhe a gente coloca na feira. Os produtos são vendidos no quilo e fica muito mais barato do que comprar o molho”, explica.

Há nove anos, a Feirinha da Adao pratica os mesmos preços. Como vendem no quilo, a maioria das folhas, saem até mais barato do que as convencionais. Como a alface, por exemplo, que com R$ 5,30 (preço do quilo), o consumidor leva pra casa de 3 a 4 pés. Por lá, os produtores firmaram os preços por categoria (confira tabela abaixo). Por mês, são vendidos cerca de 40 toneladas.

Preços por quilo

Chuchu, coco verde (unidade) – R$ 4,10
Alface, beterraba, berinjela, cenoura – R$ 5,30
Abobrinha, agrião, cheiro verde, maxixe, quiabo, rúcula – R$ 7,03
Abacate, Cebola, inhame, tomate- R$ 8,50
Batata inglesa, cebola roxa – R$ 10,00
Brócolis, couve-flor – R$ 15,00

Hoje em dia não é mais difícil encontrar alimentos livres de veneno e, mesmo quando não for possível encontrar uma grande variedade, comprar da agricultura familiar é sempre a melhor escolha. Afinal, são eles que sustentam toda a produção de comida do País. Segundo dados do Governo Federal, a agricultura familiar do Brasil é a oitava maior produtora de alimentos do mundo, com um faturamento anual de US$ 55,2 bilhões.

Agroecologia

A Agroecologia trabalha sobre o tripé da sustentabilidade, que engloba três conceitos básicos: o ambiental, o social e o econômico. Num dos países que mais consome agrotóxicos do mundo, as feirinhas agroecológicas fazem toda a diferença quando dão ao consumidor a possibilidade de escolha para além dos supermercados e da agricultura convencional.

Aqui em Fortaleza, Mercados dos Pinhões, Praça da Imprensa, Praça da Gentilândia e Pracinha das Flores são alguns dos lugares onde hoje é possível encontrá-las com regularidade. Com a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, em vigor desde 2012, a partir do decreto decreto presidencial N° 7.794, o Brasil se tornou o primeiro País a criar uma política de Estado específica para incentivo à Agroecologia e à produção orgânica.

Para entender melhor as feiras agroecológicas, confira no vídeo a entrevista com Vitor Vasconcelos e Priscilla Veras.

 

Serviço:

Feirinha Muda Meu Mundo – Pracinha das Flores – Sábado, das 8h às 13h
Feirinha Mercado dos Pinhões – Terça-feira, das 5h às 13h
Feirinha Praça da Imprensa – Sexta-feira, das 8h às 13h
Feirinha Agroecológica do Benfica – Praça da Gentilândia – Quinzenalmente, aos sábados pela manhã

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