Por Alice Sales
(Colaboradora)
A Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis) brinda, neste 2019, as suas bodas de prata de trabalhos em prol da conservação do meio ambiente no Estado do Ceará. Durante essa trajetória de 25 anos de muitos desafios e conquistas, a ONG dedica-se à preservação de espécies da fauna do nordeste brasileiro que estão ameaçadas de extinção, em especial à Biodiversidade do Ceará.
Tudo começou quando, em 7 de abril de 1992, um grupo de estudantes da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Universidade Estadual do Ceará (Uece) se uniu para pôr em prática o conhecimento acadêmico adquirido, formando o Grupo de Estudos de Cetáceos do Ceará (GECC). Além disso, havia uma preocupação por parte dos jovens sobre atentar para a situação da vida marinha, que já naquele tempo, sofria pressões e precisava de cuidados. Dois anos depois, essa união de estudantes dispostos a dedicar conhecimentos e esforços ao meio ambiente resultou na fundação da Aquasis.
Fábio Nunes, biólogo e coordenador do Projeto Periquito Cara-Suja, atua na instituição há 9 anos e reflete sobre o trabalho realizado na ONG: “Somos representantes de espécies ameaçadas de extinção que estão tendo seus direitos de existir negados pelas ações humanas, e preservar esses seres vivos e seus ambientes é preservar a própria existência do homem. Para mim é uma honra ter uma parcela na história dessa instituição que me proporcionou trabalhar com o que eu amo e me permite contribuir com um mundo melhor, por meio da preservação da natureza”.
Atualmente, a ONG conta com três frentes de atuação:
- Programa de Mamíferos Marinhos (PMM)
- Programa de Aves (Paves)
- Núcleo de Educação Ambiental (NEA)
Reabilitação de Mamíferos Marinhos
Dentro do Programa de Mamíferos Marinhos, o Projeto Manatí ganha destaque, contando, pela terceira vez, com patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental, que viabiliza ações que vão desde o monitoramento de praias ao resgate de mamíferos marinhos encalhados na costa cearense, com mais de 950 animais atendidos ao longo desses anos.
O programa também conta, desde 2001, com um Centro de Reabilitação de Mamíferos Marinhos (CRMM) em parceria com o Serviço Social do Comércio no Ceará (Sesc-CE), que foi expandido em 2012 e se tornou um local de referência na América Latina para atender uma das espécies mais ameaçadas de extinção do Brasil, o peixe-boi marinho.
Atualmente, o Centro de Reabilitação encontra-se com 16 animais, sendo nove deles em fase final de reabilitação, preparando-se para serem reintroduzidos na natureza, outro marco histórico para o Ceará.
Proteção das Aves
O Programa de Aves está subdividido em três vertentes:
- Projeto Periquito Cara-Suja
- Projeto Soldadinho-do-Araripe
- Projeto Aves Migratórias do Nordeste
Baseado em Guaramiranga, no Maciço do Baturité, o Projeto Periquito Cara-Suja atende uma ave exclusivamente nordestina que vinha tendo drásticas perdas em sua população por causa do tráfico de animais silvestres e desmatamento.
Graças aos esforços dos biólogos envolvidos na instalação de caixas-ninho, porém, mais de 400 filhotes nasceram para elevar o número de indivíduos no Ceará. O sucesso dessa iniciativa inovadora rendeu à Aquasis diversos prêmios nacionais e internacionais, e fez o Periquito Cara-Suja sair da categoria de Criticamente Ameaçado de Extinção para Ameaçado de Extinção.
O Projeto Soldadinho-do-Araripe nasceu em 2003, na Chapada do Araripe, com o intuito de evitar a extinção global de uma espécie endêmica do Ceará, que dá nome ao projeto. Em 1996, quando a espécie foi descoberta por um ornitólogo, que hoje é pesquisador da Aquasis, já havia o risco de deixar de existir totalmente na natureza.
Ao longo de 15 anos de atividade, o projeto encabeçou um Plano de Conservação do Soldadinho-do-Araripe, publicado em 2006, que deu origem a um Plano de Ação Nacional que encontra-se em sua segunda edição, vigente até 2021. Assim, foi possível desenvolver protocolos de produção de espécies para restauração florestal e plantio de mais de quinze mil mudas, além do manejo de levadas (canais d’água) para irrigação de matas habitadas pelo pássaro. Sem falar no árduo processo de educação ambiental que consagrou a espécie como ícone regional do Cariri.
Já no Projeto Aves Migratórias do Nordeste, também contemplado neste ano com o patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental, são realizados o monitoramento e ações de conservação para proteger as aves migratórias e residentes que utilizam o litoral do Ceará para descanso e alimentação ao longo da sua rota Atlântica.
Muitas dessas aves, como o Maçarico-do-Papo-Vermelho, estão ameaçadas de extinção, principalmente pela ocupação humana desordenada que destrói importantes áreas de alimentação e descanso para a espécie ao longo da sua rota migratória rumo ao sul do País. Os pesquisadores do projeto vêm contribuindo ainda com a execução do Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves Limícolas.
Educação Ambiental
O Núcleo de Educação Ambiental, por meio do Projeto Brigada da Natureza, realizado em parceria com o Sesc e com patrocínio da Enel, seleciona alunos de escolas públicas de Iparana, no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), buscando instruí-los com informações sobre sustentabilidade e conservação dos recursos naturais, atividades práticas ligadas à reciclagem, agricultura orgânica, Biologia da Conservação e geração de renda.