Pequeno tamanduaí terá ações para conservação ampliadas no Nordeste

Mamífero pequeno de focinho comprido, pelo marrom, unhas grandes. O animal está sobre o galho de uma árvore

O tamanduaí é o menor tamanduá do mundo e terá projeto de conservação apoiado pelo Programa Petrobras Socioambiental | Foto: Flávia Miranda

O tamanduaí (Cyclopes didactylus) é um mamífero que mede cerca de 20 centímetros, e chega a pesar apenas 300 gramas. A espécie é considerada o menor tamanduá do mundo e um dos mais antigos por existir no planeta há cerca de 33 milhões de anos. No Brasil, esse pequeno mamífero, que sofre pressões pela perda de seus habitats,  ocorre na região nordeste da Floresta Amazônica e na Mata Atlântica do Nordeste, como no Piauí e no Maranhão. Com o apoio do Programa Petrobras Socioambiental, o projeto na “Rota do Tamanduaí”, idealizado pelo Instituto Tamanduá, agora terá mais condições de fomentar ações para a proteção da espécie no Nordeste brasileiro.

Isso porque a iniciativa foi uma das 17 entre os projetos socioambientais com atuação no Nordeste contemplados pela seleção pública do edital Petrobras Socioambiental divulgada no último mês. Ao todo, 31 novos projetos socioambientais foram contemplados nesta primeira fase da seleção, que abrange oportunidades nos estados do Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sergipe. O Programa Petrobras Socioambiental busca fomentar temas relevantes para a sociedade e apoiar iniciativas que contribuam para o alcance dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) que integram a Agenda 2030.

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Neste ano, o número de inscrições chegou a 414 projetos não incentivados e 37 projetos incentivados. Com isto, foi possível aumentar o recurso destinado à primeira etapa, de R$ 162 milhões para R$ 212 milhões, e aumentar o número de projetos contemplados, dos 23 previstos inicialmente para 31 projetos. 

De acordo com Flávia Miranda, veterinária e responsável pelo projeto contemplado “Na Rota do Tamanduaí”, esta é a primeira vez que a iniciativa é selecionada pelo edital Petrobras Socioambiental, em 18 anos de existência do Instituto Tamanduá. Com o aporte financeiro conquistado será possível ampliar a área de atuação da iniciativa, que atualmente está presente no Piauí e chegar ao Maranhão.

Vamos fazer um trabalho de educação ambiental voltado principalmente para a primeira infância. Ele contempla medidas mitigatórias de desmatamento de mangues, e o tamanduá, a preguiça e o tatu serão espécies símbolos dessas iniciativas”, revela. 

Transformação Socioambiental

Segundo José Maria Rangel, gerente executivo de Responsabilidade Social da Petrobras, “foi feito um investimento em iniciativas que têm um grande potencial de transformação socioambiental, ao trazer melhoria na qualidade de vida, na inclusão social, na conservação do meio ambiente e no enfrentamento das mudanças climáticas, e reafirmar o compromisso com as comunidades”

O processo de seleção dos projetos contou com a participação de representantes de organizações da sociedade civil, academia e poder público, além de diversas áreas da Petrobras, que busca incluir especialistas que são referência em suas áreas e representantes dos diversos territórios contemplados pelas iniciativas.

Após a divulgação dos projetos aprovados, durante solenidade no Rio de Janeiro (RJ), com a presença de lideranças da Petrobras e representantes dos trabalhos selecionados, as iniciativas passarão pela análise de risco de integridade realizada conforme critérios utilizados pela Petrobras e por uma etapa de ajustes para atender aos padrões de prestação de contas técnica e financeira da Petrobras e, em seguida, serão contratados. A estimativa é de que as atividades comecem a partir de 2024.

Rangel detalha que, para ser selecionado, cada projeto passa por um comitê técnico formado por dez gerentes executivos destinados a avaliar a iniciativa e acrescenta: “É um processo de governança muito forte. Estamos revisando a nossa política de responsabilidade social e queremos incorporar outros temas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, como os que contemplam a segurança alimentar e a agricultura familiar. Para as próximas seleções também vamos querer trabalhar com temas relacionados à transição energética justa para acrescentar à nossa carteira de projetos”.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, pontuou que as iniciativas contempladas vão contribuir efetivamente para conseguirmos um futuro mais sustentável. “Acreditamos que as comunidades impactadas por esses projetos são a base de um desenvolvimento autêntico e duradouro”, adicionou durante a cerimônia.

