Pesquisa revela 131 espécies no Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio

A Lanceta-azul ou Peixe cirurgião azul (Acanthurus coeruleus) é um parente próxima da “Dory” da animação “Procurando Nemo” . Abaixo, observa-se o Paru-jandaia ou Ciliaris (Holacanthus ciliares) | Foto: Labomar/UFC

Uma pesquisa oriunda de parceria entre o Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade de São Paulo (USP) revelou aspectos importantes sobre o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio. Distante 10 milhas náuticas (cerca de 18 Km) do Porto do Mucuripe, em Fortaleza, o Parque é a única unidade de conservação totalmente marinha do Ceará.

Tendo como foco os peixes, a pesquisa registrou a ocorrência de 131 espécies na área do Parque, cuja profundidade varia de 17 a 30 metros. Do total de espécies, seis são endêmicas das águas brasileiras, ou seja, só ocorrem no Brasil, e 13 estão presentes em listas nacionais e internacionais de espécies ameaçadas.

As outras 112 espécies são também fundamentais para o funcionamento saudável do ecossistema e representam, junto com as outras, uma grande riqueza de espécies para a área do Parque, conforme explica um dos autores do estudo, João Eduardo Pereira de Freitas, egresso do Doutorado em Ciências Marinhas Tropicais do Labomar e pesquisador do Laboratório de Evolução e Conservação de Vertebrados Marinhos do Departamento de Biologia da UFC.

Além de listar as espécies que ocorrem na área, os pesquisadores também descobriram que a fauna de peixes muda em diferentes locais dentro do Parque. Essa importante informação ecológica pode auxiliar a administração do equipamento a determinar zonas de gestão diferenciadas e, consequentemente, melhorar a eficiência na conservação da área como um todo.

Ameaças à conservação

A pesquisa alerta que, apesar de ter sido constatada grande diversidade de peixes dentro da área protegida, não significa que as populações dessas espécies tenham sobrevivência garantida em médio ou longo prazo. Isso porque várias delas, em diferentes fases de seu ciclo de vida, utilizam ambientes que estão fora de unidades de conservação e vêm sofrendo diferentes níveis de impacto.

Por exemplo, os peixes cióba (Lutjanus analis) e dentão (Lutjanus jocu), ambos parentes próximos do popular pargo, foram vistos no Parque somente na fase adulta. Os exemplares juvenis dessas espécies são normalmente encontrados em estuários, bancos de plantas marinhas e piscinas naturais de recifes costeiros.

“Dessa forma, proteger somente um ambiente e apenas uma fase do ciclo de vida dessas espécies não garantirá a sobrevivência delas no futuro. Estratégias de gestão conhecidas como ‘redes de unidades de conservação’, que visam conservar diferentes ambientes conectados biologicamente, podem ser um dos caminhos na difícil tarefa de preservar parte de nossa biodiversidade marinha”, explica Eduardo Freitas.

Pesquisa desafiadora

Pesquisador coleta de dados no Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio | Foto: Labomar / UFC

Por ser uma Unidade de Conservação, onde o mínimo impacto ambiental é sempre desejado, o estudo exigiu dos pesquisadores, além do conhecimento acadêmico, treinamento em técnicas avançadas de mergulho autônomo (utilizando cilindros de ar comprimido) e familiaridade com equipamentos de fotografia subaquática.

Aplicando uma metodologia de mínimo impacto ambiental, denominada “censo visual”, que vem sendo utilizada com sucesso no Brasil e em outros países, foi possível identificar as espécies e coletar outras informações biológicas no ambiente natural (entre 16 e 28 metros de profundidade).

Antes do desenvolvimento da metodologia de censo visual, para obter dados semelhantes, era necessário capturar um grande número de animais com o auxílio de diferentes instrumentos de pesca.

Os demais autores da pesquisa são Maria Elisabeth de Araújo (UFPE) e Tito Monteiro da Cruz Lotufo (USP). A pesquisa foi publicada na revista Regional Studies in Marine Science e está disponível no site do periódico.

Unidades de Conservação Marinhas

Unidades de Conservação (UCs) são espaços territoriais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação. A criação UCs no ambiente marinho tem sido uma das principais estratégias adotadas mundialmente para contrapor ao acelerado processo de degradação dos ecossistemas oceânicos.

Mas, na maioria do casos, os objetivos de conservação que motivam a criação dessas UCs não são alcançados em sua plenitude. Dificuldades logísticas de pesquisar, monitorar e fiscalizar os ambientes marinhos juntamente com a carência de recursos financeiros e humanos estão entre as principais dificuldades enfrentadas na gestão de UCs marinhas.

O objetivo da pesquisa no Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio foi exatamente amenizar a carência de estudos na única Unidade de Conservação totalmente marinha do Estado do Ceará.

Com informações da Agência UFC

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