Foto aérea colorida de ilha de vegetação de cerrado em meio a plantação de soja sob céu azul ao longe no horizonte coberto de nuvens
Sustentabilidade será desafio do hub da Embrapa no maior território agrícola do País | Foto: Camila de Almeida

Composto por extensas áreas de Cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o Matopiba se mantém como a maior e mais promissora fronteira agrícola do Brasil desde quando oficializado pelo governo federal, em 2015 .  Produz grãos e fibras, em especial soja, milho e algodão. Falta, no entanto, o desenvolvimento tecnológico para a produção com sustentabilidade e inclusão. Preencher essa lacuna é a pretensão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que anunciou recentemente a criação do Hub Matopiba.

O hub será formado pelos quatro centros de pesquisa da Embrapa nos estados que integram o Matopiba, além de outras sete unidades da estatal. O projeto reunindo 11 unidades do braço de pesquisa do Ministério da Agricultura e Pecuária terá Balsas (MA) como sede.

O Hub Matopiba, segundo a Embrapa,  resulta de uma articulação com instituições governamentais, membros do agronegócio, empresas de consultoria, entidades e associações, produtores rurais e conta com a parceria do Sindicato dos Produtores Rurais de Balsas (SindiBalsas) e da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (AproSoja Maranhão). Por meio dessa articulação estão sendo discutidas estratégias para a implantação e definição dos arranjos de pesquisas, desenvolvimento e gestão que unifiquem as agendas das 11 unidades. 

Vinculada à Embrapa Cocais, a Unidade de Execução de Pesquisa (UEP) Balsas estará localizada no coração da região do Matopiba, por ser ponto estratégico em relação ao modal logístico pela presença do Porto de Itaqui (segundo maior destino da soja exportada pelo País, atrás apenas do Porto de Santos) e ferrovias para escoamento da produção. No passado, a localização estratégica da UEP permitiu a expansão na região da agricultura na segunda metade dos anos 1980. A ideia é que Balsas sirva como um ponto de apoio para ampliar a atuação em todos os estados do Matopiba, sem se restringir apenas ao Maranhão.

Foto aérea colorida de ponte sobre rio turvo e barrento ladeado por casas e vegetação arbustiva sob uma pequena faixa de céu cinzento
Balsas, maior município do território do Matopiba no Maranhão, receberá hub do agronegócio | Foto: Camila de Almeida

O chefe-geral da Embrapa Cocais, Marco Bomfim, ressalta que o trabalho da Embrapa nesse território resultou na produção de sementes básicas e na adaptação de tecnologias de manejo desenvolvidas em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para a realidade local. Esse processo ganhou impulso com a instalação da indústria de insumos na região.

“Consideramos que esse primeiro ciclo foi cumprido, tendo impulsionado significativamente o agronegócio. Agora, surgem novos desafios, como o avanço em áreas marginais. Atualmente, existe um grande programa de recuperação de áreas degradadas, uma vez que as terras mais férteis já foram ocupadas e incorporadas ao setor produtivo. O foco agora é avançar nessas áreas de menor fertilidade, o que demanda tecnologias específicas para a recuperação dessas regiões degradadas”, explica.

Bonfim destaca ainda que é possível dobrar a produção do País sem desmatar mais nenhum hectare, com aproveitamento de áreas já abertas e degradadas pela pecuária: “Essa abordagem é especialmente relevante considerando a pressão por sustentabilidade, especialmente na região do Arco Norte, próxima à Amazônia. Existe uma expectativa, tanto da sociedade brasileira quanto da comunidade global, de que possamos garantir a sustentabilidade dessa produção, assegurando que os recursos naturais permaneçam estáveis ao longo do tempo para as próximas gerações. Além disso, é importante reduzir o uso de insumos químicos, buscando alternativas como o controle biológico. Esses novos desafios levaram a Embrapa a fortalecer sua presença no território, atuando em várias frentes”.

Para Bonfim, a intervenção da Embrapa junto ao Hub Matopiba tem como objetivo reverter algumas questões relacionadas à sustentabilidade para fortalecer a produção de grãos de maneira menos impactante do ponto de vista socioambiental. Ele destaca que os produtores de grãos já adotam técnicas conservacionistas, como o uso de palhada e o plantio direto, que evitam o revolvimento do solo. Além disso, começam a incorporar práticas biológicas. No entanto, a proposta é intensificar essas práticas e garantir que a expansão da região seja realizada com base em princípios sustentáveis, que integrem cada vez mais tecnologia.

