Galhos secos emolduram a imagem com parte de uma cisterna à esquerda. No canto inferior direito, em primeiro plano, uma cabra malhada voltada para a direita, olhando no sentido do rebanho ao fundo; e um cabrito próximo à cisterna, voltado para a direita, de cor predominantemente caramelo
As cisternas garantem segurança hídrica para milhares de famílias no Semiárido durante os períodos de estiagem | Foto: Maristela Crispim

Por Alice Sales
Colaboradora

Orós – CE.  A Campanha Tenho Sede, viabilizada pela Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), levará acesso à água por meio de cisternas de 16 mil litros para 20 famílias dos dez estados de clima Semiárido, todos os do Nordeste e mais Minas Gerais, no Sudeste. Este quantitativo prevê água adequada ao consumo humano para 150 pessoas durante o período de até oito meses.

Considera este conteúdo relevante? Apoie a Eco Nordeste e fortaleça o jornalismo de soluções independente e colaborativo!

A cisterna de placas é uma Tecnologia Social de Convivência com o Semiárido que garante água própria para o consumo humano, poupa tempo e esforço físico, além de ser útil na produção de alimentos. A tecnologia minimiza estatísticas relacionadas à fome e, segundo a Pesquisa VigiSAN (Vigilância da Segurança Alimentar e Nutricional), da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), dobrou nos lares sem acesso à água, saindo de quase 23% para quase 46%. 

A agricultora e porta-voz da Campanha Tenho Sede, Josefa Querino, do Semiárido pernambucano, conquistou uma cisterna em 2003 e comemora os benefícios na produção alimentar. “Quando chove é muito bom porque, além da água da cisterna, nós vamos plantar um pé de coentro, uma fava, um jerimum. Dalí, a gente tira para o consumo”, explica. 

Ao todo, nessa primeira fase da Campanha, duas famílias de cada um dos Estados contemplados serão beneficiadas com a tecnologia, que será custeada com recursos já arrecadados pelo projeto. No Ceará, as duas cisternas serão construídas, no município de Orós, mais precisamente na comunidade Tabuleiro. A implementação encontra-se na fase de compra de materiais para a construção das cisternas de 16 mil litros. 

O Instituto Elo Amigo, organização sem fins lucrativos, com sede em Iguatu, será responsável por executar o projeto e construir as cisternas em Orós. Na última semana, a equipe técnica da organização também ficou encarregada de visitar, mapear e identificar as famílias que mais careciam da tecnologia. Em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Orós, com a Comissão Municipal de Convivência com o Semiárido e com a participação popular, a comunidade esteve reunida para esse primeiro momento antes da implantação.

“A comunidade de Tabuleiro  abriga seis famílias. Situa-se próxima ao Açude de Orós, mas, em decorrência do longo período de seca dos últimos anos, apresenta muita dificuldade de ter água potável para consumo humano. Em toda a comunidade só há duas cisternas que abastecem essas famílias”, destacou  Marcos Jacinto, coordenador executivo da ASA pelo Estado do Ceará.   

A dona Damiana da Silva foi uma das duas pessoas escolhidas para receber a construção da cisterna em sua propriedade, na comunidade Tabuleiro. Sua família de pequenos produtores planta milho e feijão e, segundo ela, o acesso à água na região tem sido bem difícil. “Estamos muito felizes e agradecidos com a cisterna. O Açude de Orós depende de muita chuva para encher e a água da chuva é mais limpa quando o açude está com pouco volume”, detalha. 

Os critérios para a escolha das famílias foram os mesmos adotados pelo Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que levam em conta a condição de vulnerabilidade social e econômica das famílias beneficiadas. Neste perfil, se enquadram condições como morar na zona rural, não ter acesso à água encanada, estar em condição de extrema pobreza e ser uma família chefiada por mulher, por exemplo. À medida em que preenche a maior quantidade de critérios, a família ganha  prioridade na seleção. Esta avaliação é feita em meio às reuniões das Comissões Municipais da ASA, com base nos dados sociais das famílias.

Capacitações

Além da implementação das cisternas, a Campanha investe em formações em Gestão dos Recursos Hídricos para as comunidades. As capacitações tratam da importância da água como recurso finito, que necessita de uma boa gestão para otimizar o uso e evitar o desperdício. Esta conscientização é importante para auxiliar no manejo racional da água para tornar a cisterna suficiente para suprir necessidades da família, como saciar a sede e cozinhar para a família, ao longo de oito meses. Existem cisternas maiores, de 52 mil litros, para auxiliar também pequenas produções.

Dificuldades

Apesar da eficiência da tecnologia, o acesso às cisternas, no Semiárido brasileiro, precisa ser ampliado. Em 2021, o Programa Cisternas, principal política de acesso à água para as famílias rurais do Semiárido, atingiu o número mais baixo de implementações, contando  apenas 4,3 mil tecnologias, executando um orçamento de aproximadamente R$ 29.050.462,15, segundo cálculos da ASA. A demanda da região é de mais 1 milhão de cisternas. O cenário revela o longo caminho que a Campanha Tenho Sede tem que percorrer.

Para doar

Você também pode contribuir com recursos para ampliar o número de implementações. É importante garantir doações regulares, que garantem os custos da campanha e os valores a serem investidos na obra. Para se tornar um(a) doador(a) acesse:  tenhosede.org.br

Sem Comentários ainda

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

Pular para o conteúdo