Expedição Coral Vivo Royal Charlotte inicia mapeamento inédito para a ciência

Por Mercia Ribeiro Anselmo
Projeto Coral Vivo

A Expedição Coral Vivo Royal Charlotte realizou seu mapeamento biológico preliminar, em julho, durante dez dias | Foto: Projeto Coral Vivo

Canavieiras / Porto Seguro (BA).Banco Royal Charlotte ainda era pouco conhecido cientificamente, em relação à biodiversidade marinha da região. Mas a Expedição Coral Vivo Royal Charlotte realizou seu mapeamento biológico preliminar, em julho, durante dez dias. Agora, os pesquisadores da Rede de Pesquisas Coral Vivo acabaram de analisar o conjunto de imagens e compilar os dados, com a coordenação do professor Paulo Sumida, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).

A análise dos ambientes e levantamento faunístico foi feito por meio de lançamentos de câmeras de vídeo em caixas estanques em 67 pontos. “A partir das imagens, fizemos a caracterização dos ambientes e observamos um recife de coral, florestas de macroalgas e prevalência em 83% dos pontos amostrados com bancos de rodolitos. Percebemos que a região sofre os efeitos das mudanças climáticas, com várias colônias do coral-jaca (Montastraea cavernosa) apresentando o grau máximo de branqueamento nesse recife de coral encontrado durante a nossa Expedição, a 37 metros de profundidade”, informa o oceanógrafo Miguel Mies, que é coordenador de Pesquisas do Projeto Coral Vivo, patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

Ele ressalta que a Expedição Coral Vivo Royal Charlotte teve um caráter preliminar somente exploratório, e que o Banco Royal Charlotte tem cerca de 9 mil km². “Pelas informações de pescadores da região que relatam a presença de pescados, como badejos e lagostas, é bem provável que a área tenha também chapeirões, recifes afogados, buracas e outras feições geológicas típicas da plataforma continental do Sul da Bahia. É possível que seja mais uma área de grande biodiversidade marinha na costa brasileira. Portanto, muitas perguntas ainda permanecem sem resposta, e expedições adicionais são bem-vindas e necessárias”, avalia Mies.

A Expedição teve a liderança do bolsista de pesquisa do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fábio Negrão, que é coordenador do Reef Check Bahia e colaborador voluntário do Coral Vivo. Participaram também a bióloga e coordenadora regional de Sensibilização e Comunicação, Thais Melo, e o coordenador regional de Pesquisas do Projeto Coral Vivo, Carlos Henrique Lacerda.

“Tomamos todos os cuidados de segurança para a saúde dos envolvidos, que fizeram testes de Covid-19 e ficaram em isolamento total por 15 dias. Durante a estada no catamarã, foram seguidos todos os protocolos e todos se mantiveram saudáveis semanas após a Expedição”, destaca a coordenadora geral do Projeto Coral Vivo, a oceanógrafa Flávia Guebert.

Criado equipamento para registrar as imagens

Foi desenvolvido um equipamento de filmagem especial para as primeiras prospecções científicas da Expedição, e o banco de imagens produzido por essa iniciativa inédita fornecerá subsídios para a visão ampliada do Banco Royal Charlotte. O conjunto recebeu uma caixa estanque especialmente confeccionada para resistir até os 200m de profundidade, e que chegou a ser lançado a 145m durante esse trabalho de campo. Fábio Negrão foi o responsável por criá-lo, e o design e a montagem do equipamento foi uma parceria do Coral Vivo com o divemaster Galdi Valentim, de Caravelas (BA).

Banco Royal Charlotte

Localizado entre Canavieiras e Porto Seguro, ao norte do Banco dos Abrolhos, o Banco Royal Charlotte é um alargamento da plataforma continental. Ele tem aproximadamente 100km de extensão, uma profundidade que varia entre 70m e 3.000m, abrigando rica biodiversidade marinha, sendo comuns grandes peixes, como atuns e marlins. Esse mapeamento iniciado pela Expedição Coral Vivo Royal Charlotte é uma ação prioritária do Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos (PAN Corais).

Esse documento de pactuação entre diferentes atores institucionais tem a coordenação executiva do Instituto Coral Vivo e a coordenação geral do Cepsul/ICMBio, e será concluído em 2021. Embora a atividade pesqueira de moderada intensidade seja relatada na área, sua fauna é inteiramente desconhecida para a ciência. As poucas informações científicas disponíveis para o Banco Royal Charlotte contemplam apenas as correntes marinhas e origens geológicas.

A análise dos ambientes e levantamento faunístico foi feito por meio de lançamentos de câmeras de vídeo em caixas estanques em 67 pontos | Foto: Projeto Coral Vivo

Projeto Coral Vivo

O Projeto Coral Vivo nasceu no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e é realizado por 14 universidades e instituições de pesquisa. Trabalha para a conservação e a sustentabilidade socioambiental dos recifes de coral e ambientes coralíneos. Ele é um dos seis projetos ambientais que compõem a Rede de Projetos de Conservação de Biodiversidade Marinha (Biomar), criada em 2007 pela Petrobras em parceria com o ICMBio e projetos patrocinados. São eles: o Projeto Albatroz, o Projeto Baleia Jubarte, o Projeto Coral Vivo, o Projeto Golfinho Rotador, o Projeto Meros do Brasil e o Projeto Tamar.

Mais informações: www.coralvivo.org.br

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