Mancha de óleo nos litorais do Nordeste afetam Unidades de Conservação

  • Por Alice Sales
    Colaboradora

Substância já alcançou as praias do trecho leste do Parque Nacional de Jericoacoara  | Foto: Nalu Maia Dias

Fortaleza – CE. Uma grande quantidade de óleo que se espalha pelos mares de todo o Nordeste, nos últimos dias, tem sido motivo de preocupação e alerta. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a substância, que passou por análises da Marinha do Brasil e da Petrobras, é petróleo cru, mas ainda não se sabe a origem do despejo que atingiu o litoral nordestino. Os registros apontam que foram atingidas localidades dos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Alagoas, Maranhão, Sergipe e Ceará.

No Ceará, praias de Fortaleza e dos municípios de Beberibe, Cascavel, Aquiraz, Paracuru, Trairi, São Gonçalo do Amarante e Jijoca de Jericoacoara já possuem registros da presença do petróleo cru no mar. Em análise feita pela Petrobras, a empresa informou que o óleo encontrado não é produzido pelo Brasil. O Ibama requisitou apoio da empresa para atuar na limpeza de praias. Nos próximos dias, a ela irá disponibilizar um contingente de cerca de 100 pessoas.

Um agravante torna a situação ainda mais alarmante: o óleo está afetando, inclusive,  Unidades de Conservação, como é o caso do Parque Nacional de Jericoacoara, no litoral oeste do Ceará. “O óleo está se espalhando. Por enquanto a substancia foi vista no leste do Parque Nacional, no trecho que vai de antes do Serrote até a Praia da Malhada. Antes disso, já tinha chegado no Delta do Parnaíba e nos Lençóis Maranhenses. A Rota das Emoções está toda comprometida, a Área de Proteção Ambiental da Costa dos Corais, em Pernambuco, também foi atingida. Não são poucas as Unidades de Conservação afetadas por essa situação”, ressalta Jerônimo Martins, chefe da unidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no Parque Nacional de Jericoacoara.

Como consequência do ocorrido, a fauna também está sendo severamente prejudicada. Há pelo menos dez registros de encalhes e mortes de animais encontrados oleados no litoral nordestino, entre tartarugas marinhas e aves costeiras. No Ceará, foi encontrada uma tartaruga marinha coberta pela substância em Jericoacoara e outra na praia de Sabiaguaba, em Fortaleza, além de uma ave conhecida popularmente como bobo- pequeno (Puffinus puffinu), encontrada na praia de Cumbuco, em Caucaia.

Segundo ambientalistas, as manchas oleosas podem prejudicar também a desova das tartarugas e cadeia alimentar dos animais: “Se a mancha chega à areia da praia e a desova começa a acontecer com essa substância presente, ela pode passar para os ovos”, explica Alice Frota, uma das coordenadoras do Grupo de Estudos e Articulações Sobre Tartarugas Marinhas (GTAR), do Instituto Verdeluz. Segundo ela, os ovos respiram o oxigênio de fora para dentro nos primeiros dias, portanto, é possível que algum tipo de composto volátil entre e os inviabilize ou contamine de alguma forma.

Além disso, a ambientalista alerta sobre a cadeia alimentar dos animais: “os ovos também são fonte de alimento para outros animais silvestres. É toda uma sequencia de problemas”.

As ações para remediar o problema estão sendo coordenadas pelo Ibama com apoio da Marinha do Brasil e da Petrobrás. Segundo Miller Holanda, analista ambiental do Ibama que está atuando no caso, as ações até agora tomadas fazem parte do plano de ação articulado com a Diretoria de Defesa Ambiental, em Brasília.

Limpeza do ambiente será proporcional ao tempo de estabilização da situação. Recomenda-se à população não se aproximar do produto | Foto: Giovanni Pacelli

“O trabalho agora é de monitoramento, limpeza e proteção da faixa costeira. Estamos passando orientações a todos e fazendo o trabalho de coordenação”, destaca.  Holanda afirmou que 100% dos municípios do litoral serão visitados. “Até mesmo para deixar orientações básicas”, esclareceu. Será uma ação integrada e multidisciplinar com participação de vários órgãos e entidades.

Segundo ele, a limpeza do ambiente será proporcional ao tempo de estabilização da situação. Recomenda-se à população não se aproximar do produto. No caso de encontrar animais atingidos contatar os órgãos ambientais locais.

Iniciativa dos órgãos competentes

Para discutir o assunto, o titular da Secretaria do Meio Ambiente (Sema), Artur Bruno, se reuniu, na manhã de última quarta-feira (25), em seu gabinete, com técnicos de diversos órgãos públicos e do terceiro setor. A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) está disponibilizando viaturas para coletar e receber animais oleados e encaminhar para a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), a fim de identificar e estabilizar os mesmos.

Alguns materiais estão sendo analisados nos laboratórios da Universidade de Fortaleza (Unifor) e do Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec). Mas a Semace e Ibama vão coletar materiais e juntos trabalhar na busca de um diagnóstico referente aos poluentes. “Estamos planejando utilizar o helicóptero da Semace e fazer um sobrevoo, nesta semana”, informou Carlos Alberto Mendes, superintendente do órgão. “Vamos usar ainda dois drones para investigar a questão no litoral mais próximo da praia”, encerra. Serão coletados materiais do solo e da água de todos os municípios litorâneos.

Ao final da reunião, o secretário Artur Bruno informou que toda a operação e informações serão centralizadas no Ibama, com o apoio total da Sema, Semace e demais órgãos. “Institucionalmente, o Ibama vai coordenar o processo e acionar os parceiros sempre que precisar”, afirmou Bruno. Também ficou encaminhado que o Batalhão de Polícia do Meio Ambiente e Batalhão de Policiamento Turístico serão capacitados pelo Instituto Verdeluz sobre a questão do atendimento ao socorro dos animais afetados pelos poluentes.

Serviço

Em caso de encontrar animais oleados entrar em contato com:

Aquasis – CE
(85) 3113-2137 / (85) 9 9800 –0109
Ciops: 193

Instituto Amares – MA
(98) 9 8836-1717
(98) 9 8120-1281

Instituto Tartarugas do Delta – PI

(86) 9 9968-0197 | (86) 9 9939-4760
(86) 9 8809-6450 | (86) 9 9975-5380

Comissão Ilha Ativa – PI
(86) 9 9407-1824 | (86) 9 8134–2001

Projeto Cetáceos da Costa Branca (RN até Icapuí – CE)
(84) 9 8843–4621
(84) 9 9943-0058

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