Por Géssika Costa *
Em fevereiro de 2018, rachaduras começaram a surgir, inicialmente, apenas nas casas de moradores do bairro do Pinheiro, em Maceió. Pouco tempo depois, um tremor de terra sentido não só no Pinheiro como em outros bairros adjacentes trouxe um cenário ainda mais desolador sobre o que estaria por vir. Após o abalo sísmico, mais casas começaram a rachar e a Defesa Civi de Maceió e outros órgãos locais e nacionais começaram um plano de evacuação emergencial na área próxima ao campo do CSA, time de futebol de Alagoas.
Em maio de 2019, o grito entalado na garganta de todos os moradores finalmente pode ser dado, quando o CPRM, Serviço Geológico do Brasil, confirmou a causa: cinco bairros da capital alagoana (Pinheiro, Mutange, Bom Parto, Bebedouro e Farol) estavam afundando devido à ganância da mineradora Braskem e a cumplicidade das autoridades e órgãos (in)competentes que deixaram que a empresa escavasse poços subterrâneos em busca de sal-gema em área urbana.
À época, acompanhei a reunião entre a CPRM, moradores e autoridades locais pela TV e, pelas redes sociais, os relatos. O choro de cada morador, que finalmente confirmava a origem do que estava acontecendo, foi uma das cenas mais sensíveis que já vi na vida.
Cerca de 60 mil pessoas foram expulsas de suas casas de 2018 para os dias atuais, na mesma medida que o adoecimento mental, a tristeza, o trauma e a expectativa sobre o amanhã incerto atravessaram suas vidas.
No solo da pirâmide do poder, moradores. Do outro lado, uma empresa multinacional do ramo da petroquímica de atuação global nas indústrias da química e do plástico, bilionária, dona de um patrimônio de quase R$ 15 bilhões. Desde então, a sensação de quem está do lado mais vulnerável é que a justiça não será feita.
Não há quem não fique sufocado diante de tantos problemas que a Braskem causou à cidade e aos seus moradores. Essas áreas, que antes eram povoadas por famílias, agora estão abandonadas e se tornaram verdadeiros bairros fantasmas. É como se uma bomba tivesse sido jogada em cinco bairros e não restasse mais nada. Aliás, só as lembranças.
Sobre o que restou, digo mais: não é infundada a comparação com o Chernobyl. Assim como o que aconteceu na União Soviética, muita gente foi morrendo aos poucos após o crime. A morte, neste caso, é física, mas é também de alma. A pichação em um dos imóveis desocupados no bairro do Pinheiro: “Enquanto eu dormia, cavavam minha cova no fundo do meu peito” expressa bem o que todos os afetados devem sentir: uma imensa dor!
* Fundadora do Olhos Jornalismo, site de jornalismo independente de Alagoas, atualmente é coordenadora de projetos da Associação de Jornalismo Digital (Ajor)