Semana do Clima em Salvador é palco de protestos e discussões importantes

Por Andréia Vitório e Murilo Gitel
Colaboradores

Evento promove avanço na pauta ambiental de Salvador e discussões sobre soluções baseadas na natureza em zonas rurais e urbanas

Manifestações marcaram terceiro dia da Semana do Clima, em Salvador  Foto: Max Haack/Secom

Salvador – BA. A Semana Latino-Americana e Caribenha sobre Mudança do Clima, em Salvador, foi marcada, nessa quarta-feira (21), por protestos e discussões sobre pautas estratégicas para o avanço da agenda ambiental global. Quatro das nove temáticas da Cúpula sobre a Ação Climática da Organização das Nações Unidas (ONU) estiveram na pauta da programação: transição energéticatransição da indústriainfraestrutura, cidades; e governos locais e soluções baseadas na natureza.

O Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que um dia antes, num evento no interior de São Paulo, afirmou haver sensacionalismo ambiental no trato da escuridão que atingiu São Paulo nesta segunda (19), foi recebido sob vaias e manifestações, com cartazes com dizeres como: “Não existe planeta B”, “Floresta em Pé” e “Mata Atlântica Resiste”.

“As questões que estão aqui trazidas, de proteção ao meio ambiente são, sim, muito importantes”, disse Salles, numa participação tímida durante a manhã dessa quarta-feira. Também marcaram presença ao longo do dia o representante do  World Wide Fund for Nature (WWF), Manuel Pulgar Vidal; o coordenador residente da ONU no Brasil, Niky Fabiancic; e o diretor sênior de Política e Programa de Mudanças Climáticas da ONU, Martin Frick.

Uma discussão sobre soluções baseadas na natureza, ecossistemas e recursos hídricos nos oceanos liderada pela The Future Ocean Aliance foi realizada com a proposta de formar um grupo para discutir o tema, que deve ser aprofundado na COP-25, no Chile.

Nesta quinta-feira, são esperados o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia, e ministros de Meio Ambiente de países como Argentina, Guatemala e Trinidad e Tobago na Plenária “Segmento ministerial: rumo à COP-25 e esforços para alcançar as metas do Acordo de Paris”.

Termo de compromisso

Na terça-feira (20), foi assinado no evento um termo de compromisso que marcou a oficialização do Painel Salvador Mudança do Clima, órgão composto por especialistas para discutir e propor iniciativas capazes de fazer com que Salvador contribua para a redução dos gases de efeito estufa (GEE) e crie estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

Uma das cientistas já confirmadas para trabalhar no IPCC de Salvador, Nelzair Vianna, Doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Medicina e Saúde pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), falou sobre a importância do ato: “representa um marco de articulação intersetorial. Muitas das soluções para os problemas de saúde da população têm relação com um melhor planejamento urbano. O fato de a ciência estar representada nesse Painel é de fundamental importância para a cidade.”

Para o secretário municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência, André Fraga, a criação do Painel Salvador Mudança do Clima atende a uma demanda da atual gestão municipal, preocupada em reunir especialistas capazes de produzir dados para auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas na área. “Abrimos edital para receber artigos de pesquisadores interessados em contribuir e, muito em breve, começaremos a produção de conteúdo”, destacou.

Bahia sai na frente

Salvador integra o Grupo C40 de Grandes Cidades para Liderança do Clima e é a primeira cidade da América Latina a aderir ao Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e Energia. Políticas públicas sustentáveis como o Salvador Vai de Bike, os 165,3 km de sistemas cicloviários, o BRT (em construção) e projetos como o IPTU Verde e IPTU Amarelo fizeram com que a capital fosse citada como referência por especialistas que participaram do evento nesta terça-feira.

É o caso do diretor-regional do Grupo de Grandes Cidades para Liderança do Clima (C40) e um dos moderadores da sessão Iclei/C40/100 Cidades Resilientes, Manuel Oliveira: “A questão dos estímulos tributários com ofertas de descontos de até 10% para quem investir em construções sustentáveis é algo que só temos em Salvador. Serve de referência para o mundo”, ressaltou, se referindo aos programas do IPTU Verde e IPTU Amarelo.

Segundo ele, a capital baiana ganha destaque na agenda ambiental ao dar o start na criação do Plano de Mitigação contra as Mudanças Climáticas: “serão muitas informações coletadas e um modelo de planejamento que poderá ser copiado por muitas outras cidades que trabalham para bater a meta do C40.”

Para o secretário executivo da organização Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei), Rodrigo Perpétuo, Salvador sai na frente porque já chega à Semana do Clima com anúncios a serem feitos.  Ele destacou, ainda, que “o  Iclei é uma instituição que irá trabalhar com Salvador,  o C40 e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para botar de pé aqui, talvez, a política de clima mais completa entre as capitais mais importantes do Brasil.”

Compromisso global

O C40 é um grupo de cidades em nível internacional criado em 2005 com o objetivo de reduzir 2,4 giga toneladas de CO2 equivalentes até 2050, o que significa zerar a emissão de carbono dessas metrópoles. Salvador compartilha desse compromisso.

Segundo a ONU, os centros urbanos abrigam cerca de 50% da população mundial, consomem 75% da energia mundial e produzem 80% dos gases que provocam o efeito estufa.

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