Coleção de aves brasileiras é transferida para o Museu de História Nacional do Ceará

Por Alice Sales
Colaboradora

A Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) é uma das raras peças da coleção. A espécie, endêmica do Nordeste brasileiro, é considerada atualmente como extinta da natureza | Foto: Alice Sales

Pacoti – CE. Uma coleção de aves brasileiras taxidermizadas, ou seja, empalhadas para fins científicos, foi transferida para o recém-inaugurado Museu de História Natural do Ceará Professor Dias da Rocha, com sede em Pacoti.  A Solenidade de transferência da coleção foi realizada na noite do último dia 30, na Estação Ecológica da Universidade Estadual do Ceará (Uece), instituição gestora do Museu, durante a programação do 3° Censo do Periquito Cara-Suja na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra de Baturité.

O acervo, que contém mais de 250 espécies de fauna ornitológica, foi formado com o apoio do naturalista Roberto Otoch, quando realizava pesquisas científicas no Departamento de Biologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) e esteve até o ano de 2009 sob a posse do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Nos últimos dez anos, a coleção esteve sob a guarda da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) e agora encontra-se no Museu de História Natural do Ceará.

O evento é considerado um marco para a comunidade científica que pesquisa sobre aves. A ideia é que a coleção sirva de base para diversas pesquisas realizadas pelo Museu e para dar subsídio à formação de pesquisadores e estudantes de todo o mundo que se engajem em estudos no âmbito da Ornitologia.

Segundo Weber Girão, biólogo da Aquasis que esteve envolvido na formação dessa coleção, até meados do Século XIX apenas missões estrangeiras tinham coleções como essa no Brasil. Entretanto, as cerca de quatro mil aves obtidas pelos brasileiros não foram estudadas em sua plenitude. Várias coleções foram iniciadas no Ceará, mas quase sempre tiveram destinos trágicos.

“Por exemplo, o acervo formado por uma missão alemã na década de 1930 foi pelos ares na Segunda Guerra Mundial, após um bombardeio ao museu onde se encontrava. Entre essas coleções, a do professor Dias da Rocha teve uma parte resgatada, apesar de graves perdas”, explica.  Pare ele, adicionar coleções a este acervo é uma forma de não lamentar os dissabores do passado.

O exemplar mais antigo supera 33 anos desde sua taxidermia. Coleções como essa são consideradas uma importante ferramenta no processo de conservação e pesquisas aprofundadas sobre as espécies, podendo servir como base para estudos genéticos de aves que, inclusive, já foram extintas da natureza. A prática de taxidermia tem garantido a permanência de exemplares como o espécime do psitacídeo Marianinha-de-Cabeça-Preta (Pionites melanocephala), tombado no Museu de Viena desde a primeira metade do Século XVIII.

Na ocasião da Solenidade de entrega da coleção estiveram presentes Gláucia Posso, diretora do Centro de Ciências da Saúde da Uece; os pesquisadores do Museu Nacional, Renata Stopiglia e Marcos Raposo; e o naturalista Roberto Otoch.

Museu de História Natural do Ceará

Sob gestão da Uece, o Museu de História Natural é local de pesquisa e de exposições em diálogo com o Museu Nacional. O equipamento tem sede no Campus Experimental de Educação Ambiental e Ecologia de Pacoti da Uece, na Serra de Baturité, em prédio cedido pela Fundação Educacional Deusmar Queiroz.

A criação do Museu é uma iniciativa pioneira do Centro de Ciências da Saúde da Uece, fruto da parceria com o Museu Nacional e apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).

Censo do Periquito Cara-suja

Realizado anualmente desde 2017 como inciativa da Aquasis, o Censo do Periquito Cara-Suja tem como intuito elucidar a dinâmica da taxa de sobrevivência, além de mensurar tendências populacionais, assim como o impacto dos ninhos artificiais instalados na APA da Serra do Baturité, como ferramenta aliada à conservação. Além disso, o evento funciona como uma estratégia para engajar a comunidade local e estudantes.

Neste ano, o Censo contabilizou 675 indivíduos da espécie na região, mostrando que, pouco a pouco, a população da ave cresce, saindo dos riscos de extinção.
Mais de 150 pessoas estiveram envolvidas nos três dias de atividades que contaram com palestras, treinamentos, observação e contagem simultânea das aves.

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