Oficina de fotografia volta olhares à conservação de aves limícolas na Bacia Potiguar

Por Alice Sales
Colaboradora

Galinhos / Guamaré / Macau – RN. A Bacia Potiguar, também conhecida como Costa Branca, está localizada na porção setentrional do estado do Rio Grande do Norte. Sua paisagem natural com presença de vegetação de caatinga, restinga, manguezal, além de lodaçais, dunas, falésias, estuários e praias arenosas. A complexa rede de habitats, a alta biodiversidade e a posição geográfica da Bacia Potiguar garantem às aves limícolas e migratórias um local ideal para descanso e alimentação.

Com o intuito de promover Educação Ambiental voltada para a conservação dessas aves e dos ecossistemas que lhes servem de refúgio, a Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (Save Brasil) em parceria com a Agência de Desenvolvimento Econômico Local (Adel) e o Instituto Neoenergia, promoveu diversas atividades interativas em comemoração ao Dia Mundial do Meio Ambiente, com destaque para uma oficina de fotografia voltada para jovens, com foco nas aves limícolas e  migratórias, na Bacia Potiguar. A atividade foi desenvolvida nos municípios de Galinhos, Guamaré e Macau, no Rio Grande do Norte.

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Durante a oficina, os jovens participantes foram instruídos sobre a importância da fotografia de aves e ambiental com uma atividade prática nos mangues da região, além de serem  apresentados aos conceitos de fotografia, introdução e evolução fotográfica, composições básicas e demonstração de programas e aplicativos para edição de imagens e montagem de portfólios.

“A ideia era despertar junto com eles outros olhares para o território. Foi fantástica a troca de conhecimento, saberes e as percepções que a atividade disparou. A fotografia inquieta as pessoas, é capaz de criar outras narrativas. Acreditamos que ela é capaz de mobilizar e aproximar as pessoas das aves e de seus habitats. Além do Rio Grande do Norte, estamos realizando outras ações de comunicação com a Save no Maranhão e no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul. Os resultados esperados desse nosso trabalho de comunicação junto com a Save é assegurar a conservação das aves limícolas e seus habitats no Brasil”, destaca Evilene Abreu, diretora de Comunicação Adel.

De acordo com Juliana Bosi, Gerente de Projetos da Save Brasil, o objetivo é mostrar para toda a comunidade a beleza dessas aves, ensinar sobre sua história, seu ciclo de vida e suas adaptações para vencer os desafios trazidos por essas longas viagens. “Acreditamos que com esse conhecimento, poderemos ver nascer nas pessoas o orgulho por compartilharem com as aves uma região tão importante e bonita, a responsabilidade por cuidar do ambiente que elas precisam e a vontade de encontrar soluções para que as atividades locais sejam compatíveis com a conservação das aves limícolas”.

A ação desperta atenção também para o grande papel da sociedade na conservação, não só das aves limícolas, mas do meio ambiente como um todo. “As comunidades podem fazer a diferença de diversas formas, incluindo ações do dia-a-dia. Entender que as aves precisam de espaço e tranquilidade para descansar e se alimentar é um primeiro passo. As aves viajam até cinco dias sem parar para comer ou dormir e, quando chegam nas nossas praias, precisam se sentir seguras para comer e se recuperar“, ressalta Juliana Bosi.

A gerente à frente dos quatro projetos da Save Brasil voltados para conservação de aves limícolas enfatiza que muitas vezes esse espaço coincide com praias frequentadas pela população. Neste caso, é importante evitar levar animais domésticos para a praia, ou se for preciso levar, mantê-los em coleiras/guias. Além disso, a orientação é não dirigir ao longo da praia, onde as aves estão se alimentando. Isso faz com que o bando fique voando e não consiga descansar nem comer. Outras atividades turísticas, como o kitesurf, também devem ser direcionadas a áreas que não sejam importantes para a alimentação dessas aves. 

Aves Limícolas na Bacia Potiguar

De acordo com os dados levantados pela Save Brasil, por meio do Projeto Flyways Brasil, a Bacia Potiguar é um importante local para as aves limícolas migratórias manterem seu ciclo de vida. Todos os anos, centenas de aves migram longas distâncias até chegarem à região em busca de repouso e alimento para que consigam seguir sua viagem. Segundo um levantamento realizado pelo projeto, entre os meses de novembro e dezembro de 2020, foram observadas cerca de 3 mil aves, um número considerado significativo se comparado a outras regiões do País que também fazem parte das rotas migratórias dessas aves.

Contudo, pesquisadores chamam atenção para o declínio populacional que as aves vêm sofrendo ao longo dos últimos anos em todo o mundo. As principais causas são as perturbações que atrapalham seu descanso e degradação ambiental dos habitats utilizados por elas. De acordo João Paulo Damasceno, coordenador do Projeto Flyways Brasil, muitas das ameaças estão relacionadas à perda de habitat para expansão urbana, perturbação por atividades humanas como veículos na praia e animais domésticos soltos, poluição, atropelamentos e colisões com estruturas lineares quando o planejamento destas não consideram os movimentos das aves, tais como linhas de transmissão de energia elétrica e torres eólicas instaladas próximas a áreas de descanso e/ou alimentação. 

Das 22 espécies que ocorrem na Bacia Potiguar, quatro se encontram na Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção, de acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA): o maçarico-rasteirinho, o maçarico-de-costas-brancas, o maçarico-de-papo-vermelho e a batuíra-bicuda.

“Nessa semana a lista foi atualizada pela portaria MMA Nº 148 de 1º de junho de 2022. Todas essas espécies citadas continuam na lista de fauna ameaçada, e mais uma espécie migratória encontrada na Bacia Potiguar foi incluída, o maçarico-de-bico-torto (Numenius hudsonicus). Apesar de as outras espécies não serem consideradas ameaçadas de extinção, as populações de aves limícolas migratórias que chegam ao Brasil diminuíram em média 50% desde 1970”, informa Bosi. 

Ações de Conservação

O Projeto Flyways Brasil é uma iniciativa da Save Brasil, em parceria com o Instituto Neoenergia. O projeto faz parte do Programa Aves Limícolas da Save Brasil. Como objetivos principais, a iniciativa realiza  monitoramento de espécies de aves limícolas na Bacia Potiguar e promove o engajamento das comunidades locais na conservação das aves limícolas e de seus habitats.

“O projeto busca também mostrar para as comunidades e autoridades locais como a área é importante para essas aves, como as aves e suas migrações são incríveis, e como eles podem compatibilizar o uso com a conservação dos ambientes e das aves”, ressalta Juliana Bosi.

Além disso, a iniciativa realiza oficinas com educadores e estudantes da rede básica de ensino, a fim de informar a população local sobre a importância de contribuir para conservação das aves e de seus habitats. Também desenvolve atividades ambientais contextualizadas com os diferentes públicos locais, o que inclui empreendimentos hoteleiros, salinas, órgãos municipais de meio ambiente, além das organizações comunitárias.

A Save Brasil é uma ONG que há mais de 15 anos trabalha com foco na conservação das aves brasileiras. Representa no Brasil a aliança BirdLife International, presente em mais de 115 países. A organização atua de maneira participativa, elabora e implementa estratégias e ações de conservação com organizações locais e nacionais, órgãos governamentais, empresas, líderes comunitários, pesquisadores e pessoas. Atua hoje em nove estados brasileiros, com diversos projetos de conservação da biodiversidade e de engajamento de pessoas.

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