Fernando Lima, representante do Projeto Onde a Onça Bebe Água, idealizado pela Fundação Pró Natureza (Funatura), conta que esta é a quarta vez que sua organização concorre ao edital, mas que só agora pôde comemorar a aprovação. “Sempre foi uma meta nossa aprovar um projeto no Programa Petrobras Socioambiental. Dessa vez decidimos ler melhor o edital, estudá-lo. Tudo o que eles têm interesse em trabalhar está ali no edital. É importante ler bastante primeiro para depois escrever o projeto. Também demos uma atenção maior para as ações de comunicação, fizemos um plano de comunicação muito bem feito e estivemos atentos a detalhes, como o interesse que a Petrobras tem em inovação e o encadeamento dos objetivos, metas, resultados e indicadores”, detalha.

Dentre as iniciativas aprovadas que atuam no Ceará, está o Projeto Dignidade para Infância, idealizado pela instituição O Pequeno Nazareno, em Fortaleza. Manoel Torquato de Souza, representante da organização, relembra que a instituição já atua há 30 anos em atendimento a pessoas em situação de rua, sobretudo crianças e adolescentes. As ações cobrem as áreas social, educacional, psicológica e profissionalizante e, com o apoio do Petrobras Socioambiental, devem expandir para outras 11 cidades situadas na região Nordeste e Norte. “A expectativa é que a organização possa atender mais 10 mil pessoas,  a maioria adolescentes grávidas e famílias que perderam algum parente para a violência”, ressalta.

Um grupo de pessoas com quatro mulheres e cinco homens reunidos em pé, lado a lado, enquanto seguram juntos um cartaz com os dizeres: Parabéns, seu projeto foi aprovado no primeiro edital de projetos da Seleção Pública 2023, nas linhas de atuação do programa Petrobrás Socioambiental. Acima deles há um telão com os dizeres: Linha de atuação - Florestas

Representantes dos projetos contemplados pelo edital, durante a cerimônia de divulgação | Foto: Bruno de Castro

Convivência com o Semiárido

O trabalho do Centro de Estudos do Trabalho e de Assessoria ao Trabalhador e à Trabalhadora (Cetra), também do Ceará, teve o Projeto Floresta de Alimentos selecionado. O Cetra atua na perspectiva da recuperação ambiental por meio das tecnologias sociais de convivência com o Semiárido em comunidades rurais.  “Com o aporte da Petrobras, pretendemos trabalhar de forma mais enfática na implantação de sistemas agroflorestais, com vistas ao processo  de recuperação de áreas degradadas e criação de corredores ecológicos. Vislumbramos trabalhar com todos os princípios da agrosociobiodiversidade e direcionar ações para valorizar a sabedoria ancestral que passa entre as mulheres dessas famílias atendidas”, destaca Luís Eduardo Fernandes, representante da organização. 

Mais proteção para as tartarugas

Fundado em 2013, a partir do pedido dos pescadores artesanais do município de Barroquinha (CE), que sentiam falta de uma organização que cuidasse de tartarugas marinhas encalhadas na região, o Projeto Faunamar é mais um dos que contarão com o apoio da Petrobras pelos próximos anos. “O Litoral do Ceará é considerado uma importante área de alimentação e reprodução de tartarugas marinhas. Com o apoio da Petrobras, vamos intensificar as nossas ações de pesquisas para compreender melhor como elas utilizam esse espaço, monitorar as redes para evitar a pesca acidental e faremos um trabalho de sensibilização com os pescadores. Também vamos trabalhar com o peixe-boi marinho”, ressaltou Kesley Paiva, liderança do projeto Faunamar.

As tartarugas marinhas também são protagonistas do Projeto Tartarugas do Delta, inscrito pelo Instituto Tartarugas do Delta. “Realizamos atividades no Delta do Parnaíba desde 2006. A partir daí fazemos o monitoramento das praias e ações voltadas para a conservação de tartarugas-marinhas no Delta do Parnaíba. A partir desses esforços, essa região do Delta do Parnaíba passou a ser reconhecida nacionalmente como área relevante para a conservação de espécies de tartarugas-marinhas. Agora, com o apoio da Petrobras, será possível fortalecer o monitoramento de praia que já realizamos, mas também os trabalhos de desenvolvimento social por meio de atores locais como os pescadores e condutores de turismo. Dentro das ações que pretendemos realizar, estão educação ambiental e desenvolvimento social, conservação ambiental e economia circular”, destacou Verlane Magalhães, bióloga e representante do Instituto. 

Está prevista para outubro de 2023 uma segunda rodada da seleção, também abrangendo projetos nas linhas de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Educação, Florestas e Oceano, além de um edital para projetos de Educação com incentivo fiscal pela Lei Federal de Incentivo ao Esporte. Desta vez serão divulgados os projetos selecionados para a região Sudeste.

Confira a lista com todas as iniciativas selecionadas.

* A Jornalista viajou ao Rio de Janeiro a convite da Petrobras

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