Reconhecida pela Unesco como uma das 37 regiões naturais do Planeta, a Mata Branca é fonte para múltiplas atividades econômicas voltadas para fins farmacêuticos, cosméticos, químicos, industriais, alimentícios e agrossilvopastoris | Foto: Eduardo Queiroz

Por Alice Sales / Maristela Crispim
Colaboradora / Editora

Sertanejos mais antigos contam que, para proteger-se do sol escaldante, as plantas resolveram fingir-se de mortas, assumindo a aparência de galhos e arbustos secos e acinzentados. Desta forma, enganariam o sol durante o período de estiagem para que ele não fosse tão severo com elas a ponto de matá-las. Assim surgiu a Caatinga, a floresta que, na ausência de chuvas, finge estar morta. Por trás de uma floresta de galhos e arbustos secos, porém, há uma rica Biodiversidade. Basta caírem as primeiras gotas de chuva para que, do dia para a noite, a Mata Branca se converta em um verde vigoroso, resultado de sua resiliência e capacidade de adaptar-se as intempéries do sertão.

Em comemoração ao Dia Nacional da Caatinga, neste 28 de abril, a Agência Eco Nordeste lança uma campanha pela valorização deste bioma que é único no Brasil e no mundo. Experiências com características de Empreendedorismo, Inovação e Sustentabilidade; em ações individuais, coletivas; públicas e privadas terão destaque na campanha Ecos do Bioma Caatinga,com ações em redes sociais, matérias e reportagens especiais. A ideia é noticiar iniciativas que, ao mesmo tempo, atuem no desenvolvimento da região e na conservação do bioma, sua maior fonte de riquezas.

Um dos cernes da campanha é conscientizar e promover a conservação da Caatinga que, apesar de biodiversa, é severamente prejudicada pelas ações humanas. Segundo Lucas Moura, agente de Educação Ambiental da Organização Não-Governamental (ONG) Associação Caatinga, com atuação no Ceará e no Piauí, as principais vulnerabilidades do bioma estão ligadas ao desmatamento, queimadas, destruição de habitats naturais das espécies, que, por consequência, agravam problemas relacionados às Mudanças Climáticas.

Para Moura, outro grande desafio é o estigma de uma floresta pobre ou pouco diversa, associada à imagem da seca. “Quando conhecemos algo a fundo, tendemos a valorizar mais. É importante mostrar para as pessoas que a Caatinga vai além desse estigma, sendo uma floresta exuberante, única, e que presta tantos serviços ambientais para a nossa região, daí a importância de se pensar no Dia Nacional da Caatinga”, reflete.

Divulgar informações sobre o bioma e tornar sua rica Biodiversidade e suas características cada vez mais conhecidas pela sociedade é um passo importante para a sua conservação, como aponta Adriano Batista, diretor executivo da Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel), que atua no Ceará e no Rio Grande do Norte: “A Caatinga é um tema que devia ser amplamente debatido nas escolas, uma vez que as novas gerações são muito mais envolvidas e comprometidas com a preservação do meio ambiente. Ações que buscam fortalecer o entendimento da população sobre a preservação do bioma são necessárias e importantes. Nesse sentido, a Agência Eco Nordeste está de parabéns pela iniciativa de lançar esta campanha”.

A Assessoria de Comunicação da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), que atua nos nove estados do Nordeste e no Norte de Minas Gerais, também ressalta, na voz da jornalista Verônica Pragana, a importância de ações que valorizem e disponibilizem informações sobre a Caatinga: “Iniciativas que estimulam, por meio do reconhecimento, as atividades de preservação da Caatinga são sempre bem-vindas e necessárias. A divulgação destas ações também é um aspecto muito importante para ampliar as possibilidades de apoio e sustentação do trabalho desenvolvido para cuidar da natureza, dos recursos naturais e das pessoas que vivem na Caatinga”.

A escritora e consultora em Sustentabilidade Magda Maya destaca que o bioma Caatinga é adaptado à região semiárida, uma anomalia climática e, nesse aspecto, é muito importante por fornecer condições de vida e habitabilidade. “Não fosse por ele, provavelmente teríamos um deserto. Sua vegetação é muito inteligente, e faz o possível para se manter viva”, completa.

Para ela, o principal desafio é o econômico: “As pessoas não entendem o valor da Caatinga, que é uma floresta. Num cenário de Mudanças Climáticas, com tendência ao aumento da aridez, a ciência tem muito a aprender com esse bioma, que já é naturalmente adaptado a um ambiente hostil, de escassez hídrica”.

Sobre a campanha, ela enfatiza: “É fundamental e necessária. As pessoas precisam reconhecer o seu valor e saber que existe muita vida e biomassa, fauna, flora, mecanismos de adaptação, resistência, resiliência. A Agência Eco Nordeste trazer notoriedade para esse tema é de grande relevância para enxergar de outra maneira esse bioma, com um olhar diferenciado também para aqueles que são capazes de conviver com ele”.

A princípio, instituições como a Associação Caatinga, Adel, ASA Brasil e Instituto Nacional do Semiárido (Insa) apoiam a campanha Ecos do Bioma Caatinga e vão colaborar nesta missão de valorizar as ações de preservação. Para participar, contar a sua história, da sua instituição, é só se comunicar com a Agência Eco Nordeste, por e-mail ou pelas redes sociais.

A floresta exclusivamente brasileira

A Caatinga, que em tupi quer dizer Mata Branca, é o bioma característico do Semiárido brasileiro, região que ocupa 12% do País, uma área aproximada de 1,03 milhão de Km², e que abrange todo o Nordeste e o norte de Minas Gerais. Cerca de 27 milhões de brasileiros (as), aproximadamente 12% da população brasileira, vivem na região.

Possui 932 espécies de plantas, 148 de mamíferos e 510 de aves, sendo que muitas destas espécies ocorrem somente na Caatinga. Estima-se que o bioma possua mais de 800.00 Km² de extensão, aproximadamente, sendo o terceiro mais degradado, depois da Mata Atlântica e do Cerrado.

Reconhecida pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como uma das 37 regiões naturais do Planeta, a Mata Branca é fonte para múltiplas atividades econômicas voltadas para fins farmacêuticos, cosméticos, químicos, industriais, alimentícios e agrossilvopastoris.

“Caracterizada por uma rica biodiversidade, possui alto grau de endemismo. Cerca de 15% de seus animais e um terço de suas plantas são espécies exclusivas, uma riqueza biológica que não pode ser encontrada em nenhuma outra parte do mundo. Por se formar em uma região semiárida, sua flora é composta por plantas adaptadas à pouca água, denominadas xerófilas”, explica Adriano Batista.

Serviço

O que: Lançamento da campanha ‘Ecos do Bioma Caatinga’
Quando: 28 de abril (Dia Nacional da Caatinga)
Sugestões de pautas: contato@agenciaeconordeste.com.br

2 Comentários
  1. Muito interessante essa abordagem, de fato uma vegetação com essa capacidade de adaptação pode ser a salvação do planeta em tempos de imprevisibilidade climática.

    1. É isso, Angela. As experiências de convivência acumuladas por aqui devem ser valorizadas e servir de inspiração. Obrigada pelo feedback!

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