A Reserva Extrativista da Prainha do Canto Verde fica em Beberibe, no litoral leste do Ceará | Foto: Edilaine Moraes

Por Edilaine Moraes *

Nas últimas décadas, os debates sobre Turismo de Base Comunitária (TBC) ou Turismo Comunitário, no Brasil, têm constituído propostas alternativas aos modelos convencionais de desenvolvimento turístico, ampliando as perspectivas de transformação social e ambiental pela via do turismo.

Em pesquisa de doutorado, defendida em 2019, a partir da Teoria Ator-Rede, de Bruno Latour, foi possível rastrear os atores envolvidos e suas ações para a construção coletiva do TBC, assumindo um posicionamento em diálogo com diferentes saberes. Nesse estudo, a Rede Cearense de Turismo Comunitário (Rede Tucum), lançada oficialmente, em 2008, foi apontada como iniciativa pioneira no País.

Oitava Assembleia Geral da Rede Tucum, no Assentamento Maceió, em Itapipoca, no litoral oeste do Ceará, em novembro de 2014 | Foto: Edilaine Moraes

A importância da Rede Tucum deve-se à articulação entre diversos grupos de pescadores artesanais, etnias indígenas, agricultores familiares, camponeses, quilombolas e moradores de periferias urbanas em luta pela defesa do território tradicional e de seus direitos por meio da estratégia de fortalecimento do Turismo Comunitário.

Com mais de dez anos de história da Rede Tucum, os grupos de Turismo Comunitário estão localizados de leste a oeste na Zona Costeira Cearense, uma das regiões mais visitadas e disputadas no País. No litoral oeste, encontram-se: Tatajuba (Camocim); Curral Velho (Acaraú); Assentamento do Maceió (Itapipoca) e Caetanos de Cima (Amontada). No litoral leste, estão os grupos da Terra Indígena Lagoa da Encantada do povo Jenipapo Kanindé (Aquiraz); da Reserva Extrativista do Batoque (Aquiraz); da Reserva Extrativista da Prainha do Canto Verde (Beberibe); do Assentamento Coqueirinho (Fortim); Ponta Grossa (Icapuí); Quilombo do Cumbe (Aracati); Vila da Volta (Aracati); Praia de Requenguela (Icapuí); e Comunidade Córrego do Sal (Icapuí).

Artesanato na Nona Assembleia Geral da Rede Tucum, na Terra Indígena Jenipapo Kanindé, em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) | Foto: Edilaine Moraes

A Rede Tucum possui ainda três grupos de apoio: o Centro de Formação, Capacitação e Pesquisa Frei Humberto do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST (Fortaleza); a Pousada Tremembé (Icapuí); e a Vila dos Poetas (Maranguape), além de contar com a assessoria institucional do Instituto Terramar (Fortaleza) e da Associação Caiçara de Promoção Humana (Icapuí).

Essa diversidade surge a partir de sabedorias, histórias, naturezas e culturas enraizadas localmente, que compõem o processo de construção do turismo comunitário norteado pela organização de grupos diretamente responsáveis pelo planejamento das atividades e pela gestão das infraestruturas e dos serviços turísticos, por meio de projetos coletivos e de base familiar.

Essa prática tem sido desenvolvida de modo integrado à dinâmica produtiva local, como a pesca e a agricultura, orientando relações comerciais e de intercâmbio, com base na ética e na solidariedade, para a geração e a distribuição equitativa da renda e a valorização da produção, da cultura e das identidades locais.

Décima Assembleia Anual da Rede Tucum, em Tatajuba, município de Camocim, no litoral oeste do Ceará, em novembro de 2016 | Foto: Edilaine Moraes

O perfil diferenciado dos turistas e visitantes responsáveis busca conhecer e vivenciar experiências que permitem o convívio e intercâmbio com as culturas locais e populares, apoiando projetos locais e se voluntariando nas atividades cotidianas das comunidades visitadas.

O trabalho em rede tem sido um processo em expansão em experiências de TBC, sobretudo por essa prática ainda ser desvalorizada em políticas públicas. Vale destacar, ainda, que, no interior do Ceará, identifica-se a iniciativa de TBC da Fundação Casa Grande Memorial do Homem Kariri, localizada na cidade de Nova Olinda.

Além disso, no Nordeste, reconhece-se a recém-criada Rede de Turismo Comunitário da Bahia (Rede Batuc), bem como a articulação nacional do TBC promovida por meio da Rede Brasileira de Turismo Solidário e Comunitário (Rede Turisol).

* Edilaine Moraes é professora adjunta do Departamento de Turismo do Instituto de Ciências Humanas da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); pesquisadora com formação interdisciplinar, é bacharel em Turismo pela UFJF, mestre e doutora pelo Programa EICOS de Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Acesse o artigo completo da tese de doutorado

Edilaine Albertino de Moraes, Marta de Azevedo Irving, Rosa Maria Leite Ribeiro Pedro e Elizabeth Oliveira. Turismo de base comunitária à luz da teoria ator-rede: novos caminhos investigativos no contexto brasileiro. Revista Crítica de Ciências Sociais, 122|2020. URL: http://journals.openedition.org/rccs/10761

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