Porto Seguro / Santa Cruz Cabrália – BA. Quais são as principais espécies pescadas e consumidas na Costa do Descobrimento, no extremo Sul da Bahia? Quais são as demandas econômicas? Qual é a relação com o turismo? Quais são as capturas incidentais e de espécies ameaçadas? Esses e outros dados foram coletados pelo Projeto Coral Vivo, entre 2018 e 2020. Agora, estão sendo realizadas as análises preliminares desse censo pesqueiro inédito, passíveis de gerar subsídios para os órgãos de gestão e de pesquisa atuantes na região.

“Nós, do Coral Vivo, sabemos que a perda biológica é inevitavelmente econômica. Então, esperamos que os trabalhos de pesquisa e os conhecimentos dos pescadores, comerciantes e gestores busquem, juntos, encontrar alternativas que levem à sustentabilidade da atividade pesqueira na região, sem causar prejuízos aos diferentes setores, que já mostram sinais de depreciação”, avalia o zootecnista Carlos Henrique Lacerda, coordenador regional de Pesquisas do Coral Vivo.

Um importante passo neste sentido será lançado, em breve, como produto desse estudo. “O ‘Guia do Consumo Consciente do Pescado, da Costa do Descobrimento, BA’, desenvolvido pelo Projeto Coral Vivo, já está ‘no forno’ e busca levar informações aos consumidores que são uma peça-chave em todo esse processo”, destaca a oceanógrafa Flávia Guebert, coordenadora geral do Projeto Coral Vivo, que é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental. Essa publicação terá uma versão digital gratuita no site do Coral Vivo e irá servir a todos com informações sobre como é possível colaborar para garantir a vida das espécies no mar e os pescados nas mesas.

Para a caracterização da atividade pesqueira tradicional, foram realizados trabalhos de campo e entrevistas nos diversos setores relacionados, como pescadores, marisqueiras, gestores, colônias de pesca, bares, restaurantes, barracas de praia e peixarias dos municípios de Porto Seguro e de Santa Cruz Cabrália.

Análises preliminares

As análises preliminares da caracterização da atividade pesqueira tradicional da região mostraram que há uma alta diversidade de espécies, sendo mais de 70 espécies declaradas. Cabe destacar, porém, que o mercado local investe em uma parcela muito pequena dessa variedade, dando preferência a espécies de maiores tamanho e rendimento comercial, como o badejo (Mycteroperca spp.) e o dourado (Coryphaena hippurus), capturados principalmente nas pescarias de “espinhel”. A guaiúba (Ocyurus chrysurus), capturada principalmente com “linha de mão”, é também bastante consumida, assim como o camarão sete-barbas (Xiphopenaeus kroyeri), capturado por redes de arrasto de fundo. Já o guaiamum (Cardisoma guanhumi) é capturado manualmente ou com uso de armadilhas.

Diante de inúmeros desafios identificados na busca da sustentabilidade da atividade pesqueira, a tradicional pesca de elasmobrânquios, representados por raias e cações, se mostra preocupante, uma vez que envolve a captura de espécies ameaçadas de extinção. O mesmo ocorre com outras espécies de peixes, como o budião-azul (Scarus coeruleus), e espécies de crustáceos. Tais espécies, além do valor econômico e cultural, apresentam um papel ecológico fundamental para o equilíbrio dos recifes de coral da região. A frota pesqueira é composta por embarcações de madeira como canoas, baiteras e embarcações com casaria entre 5 e 15 metros.

Em 2018, o Projeto Coral Vivo deu início a ações junto a diferentes representações da atividade pesqueira da Costa do Descobrimento, aprofundando e sistematizando o processo de diálogo. Como em centenas de cidades litorâneas do Brasil, essa atividade desempenhou um papel-chave na ocupação e na economia de Porto Seguro ao longo de sua história.

Essa caracterização da atividade pesqueira tradicional da região contribui com o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais). Esse documento de pactuação entre diferentes atores institucionais será concluído em 2021 com a coordenação geral do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Sudeste e Sul (Cepsul), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e a coordenação executiva do Instituto Coral Vivo.

Projeto Coral Vivo

O Projeto Coral Vivo nasceu no Museu Nacional / Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e é realizado por 14 universidades e instituições de pesquisa. Trabalha para a conservação e a sustentabilidade socioambiental dos recifes de coral e ambientes coralíneos.

Ele é um dos seis projetos ambientais que compõem a Rede de Projetos de Conservação de Biodiversidade Marinha (Biomar), criada em 2007, pela Petrobras, em parceria com o  ICMBio e projetos patrocinados. São eles: Projeto Albatroz, Projeto Baleia Jubarte, Projeto Coral Vivo, Projeto Golfinho Rotador, Projeto Meros do Brasil e Projeto Tamar.

Mais informações: www.coralvivo.org.br.

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