Por Alice Sales
Colaboradora

Fortaleza- CE. O agricultor José Raimundo de Matos, mais conhecido como “Zé Artur”, foi o escolhido para receber a Medalha Ambientalista Joaquim Feitosa, na 17° edição do prêmio instituído pelo Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Caatinga (CERBC). A premiação é destinada a homenagear pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, que no desempenho de suas ações tenham contribuído de forma relevante para o desenvolvimento sustentável do Bioma Caatinga.

Situada em Nova Olinda, no Cariri cearense, a propriedade de Zé Artur é referência em Sistema Agroflorestal. Além de exemplo de práticas de convivência com o semiárido, o Sítio Tabuleiro tornou-se atrativo para pesquisadores e turistas em geral que se interessam em conhecer o manejo e a diversidade de culturas produzidas naquele lugar.

As primeiras experiências do agricultor premiado com as práticas de agrofloresta tiveram início em 1995, quando a Associação Cristã de Base (ACB), entidade situada no município cearense de Crato, levou técnicos alemães ao Cariri com o intuito de capacitar agricultores e disseminar técnicas de manejo agroecológico.

Sendo um dos 20 produtores capacitados à época, Zé Artur acreditou na proposta e tornou fértil uma área que antes era tida como improdutiva. Há mais de 20 anos, ele celebra o êxito de um sistema sustentável, que garante parte dos alimentos consumidos por sua família, além de favorecer a natureza, unindo as vegetações agrícolas às florestais, e banindo o uso do fogo na preparação do solo.

“Esse sistema florestal traz muitos benefícios ao produtor. Ele evita o uso do fogo para o preparo do solo, além de evitar a presença de pragas. Assim, não é preciso usar agrotóxicos. Há muitas formas de manejo do solo para evitar a queima. A agrofloresta possibilita uma boa produção em pouca terra e conserva a natureza”, destaca o agricultor.

Zé Artur vem, ao longo dos últimos anos, viajando pelo Brasil para compartilhar a experiência do Sítio Tabuleiro. Sua propriedade, que serve de modelo para tantas outras, foi inclusive, visitada por Ernest Götsch, cientista conhecido como criador da Agricultura Sintrópica.

“Me sinto muito feliz e orgulhoso em receber esta medalha. Gostaria de agradecer a todos que votaram em mim e na nossa experiência que ensina como se faz uma agrofloresta”, comemora.

Para Kurtis Bastos, coordenador estadual de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsável pela indicação de Zé Artur ao prêmio, o trabalho realizado pelo agricultor é digno de reconhecimento, levando em consideração todo empenho em prol da proteção do Bioma Caatinga e da prática de técnicas de convivência com o Semiárido disseminadas por ele.

“É importante reconhecer o esforço de um agricultor, que a partir de um curso conseguiu realizar mudanças. Além do mais, deve-se ressaltar que a questão cultural do fogo na agricultura não pode ser vista como uma normalidade, uma vez que traz riscos para a vegetação nativa. Os nossos sertões queimam e ardem nos períodos de estiagem, trazendo grandes incêndios florestais”.

Entrega do Prêmio

A entrega da premiação ocorreu nessa quarta-feira (28), durante a solenidade virtual de encerramento da Semana da Caatinga 2021, realizada pela Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema). Na ocasião, também foi entregue a medalha ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará (UFC), contemplado na edição de 2020 da premiação.

Para o Secretário de Meio Ambiente do Estado do Ceará, Artur Bruno “Ambos, por meio de suas atividades, contribuíram de forma relevante para o Desenvolvimento Sustentável da Caatinga”.

Durante a solenidade, foi lançado o livro “Saberes e Viveres da Caatinga: II Conferência da Caatinga”, uma iniciativa da Comissão de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.

3 Comentários
  1. Belissimo artigo!!! Torço que a Política de Desenvolvimento Rural no estado do Ceará busque implementar uma política que conviva melhor com as fragilidades e potencialidades do bioma caatinga. Recursos não faltam mas precisamos de técnicos que enxerguem além, através das tecnologias de Agricultura de Baixo Carbono para o semiárido brasileiro. Que venham mais Artur para tornar nosso sertao mais rico, vivendo e convivendo com o semiárido. Grande abraço.

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