Pesquisadores orientam novas áreas de coleta para planta aquática exclusiva da Caatinga

Por Karen Lima
Nema / Univasf

Anamaria heterophyll, planta aquática exclusiva da Caatinga | Foto: José Alves Siqueira Filho / Herbário Vale do São Francisco (HVASF)

O reconhecimento de áreas ambientalmente adequadas à sobrevivência e reprodução de espécies endêmicas, raras e ameaçadas de extinção é fundamental para a ampliação do conhecimento sobre a história natural desses taxons, podendo ter implicações sobre a conservação da biodiversidade.

Nesse contexto, o Núcleo de Ecologia e Monitoramento Ambiental (Nema) da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) tem promovido estudos voltados à avaliação da distribuição geográfica dessas espécies da Caatinga. Os principais achados de um desses estudos foram publicados recentemente na Revista Oecologia Australis sobre a espécie Anamaria heterophyll.

Intitulado “Modeling the Potencial Distribuition of Anamaria heterophylla (Giul. & V.C.Souza) V.C.Souza (Plantaginaceae) in the Caatinga“, o artigo avalia as condições ambientais adequadas para a sobrevivência de A. heterophylla na Caatinga e indica habitats com condições ambientais semelhantes aos dos locais de ocorrência conhecidos para a espécie.

Além disso, prospecta Áreas Protegidas – APs (Protected Areas) e Áreas Prioritárias para Conservação da Caatinga – PACCS (Priority Areas for the Conservation of the Caatinga) que apresentam condições ambientais favoráveis para a sua ocorrência, mesmo que não haja registro confirmado.

O estudo é de autoria dos biólogos Renato Garcia Rodrigues, coordenador do Nema; Edson Gomes de Moura-Júnior; Erica da Silva Nascimento Freitas; e Fellipe Alves Ozorio do Nascimento.

Durante as pesquisas, foram coletados dados de ocorrência da espécie e obtidas camadas (formato raster) de dezenas de variáveis ambientais, disponíveis em plataformas virtuais. A partir da otimização desses dados com as camadas ambientais, utilizando-se de ferramentas computacionais, os autores obtiveram o modelo de distribuição geográfica potencial da espécie.

Conforme o modelo computado, foi indicado que a espécie ocorre em ambientes aquáticos efêmeros (principalmente em lagoas intermitentes do Semiárido) e ecologicamente vulneráveis e ainda apresenta ajuste para a sobrevivência em ambientes com alta aridez e poucas chuvas.

O modelo de distribuição indicou três manchas com alto índice de adequação ambiental para a espécie: no oeste do Estado do Ceará; entre o norte da Bahia e oeste de Pernambuco; e entre a região central dos estados do Rio Grande Norte e Paraíba. Essas manchas contemplaram nove áreas de proteção da rede de PAs e PACCs.

De acordo com os autores, essas descobertas orientam inicialmente os esforços de coleta para a espécie (visto que, até o presente momento, há apenas 26 registros conhecidos para o taxon). Posteriormente poderão, em uma perspectiva sistemática, apoiar ações relacionadas à seleção de áreas importantes para a conservação da biodiversidade na Caatinga ou valorização daquelas áreas que já existem.

“Tomadas de decisões sobre valoração e seleção dessas áreas requer avaliações que envolvam geoprocessamento, ecologia da paisagem e biogeografia de tantas espécies quanto possível. Com isso, é importante a necessidade de continuidade das pesquisas sobre distribuição geográfica potencial de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção na Caatinga”, enfatiza o pesquisador do Nema e um dos autores, Edson Moura.

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