Um dos eixos principais deste trabalho é o estudo do uso e ordenamento da terra, que busca identificar áreas adequadas para expansão com respeito ás áreas de preservação. Além disso, é importante destacar a inclusão da agricultura familiar nesse cenário. Embora o movimento financeiro esteja muito relacionado à agricultura de escala e às commodities, mais de 80% dos produtores da região são da agricultura familiar. “Por isso, é essencial engajá-los nesse processo, garantindo que suas necessidades e práticas também sejam consideradas nas estratégias de desenvolvimento do Matopiba”.

A Embrapa pretende implementar ações voltadas para o desenvolvimento de comunidades e associações com foco na produção de alimentos, especialmente mandioca e fruticultura, dentro de sistemas agroflorestais. Essa abordagem também incluirá práticas capitalistas que possibilitem a esses produtores abastecer as cidades. “Na medida em que as cidades crescem e seus PIBs aumentam, há uma maior demanda por produtos locais, o que pode resultar em uma distribuição de renda mais equilibrada, com alimentos frescos e diversificados chegando às mesas dos centros urbanos da região”, destaca. 

Além disso, o trabalho inclui instituições de ciência e tecnologia do Estado, assim como universidades, que também contribuem para a formação e o desenvolvimento de soluções que atendam às necessidades da agricultura na região. Essa abordagem integrada visa garantir que as ações da Embrapa e de seus parceiros sejam sempre alinhadas com os desafios e as realidades enfrentadas na linha de frente.

Uma delas é a Universidade Estadual do Maranhão (Uema), que possui um campus em Balsas, com foco em temas relacionados ao meio ambiente, incluindo um mestrado nessa área. Outra importante parceria é com o Instituto Federal do Maranhão (IFMA), especificamente o campus de São Raimundo das Mangabeiras, que está localizado a cerca de 80 km de Balsas e tem uma forte ênfase em agricultura.

“Considero fundamental que as práticas agrícolas, especialmente no âmbito do grande agronegócio, se tornem cada vez mais sustentáveis. Além disso, é importante destacar que um dos pilares desse trabalho é a inteligência, que deve ser aplicada para garantir que o desenvolvimento da agricultura não comprometa os recursos naturais e a biodiversidade da região”, finaliza Bonfim. 

As unidades da Embrapa que colaboram com esse esforço de implantação do Hub Matopiba são: Embrapa Cocais, Agricultura Digital, Algodão, Arroz e Feijão, Cerrados, Mandioca e Fruticultura, Meio Ambiente, Meio Norte, Milho e Sorgo, Soja e Embrapa Solos.

Projeto ma.to.pi.ba.

Este conteúdo faz parte do Projeto ma.to.pi.ba., uma ação multimídia da Eco Nordeste, com o apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS). Com início em janeiro de 2024, traz matérias, reportagens, podcasts, webstories e newsletters que lançam sobre a região do Matopiba um olhar para além do agronegócio. Ao mesmo tempo em que aborda os problemas socioambientais, a iniciativa multimídia aponta experiências que têm dado certo na região, seguindo a linha editorial de jornalismo de soluções adotada pela Eco Nordeste.

O projeto é executado por uma equipe premiada composta pelas repórteres Alice Sales e  Camila Aguiar, com edição da jornalista Verônica Falcão e coordenação geral da jornalista Maristela Crispim. Líliam Cunha assume a Assessoria de Comunicação, Flávia P. Gurgel é responsável pelo design; Isabelli Fernandes, edição de podcasts; e Andréia Vitório faz o gerenciamento das redes sociais.

Denominado com as sílabas iniciais dos quatro estados que abrange – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia –, o Matopiba inclui 337 municípios e é apontado desde os anos 1980 como um celeiro mundial de commodities. Sobre a vegetação nativa e populações tradicionais desses três Estados do Nordeste e um do Norte avançam plantações de soja, milho e algodão.

O Matopiba tem 73 milhões de hectares em três biomas: Cerrado ( 66,5 milhões de hectares, o equivalente a 91% da área), Amazônia (5,3 milhões de hectares correspondentes a 7,3%) e Caatinga (1,2 milhão de hectares que ocupam 1,7%). Sendo reconhecida como área de franca expansão agropecuária pelo Governo Federal desde 2015, o Matopiba é uma porteira aberta para a devastação da Amazônia.

Foto colorida de área aberta com solo coberto de capim seco tendo ao fundo da imagem uma ilha de vegetação com instalações industriais sob céu de azul intenso
O Oeste da Bahia é uma das regiões que integram o território agrícola do Matopiba, em consolidação desde os anos 80 | Foto: Camila de Almeida
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