Acompanhada por filhos e sobrinhos, cacique Pequena subiu ao palco, no museu da tribo, na Reserva Lagoa da Encantada, para apresentar canções autorais do seu disco “Beleza da Vida” | Foto: Filipe Pereira

 

Por Alice Sales

Colaboradora

 

Aquiraz. Música, cultura e manifesto marcaram a noite da última sexta-feira (25), durante o espetáculo “Resistência da Vida”, liderado pela Mestre da Cultura cacique Pequena, da Tribo Jenipapo-Kanindé, situada no município de Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

Acompanhada por filhos e sobrinhos, cacique Pequena subiu ao palco, no museu da tribo, na Reserva Lagoa da Encantada, para apresentar canções autorais do seu disco “Beleza da Vida”, lançado no ano de 2016. O evento também foi um momento de articulação política para abordar o contexto atual dos povos indígenas no Brasil e deu início à uma turnê de shows-manifestos que percorrerá por outras tribos indígenas do Ceará.

Durante o evento, Juliana Alves, uma das 19 filhas e filhos da Cacique Pequena, ressaltou que os shows-manifestos refletem sobre as lutas por sobrevivência, respeito e demarcação de terras do seu povo e, têm como grande objetivo sensibilizar e mobilizar toda a sociedade cearense para que os povos indígenas permaneçam com seus direitos garantidos e que “mais nenhuma gota de sangue indígena seja derramada”.

Na ocasião, cacique Pequena deixou um apelo para as autoridades do País: “Desejo para os povos indígenas de todo o mundo que os nossos governantes saibam trabalhar com o nosso povo. Precisamos de paz e harmonia. Que as crianças indígenas que estão vindo ao mundo sejam felizes. Que os governantes olhem para o nosso povo com um olhar de amor e não com um olhar de destruição”.

O canto de resistência da Pequena

Tudo começou há cerca de dez anos, quando a cacique Pequena improvisava letras e melodias enquanto andava pelas matas e interagia com a natureza. “Aos poucos, fui fazendo umas músicas no pensamento. Essas músicas ficaram na minha memória e fui escrevendo”, recorda. Assim, o CD “Beleza da Vida” foi se tornando um sonho real para a cacique Pequena. A obra de sua autoria retrata o cotidiano, a cultura e as lutas de seu povo, além de exaltar a natureza que envolve a tribo Jenipapo-Kanindé.

“Tive a natureza como inspiração para a maioria das minhas músicas. Sempre que saía para a mata, me vinha a inspiração para cantar e compor. A natureza é tudo para o meu povo”, ressalta. Em 2013, com apoio de edital da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) e de ajudas de amigos, conseguiu-se gravar o CD “Beleza da vida”, finalizado em 2016.

Primeira mulher cacique no Brasil

Líder da tribo indígena Jenipapo-Kanindé desde o ano de 1995, Pequena foi a primeira mulher a se tornar cacique no Brasil. No ano de 2016, recebeu o título de Mestre da Cultura pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). Durante sua trajetória de lutas, a líder articulou políticas públicas que levaram à sua tribo escola, Centro de Referência de Assistência Social, museu, posto de saúde, pousada, energia elétrica e casa de farinha.

Símbolo de força e resistência, cacique Pequena fala sobre ser mulher e líder nos dias de hoje: “Me vejo como uma mulher talentosa que teve coragem de fazer tudo pelo seu povo. Ser mulher e líder indígena no Brasil atualmente é algo muito difícil. Encontramos muita dificuldade, passamos por muitas provações e desafios, mas é preciso ter fé e coragem para ir mais além. Venho tentando não deixar que nada seja impossível para mim”.

Identidade

Para Gilvan Santana, secretário executivo de Cultura de Aquiraz, a tribo Jenipapo-Kanindé é o cartão-postal do Município, além de ser a comunidade indígena que possui maior destaque de articulação política no Ceará. “A cacique Pequena é um tesouro vivo e representa muito bem a nossa cultura. Onde ela vai, leva nossa identidade para que seja conhecida por todos”, destaca.

O secretário pondera que ainda há distância entre a população e a tribo, mas que a Secretaria de Cultura de Aquiraz tem dado uma atenção especial aos Jenipapo-Kanindé para estreitar os laços entre a comunidade indígena e o município e assim tornar a sua cultura cada vez mais acessível.

Turnê

O evento vai ao encontro de outros povos indígenas do Ceará, que também recebem o show-manifesto:

  • Tapeba, em Caucaia (9/2)
  • Pitaguary, em Pacatuba (23/2)
  • Kanindé de Aratuba (16/3)

A turnê é uma realização da Associação das Mulheres Indígenas Jenipapo-Kanindé e conta com o apoio da Secult e da Secretaria de Cultura de Aquiraz. Os shows são todos gratuitos e abertos ao público.

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