Documentário ‘Terra de Nazaré’ conta a história de liderança agricultora

Em 2007, a fundadora do MMTR-NE faleceu aos 55 anos, três meses depois de ter descoberto um câncer no útero

Filme será lançado neste sábado (27) na comunidade Apiques, no Assentamento Maceió, em Itapipoca, no Norte do Estado do Ceará

Nazaré Flor, poeta, cantora, educadora, trabalhadora rural, líder comunitária e fundadora do Movimento da Mulher Trabalhadora do Nordeste (MMTR-NE). A história dessa mulher – que lutou desde cedo por educação, saúde e moradia para a sua comunidade – é retratada no filme “Terra de Nazaré”, de Shaynna Pidori, com pré-estreia neste sábado (27), às 18h30, no Assentamento Maceió, localizado no município de Itapipoca (CE), terra natal da personagem. Haverá debate com a diretora e as mulheres da comunidade. O média-metragem foi contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2017-2018 e traz um retrato da situação social da mulher nessa região.

A programação começa com dois espetáculos. O primeiro é de dança, com o Balanço do Coqueiro, às 16h30, e o seguinte, de teatro, com o Grupo Jovem de Apique, às 17h. Ambos homenageiam Nazaré. Margarida Pinheiro, companheira de ativismo dela nos movimentos sociais, também estará presente, para compartilhar com os presentes as experiências vividas ao lado da amiga antes da exibição, às 18h. Depois de passado o filme, a partir das 20h, acontece uma celebração à vida de Nazaré, com música e comidas feitas pelas famílias locais. Todas as atividades serão ao ar livre, em frente ao Centro Comunitário de Apiques.

História que precisava ser contada

Nazaré Flor foi poeta, cantora, educadora, trabalhadora rural, líder comunitária e fundadora do Movimento da Mulher Trabalhadora do Nordeste (MMTR-NE)

Foi em 2005 que Shaynna encontrou com Nazaré pela primeira vez, quando estava filmando o longa-metragem “Alvíssimas 7 mulheres do sertão”, do qual era codiretora e Nazaré, uma das personagens, mas o filme não foi concluído. Em 2007, a fundadora do MMTR-NE faleceu, aos 55 anos, três meses depois de ter descoberto um câncer no útero.

Em 2017, dez anos depois de sua morte, a diretora sentiu necessidade de utilizar o material de arquivo, com gravações de Nazaré, em outro projeto que partisse da perspectiva da mulher rural de Itapipoca, abordando a trajetória e o legado de Flor. Foi assim que Terra de Nazaré começou a ganhar forma.

A personagem era moradora da comunidade costeira de Apiques, no Assentamento Maceió, criado na década de 1980 por meio de uma desapropriação de terra feita pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Depois de muitas batalhas, ela abriu os caminhos das mulheres do local, ajudando-as a terem oportunidades de contarem suas histórias, de serem protagonistas da própria vida. Conseguiu mais acesso para a população, meios de locomoção, internet e conquistou o direito de ter uma escola com o seu nome: Nazaré Flor: Escola de Ensino Médio Maria Nazaré de Sousa.

Essas mesmas mulheres, inspiradas pela líder, continuaram o seu trabalho. “Você nota que a luta da Nazaré pela educação, pela terra, pelos direitos das trabalhadoras rurais – que não se aposentavam porque não tinham documentos –, pela superação da opressão na luta pelo assentamento de terras deu resultados”, diz a diretora. “Foi um trabalho de formiguinha o que ela fez.”

Com Shaynna, as moradoras escreveram uma proposta de roteiro e construíram a estrutura do documentário, a partir de oficinas realizadas por ela na comunidade

“Apresentamos o projeto do documentário no primeiro dia e elas decidiram quem ficaria para participar dos demais”, conta. “A ideia era misturar imagens de arquivo de Nazaré com essas novas, que gravamos com elas”, fala. “Para tanto, pedimos que reproduzissem cenas falando do cotidiano da Nazaré. Após uma dinâmica na qual as participantes levaram objetos que a simbolizavam ou a recordavam, gravamos os relatos.”

Financiamento de projetos culturais

Um dos maiores editais privados de financiamento de projetos culturais do País, o Programa Rumos, é realizado pelo Itaú Cultural desde 1997, fomentando a produção artística e cultural brasileira. A iniciativa recebeu mais de 64,6 mil inscrições desde a sua primeira edição, vindos de todos os estados do Brasil e do exterior. Destes, foram contempladas mais de 1,4 mil propostas nas cinco regiões brasileiras, que receberam o apoio do instituto para o desenvolvimento dos projetos selecionados nas mais diversas áreas de expressão ou de pesquisa.

Os trabalhos resultantes da seleção de todas as edições foram vistos por mais de 6 milhões de pessoas em todo o País. Além disso, mais de mil emissoras de rádio e televisão parceiras divulgaram os trabalhos selecionados.

Nesta edição de 2017-2018, os 12.616 projetos inscritos foram examinados, em uma primeira fase seletiva, por uma comissão composta por 40 avaliadores contratados pelo instituto entre as mais diversas áreas de atuação e regiões do país. Em seguida, passaram por um profundo processo de avaliação e análise por uma Comissão de Seleção multidisciplinar, formada por 21 profissionais que se inter-relacionam com a cultura brasileira, incluindo gestores da própria instituição. Foram selecionados 109 projetos, contemplando todos os estados brasileiros.

Programação

Dia 27 de abril
16h30 – Homenagem a Nazaré Flor, com Grupo do Coqueiro
17h – Espetáculo Viva Nazaré Flor, com Grupo Jovem de Apiques
18h – Cerimônia de pré-estreia – Margarida Pinheiro
18h30 – Cerimônia de pré-estreia – debate com a diretora e as mulheres da comunidade
20h – Celebração em Terra de Nazaré, com música e venda de comidas pelas famílias locais
Local: Centro Comunitário de Apiques – Itapipoca (CE)

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